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Estréia hoje, no Teatro do HSBC (Palácio Avenida – Av. Luiz Xavier, Centro), o premiado Soy Cuba, o Mamute Siberiano, documentário do carioca Vicente Ferraz que conta a história das filmagens e a trajetória ímpar de Sou Cuba, longa do diretor soviético Mikhail Kalatozov.

Realizada no início dos anos 60, a produção, que pretendia divulgar a revolução cubana, não foi bem recebida pela crítica e pelo público e ficou no ostracismo por 30 anos. Vicente Ferraz reuniu fotos e imagens de arquivo e colheu depoimentos de inúmeras pessoas que participaram das filmagens do épico de Zalatozov.

O resultado da empreitada lhe garantiu participações em importantes festivais internacionais, como o de Sundance (EUA), e nacionais, como o Cine PE e Gramado, onde ganhou o prêmio de melhor documentário.

Soy Cuba, o Mamute Siberiano representa mais um passo no resgate de Sou Cuba. Após o fracasso do seu lançamento em 1964, só em 90 sua trajetória seria retomada em decorrência de uma retrospectiva da obra de Kalatozov na República da Geórgia, sua terra natal. De alguma forma, o filme foi parar nas mãos de Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, que o assistiram e ficaram deslumbrados. Scorsese chegou a declarar que se tivesse visto o filme quando jovem, certamente seu cinema seria outro.

O fato é que Sou Cuba tem impressionado muitos diretores, como foi o caso de Ferraz, um de seus maiores admiradores.

"Costumo dizer que três experiências trágicas de grandes diretores que vieram filmar na América Latina acabaram tendo uma enorme influência no cinema latino-americano: Eisenstein, com Que Viva México!; Orson Welles, com It’s All True (rodado no Brasil); e o rejeitado Sou Cuba. Kalatozov imaginava que seu filme correria o mundo, divulgando a revolução, mas, quando foi lançado em Cuba e na União Soviética, foi execrado e arquivado por todo esse tempo", complementa Ferraz, que assistiu ao filme de Kalatozov pela primeira vez nos anos 80, quando estudava na escola de cinema de Santo Antonio de Los Baños, na ilha de Fidel. "Quando vi o filme, além de ter ficado fascinado, não consegui entender como uma obra tão grandiosa ficou esquecida por tanto tempo. Kalatozov realizou um épico, ficou em Cuba durante 14 meses, reuniu uma equipe de centenas de pessoas e recebeu carta branca para fazer o que fosse preciso. Chegou a mudar o curso de um rio para realizar uma cena", contou. A carta branca a qual o diretor se refere, na verdade, se deve ao fato do filme ter sido uma encomenda. Em 61, Kalatozov desembarcou em Cuba com a missão de realizar uma obra que servisse depois como peça de propaganda do regime de Fidel Castro, que tinha o apoio da União Soviética. Acabou realizando um filme com movimentos de câmera impressionantes e planos altamente inovadores. Um deles – o do enterro de um jovem revolucionário – foi considerado por críticos franceses como um dos 20 melhores da história do cinema.

O documentário de Ferraz traz depoimentos dos atores Savador Wood, Luz Maria Collazo e Sergio Corrieri; de Sasha Caltazy, assistente de Sergei Urushevski, responsável pela excelente fotografia em preto-e-branco do filme; do roteirista Enrique Pineda Barnet e até de Alfredo Guevara (na época presidente do Icaic, Instituto Cubano de Cinema), bem como de operadores de câmera, o maquinista e inúmeros técnicos.

O filme de Kalatozov foi lançado no Brasil em DVD pela Continental e pode ser encontrado nas grandes locadoras.

Hoje, explica Ferraz, passados 40 anos, Sou Cuba pode ser visto com outros olhos e seus méritos estéticos, como o impressionante trabalho de fotografia e direção, podem ser apreciados sem filtros ideológicos. GGGG

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