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Berlim – O Festival de Berlim deu início à sua 56.ª edição na última quinta-feira à noite com a projeção do longa-metragem britânico-canadense Snow Cake, de Marc Evans (A Ressurreição). A exibição aconteceu numa sessão de gala lotada com a presença do diretor e atores. Dieter Kosslick, diretor da Berlinale – que recepcionou as estrelas e convidados no tapete vermelho que dá acesso ao Palácio da Berlinale – disse que o glamour não deverá ofuscar o caráter político desta edição da mostra. "A atenção estará mais centrada nos problemas reais das pessoas e menos na imaginação ou na fantasia", acrescentou.

Snow Cake começa quando o inglês Alex (Alan Rickman, de Razão e Sensibilidade) chega, em um dia nevado, ao norte da província de Ontário, Canadá, e dá uma carona para Vivianne, uma jovem que deseja ir para a pequena Wawa, sua cidade natal. No trajeto, um caminhão bate no carro e Vivianne tem morte instantânea.

Chocado e completamente perdido na gelada Wawa, cercada de neve, Alex é levado a procurar a mãe da jovem para avisá-la do acidente. Ela é Linda (Sigourney Weaver, de Alien) e logo Alex descobre não se tratar de uma pessoa comum. Linda é autista e vive na remotíssima cidade, onde é cuidada e onde lhe permitem que tenha uma vida digna, independentemente da deficiência da qual é portadora. Apesar disso, Linda manifesta total indiferença por aquelas pessoas que a acolhem com tanta afetividade.

Na medida em que a história se desenvolve, Alex fica cada vez mais envolvido pela vida de Linda e da comunidade. O filme é centrado na relação que se estabelece entre os dois personagens e um terceiro, vivido por Carrie-Ann Moss (de Matrix), num ótimo desempenho.

Quando finalmente ele volta para a estrada para continuar o percurso que havia interrompido, nem ele nem Wawa são mais os mesmos. Como numa metáfora, a neve começa a derreter, mas as memórias de Alex permanecem intactas. Evans vai tecendo sua história lenta e delicadamente, de uma forma intimista que se encaixa perfeitamente numa comunidade pequena como a de Wawa.

A narrativa remete, inclusive, a outra história locada no Canadá e também desenvolvida numa pequena comunidade, brilhantemente filmada por Atom Egoyan em O Doce Amanhã.

Para compor o clima intimista do filme, Evans contou com o competente roteiro de Angela Pell, o que foi reconhecido pelo diretor na coletiva após a projeção. "É o primeiro roteiro dela e uma das melhores coisas que eu já li. Angela tem um filho autista, o que talvez tenha contribuído para que ela escrevesse um roteiro tão humano e que se encaixasse perfeitamente numa comunidade como Wawa", disse complementando que o comprometimento que as pessoas tiveram com o espírito da história contribuiu muito para colocar o filme em produção.

Weaver e Rickman – que já haviam trabalhado juntos em Heróis Fora-de-Órbita, de 1999 – estão muito bem nos papéis, principalmente Weaver, que aceitou o desafio de interpretar Linda, ao mesmo tempo uma pessoa autista, mas hiperativa. A atriz, também presente à entrevista, disse que levou muito tempo preparando-se para o papel.

"Não porque a personagem fosse uma autista, mas porque era uma mulher única", afirmou acrescentando que não tem muito controle sobre os papéis que lhe são oferecidos. "Sempre recebo propostas para interpretar mulheres fortes, talvez seja um arquétipo", supôs.

Rickman, por sua vez, disse que foi fácil viver Alex. "Li o roteiro e disse sim de imediato. Com a idade, a gente vai ficando também mais humilde nas escolhas e decisões", concluiu o ator de 59 anos. Snow Cake tem múltiplas leituras: é um filme sobre amizade, aceitação, sobre o significado da dor, mas é também um retrato tocante e real de personagens profundamente verossímeis.

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