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 | Imagens: Reprodução/Design: Osvalter Urbinati
| Foto: Imagens: Reprodução/Design: Osvalter Urbinati
  • Capa do livro Vigor Mortis Comics, ilustrada por José Aguiar: enredo da peça de teatro Morgue Story ganhou uma extensão em graphic novel. No alto da página, páginas internas da revista, desenhadas por DW Ribatski.

Prestes a completar 30 anos de existência, a Gibiteca passa por uma fase de transição. "Estamos vivendo um momento singular e promissor. As pessoas estão entendendo o valor da Gibiteca, e representantes de importantes cargos políticos estão reconhecendo o papel da produção dos artistas locais que surgiram ali. São trabalhos excepcionais, com relevância nacional e abrangência que chega até ao exterior", comemora José Aguiar.

Roteirista, desenhista, ilustrador e escritor, Aguiar é formado pela Faculdade de Artes Plásticas do Paraná (Fap) e é um dos principais nomes dos quadrinhos curitibanos. Entre seus trabalhos mais recentes está a série de tiras Folheteen, publicadas pela Gazeta do Povo, além de Nada com Coisa Alguma e a participação na extensão para as HQs da peça Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos, de Paulo Biscaia Filho.

Ele também faz parte de uma geração de artistas que surgiu na Gibiteca de Curitiba nos anos 1990. Uma turma de amigos que cresceu e se formou lá, em um local com acesso a diferentes gêneros de gibis de várias partes do mundo, ao lado de publicações locais marginais e as grandes sagas eróticas e de terror da Grafipar.

"Minha geração era bastante pessimista. A gente fazia os trabalhos por amor, mas não por acreditar que poderia dar certo. Eu acho que nosso perfil não era profissional o suficiente na época, mas agora a coisa está mu­­dando", conta o quadrinista. A mudança de hábito atingiu um outro nível recentemente, com a realização da Gibicon, na qual Aguiar fez parte da curadoria e produção do evento. Um integrante de uma geração "pessimista", que soube aproveitar as oportunidades para profissionalizar um pouco mais a produção local.

Em meados dos anos 90 "não havia oportunidades de publicação e, quando aparecia alguma coisa, todo mundo mudava o foco e corria para poder publicar", lembra Antônio Eder, que divide a responsabilidade com Aguiar entre as principais produções locais da época. Isso justifica bem o caráter versátil dos artistas locais, independentemente de sua geração. Por exemplo, Eder começou como fanzineiro, é uma das cabeças por trás da criação do personagem Gralha (leia mais na matéria ao lado) e, ao lado de Jeferson Arantes, resgatou e modernizou o gênero terror e a ficção científica dos quadrinhos clássicos. Era a revista Manticore que nasceu como uma série sobre o chupacabras, e uma sequência com revistas de histórias curtas, com diferentes artistas envolvidos. O primeiro número da Manticore vendeu mais de dez mil cópias pelo país.

Quem também dividia o espaço das prateleiras era a Almanaque Entropya. Projeto idealizado pelo quadrinista RHS que reuniu artistas locais dispostos a criar e financiar uma nova revista em quadrinhos de produção alternativa. Entre 1998 e 1999 foram lançadas três edições dela e em 2000, saiu seu quarto volume, publicado como "número zero". Nos dois primeiros volumes, os artistas envolvidos pagavam o valor equivalente a cada página usada na impressão. A partir do terceiro número, a Faculdades Curitiba (hoje, Unicuritiba), através de um apoio cultural, assumiu parte dos custos, já que a revista não contava com uma editora. Ela tinha distribuição por toda a cidade e em alguns pontos de São Paulo.

Quadrinistas que praticamente pulavam do experimentalismo com a Entropya, para contos de terror na Manticore e ainda tinham um tempo de extravasar convenções com o Gralha. Tudo isso com veiculação nacional. Foram anos difíceis mas, ao mesmo tempo, recompensadores. Com o sucesso dos trabalhos locais pelo país, os grupos de trabalho foram reforçados por apoios externos e de diferentes origens.

Outros mundos

A personagem Ana Argento, da peça Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos, vem dos traços do quadrinista DW Ribatski, um dos promissores nomes da geração contemporânea de artistas. A montagem conseguiu atingir um grande público com a inusitada proposta de mesclar a técnica dos palcos com a do lápis. E deu no que deu. Como já citado, ela se tornou um livro recentemente publicado que marca a parceria entre José Aguiar, DW e Paulo Biscaia Filho.

Mais uma vez, boa parte das pessoas que talvez nunca tenham tido contato com os comics locais, recebem, mesmo que subjetivamente, suas primeiras lições. DW não parou por aí, muito menos a sutileza com que seus desenhos foram sendo divulgados. Na edição do Perhapiness de 2004, com o tema "Transgressão", todo o material de divulgação, saiu de suas mãos. As pessoas estavam em contato com quadrinhos, e nem sabiam.

Essa também parece ser a ideia de Guilherme Caldas, e toda sua terra dos doces. A finada (será?) grife de roupas Candyland, ganhou terreno na divulgação de traços da arte sequencial em camisetas, bonés e jaquetas. Mas continua ativa na produção de HQs.

Essa história está bem longe de chegar ao seu final. Ainda bem. Você acompanhou até aqui duas pequenas fatias de quase quatro décadas de produções locais. A nova leva de talentos está por aí, aprendendo com os erros e acertos de seus antecessores e criando novos caminhos. DW é só a ponta do iceberg de balões e experimentações sensoriais. Essa história continua...

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