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Confira o samba enredo da vencedora

"O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei do Sertão"

Autores: Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Callado e Silas AugustoInterprete: Bruno Ribas

Nessa viagem arretada,"lua" clareia a inspiraçãoVejo a realeza encantadacom as belezas do sertão!

"Chuva, sol" meu olharbrilhou em terra distanteAi que visão deslumbrante, se avexe não!

Muié rendá é rendeira,e no tempero da feirao barro, o mestre, a criação!

Mandacaru a flor do cangaço…tem "xote menina" nesse arrasta pé

Oh! meu padim, santo abençoado é promessa eu pago, me guia na féem cada estação, a "triste partida"

Eu vi no caminho Vida Severinaà margem do Chico espantei o malBordando o folclore raiz cultural…

Simbora que a noite já vem, "saudades do meu São João""respeita véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só"numa serenata feliz vou cantarNo meu pé de serra festejo ao luar…

Tijuca a luz do arauto anunciana carruagem da folia, hoje tem coroação!

A minha emoção vai te convidar, canta Tijuca, vem comemorar"inté Asa Branca" encontra o pavãopra coroar o "Rei do Sertão"

Carnavalesco Paulo Barros surpreende novamente

Admirado e criticado, o carnavalesco Paulo Barros surpreendeu mais uma vez. Diferentemente dos últimos anos, sua Unidos da Tijuca não chegou à apuração como favorita ao título.

Ele só havia vencido em 2010, com o enredo "É segredo!", que iniciou sua marca de encantar a plateia com surpresas e truques de ilusionismo já na comissão de frente.

Barros levou mais uma vez o troféu para o Morro do Borel fazendo concessões em relação à modernização que vem tentando imprimir ao carnaval do Rio. Em 2010, só conquistou os jurados ao apresentar alegorias mais tradicionais. Neste ano, parou de resistir ao pedido do presidente da Tijuca, Fernando Horta, para elaborar um enredo sobre Luiz Gonzaga. Mas avisou que não faria um desfile biográfico convencional, o que classificou de "muito chato".

"É o resultado de um trabalho de um ano. Foi dito que eu não gostava de fazer enredos tipicamente brasileiros. Mesmo não sendo um enredo autoral meu, abracei a ideia", disse. "Tenho que me apaixonar pelo que faço e eu sou apaixonado pelo meu trabalho".

Aos 49 anos, o carnavalesco está longe da unanimidade. Para muitos, vem construindo uma imagem arrogante ao criticar as convenções das escolas de samba. Sem esconder que detesta explicar suas criações, Barros diz fazer alegorias simples e objetivas, que retratam uma cena só, mas sempre espetaculares.

Nascido em Nilópolis, na Baixada Fluminense, ele cresceu perto da Beija Flor e acabou se tornando o principal rival da escola. Defende que os desfiles precisam ser vistos cada vez mais como espetáculos cênicos, onde cabem inclusive figuras da cultura pop.

Por outro lado, nunca escondeu que teve no maior mito da Beija Flor, o carnavalesco Joãosinho Trinta, sua principal inspiração para trocar a carreira de comissário de bordo pela de mago do carnaval. No desfile de segunda-feira, ele fez destaques que retratavam reis no seu abre-alas exibirem a face do mestre, que morreu no ano passado, sob a legenda de "rei do carnaval".

Assim como seu ídolo, Barros tem alcançado seu principal objetivo desde que estreou no Grupo Especial pela Tijuca, em 2004: incomodar. Enquanto Trinta emplacou o luxo como padrão, Barros introduziu alegorias humanas como uma tendência repetida pelas outras escolas. Mas já chamava a atenção no mundo do samba desde 1993, quando começou na pequena Vizinha Faladeira. Passou ainda por Arranco e Paraíso do Tuiuti no Grupo de Acesso.

Revelado pela Tijuca, Barros esteve na Viradouro em 2007, onde produziu mais polêmicas, como um carro alegórico retratado de ponta a cabeça. Os jurados não gostaram. Nem a escola, o que viabilizou a volta à Tijuca. Quando venceu em 2010, Barros se declarou "absolvido". Neste ano, chegou a dizer que a vitória não era mais uma obsessão. (AE)

A Unidos da Tijuca sagrou-se campeã do carnaval do Rio de Janeiro, na apuração ocorrida na tarde desta quarta-feira (22) no sambódromo. A agremiação somou 299,9 pontos. É o terceiro título da escola, campeã em 1936 e 2010. Sob o comando do carnavalesco Paulo Barros, a escola levou à Sapucaí um enredo em homenagem ao músico Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que completaria 100 anos em 2012.

Veja imagens do desfile da Unidos da Tijuca

A agremiação do Morro do Borel, na zona norte do Rio, somou 299,9 pontos e deixou para trás, pela ordem, Salgueiro, Vila Isabel, Beija-Flor, Grande Rio e Portela. As seis voltam à Sapucaí no sábado (25), para o desfile das campeãs.

