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O primeiro jogo foi uma verdadeira "guerra", mas o Paraná saiu vitorioso com o convincente placar de 2 a 0 | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
O primeiro jogo foi uma verdadeira "guerra", mas o Paraná saiu vitorioso com o convincente placar de 2 a 0| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

A primeira aventura da família Schürmann pelos sete mares foi agendada com dez anos de antecedência. Aos 25 anos, o casal Vilfredo e Heloísa Schürmann foi presenteado com uma viagem pelo Caribe. Lá, embarcaram em um veleiro pela primeira vez.

A paixão foi imediata e originou o sonho de ter um veleiro para realizar outras viagens como aquela. O casal estipulou um prazo para torná-lo realidade, com a determinação típica dos descendentes de imigrantes alemães que se instalaram em Santa Catarina, onde moram.

No dia 14 de abril de 1984, data do aniversário de dez anos do filho David, levantaram âncora. "Neste dia, deixamos de ser normais", brinca Heloísa, em depoimento no filme O Mundo em Duas Voltas – Uma Aventura da Família Schürmann, dirigido por David Schürmann, com estréia nacional prevista para o próximo dia 27.

O casal e os três filhos – Pierre, então com 15 anos, David, com 10, e Wilhelm, com 7 – embarcaram em uma viagem pelo mundo que deveria durar dois ou três anos, mas acabou se estendendo por uma década.

A prole cresceu dentro do barco e aprendeu muito mais do que as crianças que freqüentam a escola em terra firme. A mãe, que foi professora, dava-lhes aulas com um método de ensino por correspondência. Mas, o melhor aprendizado foi o dia-a-dia no mar e as experiências vividas nos mais de 30 países visitados.

Documentário

Aos 17 anos, David desembarcou na Nova Zelândia, onde graduou-se em Cinema e Televisão. Ficou por lá trabalhando como diretor até que, em 1997, voltou ao Brasil para realizar o documentário, que se tornaria seu trabalho mais significativo.

O filme narra a segunda façanha dos Schürmann sob os mares. Desta vez, a embarcação da família deixou o pequeno ancoradouro de Porto Belo, em Santa Catarina, para cumprir um itinerário bem definido: percorrer a rota do capitão português Fernão de Magalhães, que em 1519 partiu com cinco embarcações espanholas em busca de uma rota alternativa para as ilhas de especiarias. Acabou dando a volta ao mundo, e provando que a terra é redonda.

Os filhos Pierre e Wilhelm não participaram desta segunda expedição, que, no entanto, contou com uma tripulante muito especial: a pequena Kat, de 5 anos, adotada aos três anos pelo casal. A menina morreu no ano passado, aos 13 anos, devido a um problema cardíaco possivelmente causado pelo vírus do HIV, transmitido pela mãe no parto.

"Kat viveu intensamente cada dia. Na viagem, ela tinha uma energia incrível. Era sempre a primeira a acordar. Ela foi uma lição de amor incondicional", contam Vilfredo e Heloísa.

Sem ela, nem a viagem, nem o filme seriam os mesmos. Sua risadas ecoam por todo o longa-metragem, reforçando aos espectadores a noção de que aquele não é só um documentário sobre aventuras, à la Discovery Channel, mas principalmente sobre a coragem de uma família que literalmente soltou as amarras para realizar um sonho.

David registrou em película os momentos mais significativos da trajetória. Para isso, foram necessários cem rolos de filmes – o que representa mais de cem horas de gravações. "Foi doloroso escolher o que entraria no filme", conta.

Além de veleiro, o Aysso (palavra tupi que significa "elegante", "bem-feito") transformou-se em um verdadeiro set de filmagem, já que foi preciso criar uma estrutura profissional para abrigar todo o equipamento – incluindo freezers para manter os rolos usados em uma temperatura de 20 graus negativos. "O mundo digital não era o que é hoje e minha intenção sempre foi levar o filme para as salas de cinema. Além disso, a fantasia do cinema feito em película ainda faz parte do subconsciente das pessoas", diz o diretor, justificando a escolha pela bitola 16 milímetros.

Reabastecer a embarcação com rolos de negativos foi uma odisséia à parte. Foram feitas cinco paradas em aeroportos para renovar o material, que chegava do Brasil, e enviar os rolos já usados para revelação e telecinagem em Los Angeles. David teve que convencer muito segurança de alfândega que não havia nada além de filmes no interior das latas.

Mas, o esforço valeu a pena. Quase sete anos depois de ser filmada, a aventura da Família Schürmann emociona na tela grande, não só pelo visual impressionante das paisagens, mas por permitir ao espectador viajar junto, ao menos por uma hora e meia, tempo de duração do filme. "Quis fazer um documentário que envolvesse o público como um filme de ficção", conta David.

Uma das formas de fazer isso foi contar a história da viagem de Fernão de Magalhães por meio de desenhos criados pelo animador francês Laurent Cardon, que usou traços bem realistas, próximos das gravuras antigas, animados por movimentos de câmera.

Mas, nem foi preciso inventar muito para tornar o filme interessante. Em pouco tempo, o casal acostumou-se com a presença quase permanente da câmera, permitindo filmar a intimidade de seu dia-a-dia no veleiro. A facilidade dos dois para fazer amizade com povos de outras culturas permitiu a David registrar cerimônias e rituais poucas vezes divulgados.

A equipe de filmagem entrou na dança. Teve que participar da rotina do veleiro, que incluía lavar e passar. Por sua vez, a família dava palpites, sempre bem aceitos. "O mais difícil foi se acostumar com a inversão de papéis. Como diretor, David nos dizia o que fazer. Tive de aprender a obedecer", brinca Heloísa.

Uma nova aventura já está marcada para 2008, com direito a registro de David para a realização de um novo filme. Mas, a família prefere guardar segredo sobre o próximo destino. Enquanto isso, o diretor finaliza uma animação que terá a irmã Kat como protagonista.

Serrviço: Mais informações sobre o filme no site www.omundoemduasvoltas.com.br.

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