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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

Perfis

O autor

O poeta, compositor e músico Leonard Cohen, de 73 anos, nasceu em Montreal, Canadá. Estreou na poesia com Let Us Compare Mythologies, em 1956, seguido por mais nove livros de poemas e dois romances. Como escritor, foi traduzido para mais de 20 idiomas. Como músico e compositor, já gravou 17 álbuns, e foi regravado por artistas e bandas como R.E.M., Pixies, Nick Cave and The Bad Seeds, Ian McCulloch, John Cale, Sting, Elton John, U2, Judy Collins e Madeleine Peyroux.

O tradutor

Fernando Koproski, nascido em 1973, é escritor, tradutor e letrista. Publicou oito livros de poemas, entre eles Manual de Ver Nuvens e O Livro dos Sonhos, de 1999; Tudo o Que Não Sei Sobre o Amor, de 2003; Como Tornar-se Azul em Curitiba e Pétalas, Pálpebras e Pressa, de 2004. Antes de traduzir parte da obra de Leonard Cohen, organizou e traduziu a antologia poética de Charles Bukowski, Essa Loucura Roubada Que não Desejo a Ninguém a não Ser a Mim Mesmo Amém (7 Letras, 2005).

O escritor Fernando Koproski conhecia apenas as músicas do canadense Leonard Cohen quando decidiu trancar a faculdade de Letras, na UFPR, e passar dois anos lavando pratos em Londres. Trabalhava 11, 12 horas por dia, mas os poucos momentos livres foram muito bem aproveitados em visitas a "livrarias fantásticas".

Em meio a buscas por peças de Shakespeare, de quem se denomina aficionado, acabou se deparando com poemas de Charles Bukowski, que até então conhecia somente como prosador, e de Cohen.

De volta à Curitiba, a garimpagem literária rendeu duas traduções aos leitores brasileiros. A primeira, Essa Loucura Roubada Que não Desejo a Ninguém a não Ser a mim Mesmo Amém (7 Letras, 2005), uma antologia poética de Bukowski, partiu de uma identificação imediata com a vida e a obra do autor norte-americano. "Em seu poemas, ele falava de sua experiência em subempregos e eu estava ali lavando pratos", conta.

A pouca intimidade inicial com a obra literária de Leonard Cohen – conhecido no Brasil principalmente como músico e compositor – tornou mais complexa a missão de traduzir e organizar seus poemas em uma antologia.

Após três anos de imersão absoluta em livros e discos, fuçados em sebos canadenses, além de chats e sites de fãs, Koproski entrega ao público a primeira antologia poética brasileira do autor, Atrás das Linhas Inimigas de Meu Amor (7 Letras, 2007, bilíngüe).

Se Bukowski desgrenhado e amassado torcia o nariz para o alinhado Cohen, como escreveu o escritor Nelson de Oliveira na orelha do livro, "guarda-roupa à parte, o americano e o canadense se entendem muito bem nos terrenos baldios da lírica". "Os dois têm a mesma intensidade e vontade de gritar vida nos versos. Também querem encontrar o leitor comum, com um jeito simples de comunicar", explica o escritor.

A trajetória de Cohen, pontuada por conflitos, assemelha-se, em alguma medida, à da geração beat, nos Estados Unidos, que ganhou as ruas, libertando-se do circuito acadêmico, sempre à procura de renovação estética e temática. Em um de seus poemas traduzidos, "Como falar de poesia", ele revela sua abominação por vaidade e pretensão.

Lirismo e melancolia

Sob o mesmo preceito de simplicidade, o tradutor selecionou 50 poemas retirados de oito livros de poesia de Cohen, seguindo um critério pessoal, mas também consultas em antologias e grupos de discussão de fãs na internet. "Incluí os poemas mais comentados", conta. O repertório também representa os temas mais freqüentes da obra de Cohen como o amor – principalmente, o amor –, o tempo, a beleza, a religião (ele é judeu, mas também monge budista), perdas e impermanências.

São poemas sombrios e melancólicos, em que o lirismo dialoga com a aridez da política e da guerra. "Há várias maneiras de ler sua obra", conta Koproski. Como exemplo, ele cita "Amantes", uma história de amor, ou de horror, já que os amantes em questão estão dentro de uma câmera de gás. As dicotomias são permanentes, sobressaindo-se religiosidade e erotismo, beleza e horror. "É uma poética rica, com referências à Bíblia e a episódios da História", conta o tradutor.

Cohen publicou seu primeiro livro de poesias em 1956, Let Us Compare Mythologies, anos antes de começar a compor. Mas a musicalidade já estava presente em seus poemas, assim como as letras de suas músicas carregariam uma rara qualidade literária. "As primeiras letras que ele escreveu eram poemas", diz Koproski. O poema "Suzanne", por exemplo, virou sucesso como música, e marcou a primeira aparição pública de Cohen como cantor. "Na maturidade, sua poesia circula muito bem tanto na música como na literatura", diz o escritor, que traduziu uma letra de música do autor como uma espécie de "faixa-bônus" do livro.

Koproski recita trechos do livro com trilha sonora de Carlos Machado, na próxima quarta-feira (31), às 19h30, na livraria Curitiba do Shopping Estação.

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Serviço: Atrás das Linhas Inimigas do Meu Amor, de Leonard Cohen. Tradução de Fernando Koproski (7 Letras, 184 págs., R$30).

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