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Longa-metragem de Francesco Munzi arrebatou a exigente plateia de críticos com elenco formado por atores e moradores de vilarejos calabreses | Francesca Casciarri/Divulgação
Longa-metragem de Francesco Munzi arrebatou a exigente plateia de críticos com elenco formado por atores e moradores de vilarejos calabreses| Foto: Francesca Casciarri/Divulgação

O primeiro filme italiano em concurso, Anime Nere (Almas Negras), de Francesco Munzi, agradou em cheio a exigente plateia de jornalistas em Veneza. Quem conhece o festival sabe que, quando não agradam, os concorrentes da casa são vaiados impiedosamente pelos patrícios. Já houve mesmo quem tachasse o festival de matadouro do cinema italiano. Pois bem, maior então o valor da aprovação: vários minutos de aplauso para esse pouco convencional drama sobre a "máfia" calabresa, a ‘ndrangheta.

O filme respira autenticidade. A começar pelo fato de ser falado, em sua maior parte, em dialeto calabrês, o que o obriga a ser legendado em italiano "normal", isto é, em toscano. Segundo, que Munzi mesclou atores profissionais a habitantes de vilarejos calabreses, a tal ponto que não se distinguem uns dos outros no decorrer da história.

E que história! São três irmãos, de maneiras diversas comprometidos no mundo do crime. Um deles deixou as atividades criminosas e passou a criar cabras, mas seu filho, Leo, decide juntar-se aos tios e viver a grande vida na cidade, ao invés de permanecer na vida pastoril, que lhe parece imóvel e tediosa. O fato terá consequências terríveis, desencadeando uma série de mortes. "Na verdade, trata-se de uma tragédia em família, mais que um filme de gângsters", diz o diretor.

Munzi diz também que sua primeira preocupação foi evitar os clichês que cercam o gênero. De fato, o "filme de máfia" virou uma espécie de estereótipo em si mesmo, com suas "famiglias" histriônicas, capi todo poderosos e paternalistas, rios de sangue, macarronadas, vinho, mulheres sensuais ou de luto fechado pela morte de filhos e maridos.

Existe disso em Almas Negras, mas de maneira densa e sem esconder a tragédia real atrás de algo folclórico e engraçado. É mais uma tragédia grega, no sentido clássico do termo, que um dramalhão italiano. Dessa forma, Munzi segue o caminho de outro cineasta, Matteo Garrone, que redescobriu a vertente séria da máfia com Gomorra. Almas Negras, embora não tão inventivo visualmente, encontra-se no mesmo patamar. Um filmaço.

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