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O diretor Apichatpong Weerasethakul é “ave exótica” em seu país | Fotos: Divulgação
O diretor Apichatpong Weerasethakul é “ave exótica” em seu país| Foto: Fotos: Divulgação
  • Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas: morte e acerto com o passado

Entrevista com Apichatpong Weerasethakul, diretor tailandês

Nova York - Depois de ter impactado o último Festival de Cannes, onde ganhou a Palma de Ouro, Apichatpong Weerasethakul apresentou anteontem, no 48.º Festival de Nova York, o seu Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas, que também será mostrado no Festival do Rio.

Weerasethakul está de volta ao evento nova-iorquino, onde esteve em 2004 com Mal dos Trópicos, também premiado em Can­­nes naquele ano com o Grande Prêmio do Júri; e, em 2006, com Síndromes e um Século.

A inusitada e surreal história do novo filme do cineasta tailandês segue um homem que tem uma doença renal e se retira para a floresta antecipando a própria morte. Lá, ele relembra suas vidas passadas e recebe a visita da mulher e do filho que já morreram.

Além do cinema estranho e inovador que pratica, o diretor também tem feito incursões nas artes plásticas com videoinstalações como Phantoms of Nabua (2008) e Primitive (2009). Por sinal, é um dos artistas convidados para a 29.ª Bienal de São Paulo, que abre no sábado para o público.

Como ele mesmo reconhece, seus filmes podem não agradar a todos os públicos, mas é impossível não reconhecer que, além de poéticos e mágicos, abrem novos caminhos para outras possibilidades narrativas.

Calmo, muito simpático e falando pausadamente, o diretor conversou com a imprensa na coletiva da qual participou a Gazeta do Povo. Leia os principais trechos da entrevista:

Qual a inspiração para o seu filme?

A motivação para o meu trabalho vem de minha região natal com suas florestas, montanhas e crenças animistas. E também do México, para onde já viajei duas vezes. No caso deste filme, eu me inspirei em um livro que ganhei de um monge budista que descreve as vidas passadas do autor. Fiquei fascinado com o relato.

Há também algo de biográfico na história?

Todo trabalho é um pouco biográfico. De fato, o filme fala de uma coisa meio surreal que faz parte das minhas memórias, pois passei parte da minha vida naquela região. Mas descreve também uma trajetória espiritual, de várias encarnações em busca de uma verdade interior.

A que atribui uma tão obra diferente, mesmo dentro da filmografia tailandesa?

Primeiramente, eu desenvolvo meu trabalho à margem dos estúdios e pertenço a outro mundo, a outra cultura. Mas talvez haja também uma expectativa de que os filmes da Tailândia tenham de ser sempre de ação ou de imagens exóticas. A própria mídia tem divulgado o cinema do meu país dessa forma.

O fato de os produtores serem do Ocidente influiu na forma como realizou o filme?

Em absoluto, eles não tentaram mudar nada na minha maneira de trabalhar e eu tive total liberdade para abordar o misticismo da região, uma fronteira onde as pessoas encontram culturas diferentes com fantasmas e lendas.

Como espera que os espectadores recebam o filme?

Acho importante incentivar a diversidade, embora admita que Tio Boonmee é mais abstrato do que pretendia. Apesar disso, acredito que vai encontrar o seu público, mas cada filme que faço desperta uma recepção diferente. Alguns espectadores se fecham no que eu crio, outras assistem e compartilham. As coisas devem seguir assim. Não devo forçá-los a entender ou buscar interpretações para o meu trabalho.

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