Os jurados foram implacáveis com a Renascer, estreante em 2012 no Grupo Especial, que demonstrou estar aquém da elite, e com a Porto da Pedra, do bizarro enredo do iogurte. Ambas foram rebaixadas para o Grupo de Acesso A. A São Clemente, que fez um desfile surpreendente sobre espetáculos musicais e acabou em 11º lugar, festejou como se fosse a campeã o fato de não ter caído.

A Unidos da Tijuca é uma das escolas mais tradicionais do Rio. Ganhou seu primeiro campeonato em 1936. Amargou um hiato de 74 anos sem título, até nova vitória em 2010, já sob a coordenação do carnavalesco Paulo Barros. Se seu enredo era tradicional - os desfiles biográficos já renderam campeonatos a escolas como Beija-Flor e Mangueira -, seu desenvolvimento, não.

Muito badalada por causa de uma inovação da bateria, que fez prolongadas paradinhas, a Mangueira chegou em sétimo lugar e nem sequer vai participar da festa de sábado. A bateria conseguiu três notas dez, mas a escola perdeu pontos em oito dos dez quesitos.

A diretoria da Verde e Rosa estava tão confiante que puxou o samba-enredo antes mesmo da leitura das notas. Calou-se já no primeiro quesito, mestre-sala e porta-bandeira, em que levou 9,6 9,7 e 9,9.

Laíla, diretor de carnaval que é a cara da Beija-Flor, escola que estava entre as favoritas por ter ganho seis vezes nos últimos dez anos, já chegou com discurso derrotista. "Acho que o patrono não quer mais saber da escola. Eu não sei agora qual vai ser o caminho", afirmou, cogitando sua saída, depois de 36 anos de Beija-Flor. Ele se referia a Aniz Abrão David, bicheiro preso há um mês. A escola de Nilópolis já começou a apuração com menos 0,1 ponto, por causa de um erro na apresentação da comissão de frente.

Homenagem a Gonzagão

Uma das escolas mais aguardadas da noite de domingo (21), a Unidos da Tijuca fez um desfile animado, com bons momentos, mas não era considerada uma das favoritas. Nos anos anteriores, a escola ficou em primeiro lugar (2010) e em segundo (2011). A ideia de homenagear Luiz Gonzaga foi presidente da escola, Fernando Horta, que é fã do compositor.

Considerado o carnavalesco mais inovador - e mais bem pago - desse século, Paulo Barros teve sacadas inteligentes para tirar o enredo do óbvio - especialmente em um carnaval que teve outros quatro enredos falando do Nordeste.

O desfile custou "mais de R$ 10 milhões", segundo Horta, que não conseguiu patrocinador, apenas "alguns parceiros". Ele não acha que o fato de o tema não ter sido sugerido por Barros - o que aconteceu pela primeira vez desde sua entrada, em 2003 - tenha atrapalhado seu trabalho.

"Eu não imponho nada a artista algum. Foi bom para o Paulo mostrar sua versatilidade num enredo mais clássico". Nos bastidores, comenta-se que o carnavalesco, mais acostumado a temáticas abstratas (foi vencedor com "É segredo!") andava desanimado.

Em um ano de grandes sambas, como o da Portela e o da Vila Isabel, o da Tijuca não era considerado dos melhores, mas empolgou os componentes. Já o público, que foi à Sapucaí ávido pelas novidades de Barros, ficou sem entender direito o que faziam ali Xuxa, Pelé, Michael Jackson, D. João VI e a Rainha da Sucata, personagens que se repetiram em três carros. Segundo o carnavalesco, a "realeza" foi convidada para a coroação do "Rei Luiz do Sertão", que apareceu já na comissão de frente, e depois projetado no alto de um carro.

Na comissão, os integrantes apareceram vestidos de guias turísticos da "Gonzaga Tour" na "viagem arretada" pelo sertão se "transformando" em sanfonas.

Dois carros se destacaram pela beleza plástica: o de Mestre Vitalino, totalmente em cor de barro, que reproduzia uma casa de pau a pique perfeita até no cheiro, e o da Asa Branca, do qual "voavam" pássaros humanos de movimentos perfeitos. Foram a melhor tradução do estilo Paulo Barros na avenida.

A família Gonzaga estava representada por Rosinha, única filha de Gonzagão, e por Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha. "Quero agradecer ao meu pai. Poucos filhos têm a oportunidade de ver uma homenagem dessas", disse Rosinha antes do desfile.

Na concentração, Rosinha era ofuscada pela rainha de bateria, Gracyanne Barbosa, que beijava o marido, o pagodeiro Belo, para mostrar que eles não estão se separando, como foi noticiado. Ela brilhava mesmo vestida de assum preto, remissão ao clássico de Gonzagão. Só na sandália eram 15 mil cristais.

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