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Nem mesmo o reconhecível e popular rosto de Elijah Wood, o Frodo de O Senhor dos Anéis, convenceu os distribuidores de Uma Vida Iluminada a deixar uma cópia passar nos cinemas de Curitiba. O longa-metragem já está nas maiores locadoras da cidade, desde a semana passada. O que se deixou de ver na sala escura é um filme correto, talvez até demais, ao mesclar uma história edificante com personagens pitorescos e imagens bonitas em um road movie não apenas espacial, mas, também, espiritual.

Wood interpreta Jonathan, um jovem judeu em busca de suas origens. Ele viaja à Ucrânia querendo descobrir quem é e onde está a mulher que ajudou seu avô durante a Segunda Guerra Mundial. O rapaz é, também, um colecionador de objetos. Mais do que isso, um arquivista de memórias: munido de saquinhos plásticos, ele guarda toda a espécie de coisas (comida, terra) que remetam aos pontos altos de suas experiências.

Para auxiliar sua busca pente-fino pelo interior da ex-república soviética, Jonathan contrata uma firma especializada. A empresa se resume a um velho rabugento e seu neto Alex Perchov, o melhor personagem do filme. Interpretado por Eugene Hutz, o rapaz é símbolo de um espaço já contaminado pelo "outro lado", ao gostar daquilo que os americanos "têm de melhor" (música negra, basquete, etc). Seu cachorro leva uma das piadas mais espirituosas do filme ao receber o nome de Sammy Davis Jr. Jr., em homenagem ao ator americano. Os personagens embarcam em sua itinerância dentro de um Trabant azul-claro, símbolo da espartana indústria automobilística da Alemanha Oriental.

A condução de Liev Schreiber (ator de Denise Está Chamando), em seu primeiro trabalho de direção, é correta e sólida, principalmente no trato dos atores e caracterização dos personagens. A direção de fotografia não é tão feliz. Seduzida por produzir imagens bonitas, resvala em efeitos cromáticos que se desvinculam de qualquer jogo de encenação ou narrativa. Em conjunto com o trabalho de câmera, o efeito rende uma boa dose de planos que estão mais para a gratuidade publicitária do que para narrativa cinematográfica. A estrutura do filme, é, por sua vez, dividida em capítulos e cortada por alguns flashbacks psicanalíticos de necessidade questionável.

Os personagens pitorescos e os hábitos culturais ucranianos podem se remeter aos mundos criados pelo cineasta bósnio Emir Kusturica (Underground, A Vida é Um Milagre). O que diferencia ambos é a existência de uma linha divisória. O cinema de Kusturica tem uma perspectiva interna, uma visão viciada e integralmente pertencente à cultura que retrata, em sua alegoria desenfreada do passado recente dos Bálcãs. Em a Vida Iluminada, o ponto de vista é o do personagem, ou seja, um olhar de fora que se debruça sobre a esquisitice do outro. A exploração das diferenças torna-se o próprio motivo de trechos significativos do filme, o que, às vezes, periga desembocar em estereótipos.

Ao encontrar o que procura, Jonathan aprenderá sobre a história da Ucrânia e sobre a vida. Levará aos Estados Unidos uma lição que Alex tratará de deixar clara em uma narração em off, que gente de paladar mais radical (ou vulgar) não terá paciência para assimilar. GG1/2

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