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Pode parecer piada, mas o Viagra é um dos responsáveis pelo reerguimento da marchinha de carnaval no Brasil. Explica-se: uma composição sobre os benefícios da famosa pílula azul foi a grande vencedora de um concurso encerrado há dois fins de semana, no Rio de Janeiro. O objetivo do festival, promovido pela Fundição Progresso, era justamente dar novo impulso ao gênero, que depois de quatro décadas animando as festas do país começou a perder força nos anos 60.

O concurso reuniu mais de 600 compositores – sinal de que há muita gente saudosa de escrever marchas. Além de ilustres desconhecidos de várias idades e classes sociais, alguns nomes importantes da música nacional decidiram se arriscar. Foram os casos de Nélson Sargento e Eduardo Dusek, que mandaram suas marchinhas para julgamento. O grande vencedor, porém, foi Homero Ferreira, autor de "O Milagre do Viagra". Para ele, o gênero não é novidade. Nos anos 60, ele assinou o sucesso "Me Dá um Dinheiro Aí".

Desde domingo retrasado, quando a final do concurso foi tema do programa Fantástico, da Rede Globo, Homero se tornou novamente uma celebridade. Está sendo assediado por tevês e jornais. Ontem, já pela manhã, estava no programa de Ana Maria Braga, explicando que a marchinha, composta com o falecido parceiro Chiquinho, estava na gaveta há oito anos. Depois, responderia entevistas com jornais. Domingo vai ao Faustão. Com isso, a pergunta que passou a ser feita é: há alguma chance de as marchinhas voltarem a ser moda, como foram nos anos 40 e 50?

"Acho que as marchinhas não voltarão a ter o mesmo sucesso se simplesmente repetirem o modelo que já existe", arrisca o pesquisador Ricardo Cravo Albin, autor do Livro de Ouro da MPB. Segundo ele, o principal desafio para os compositores que quiserem dar vida nova ao gênero deve ser a invenção de uma nova batida para acompanhar as letras. "O samba-enredo já passa um pouco por esse processo, com grandes escolas colocando batida de funk em suas baterias", explica Cravo Albin, que não sabe dizer qual será a mudança necessária no caso das marchinhas.

A Fundição Progresso, uma entidade cultural que há vários anos vem promovendo eventos ligados ao carnaval de rua, aposta que o ritmo forte e as letras alegres têm tudo para ir às ruas novamente. "Vamos promover o concurso anualmente a partir de agora", afirma Perfeito Fortuna, presidente da instituição. Para ele, a marchinha devolve à população a condição de participar mais de perto do carnaval. "Samba-enredo e escola de samba você assiste, mas não participa. E o bom do carnaval é você brincar com seus amigos, se fantasiar, não ficar parado vendo", afirma.

Perfeito Fortuna conta que há cerca de 15 anos há um movimento de reação no Rio de Janeiro ao carnaval exclusivamente dedicado ao desfile das escolas de samba. "Foram surgindo blocos na Zona Sul, em que as pessoas tentam retomar o espírito dos velhos carnavais", conta ele. Ele próprio participa de alguns blocos em que a música nem mesmo é amplificada. A idéia é que os alto-falantes podem inibir as pessoas de cantar. "São blocos com duas mil pessoas. Não queremos que cresçam muito. A idéia é que as pessoas que estão ali se conheçam", comenta. Segundo ele, ao invés de fazer um evento com 100 mil pessoas, o melhor é que se façam 50 cordões com duas mil pessoas cada um.

Cravo Albin, que se diz um admirador das marchinhas, afirma que a iniciativa é louvável e que traz de volta ]á cena um elemento típico da cultura brasileira, especialmente da carioca. "A marchinha sempre foi uma crônica da sociedade, para satirizar, ironizar nosso tempo", afirma. Para ele, o ritmo tem chances de emplacar de novo. "Basta pegar o cheiro da contemporaneidade", diz.

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