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São Paulo – O lado cosmopolita e modernizado dos EUA encontra a "América profunda" em Retratos de Família. A novidade é que os habitantes da segunda, em geral maltratados pelo cinema, não saem ridicularizados em comparação com os representantes do primeiro.

Aliás, se alguém aprende algo no final dessa convivência forçada, é quem sai da metrópole para mergulhar no interior do país.

Não é assim, contudo, que as coisas se apresentam no início. Quando Madeleine (Embeth Davidtz), filha de diplomatas e proprietária de uma galeria de arte em Chicago, viaja até um vilarejo na Carolina do Norte para conhecer a obra de um pintor e se hospeda na casa da família do marido (Alessandro Nivola), o filme parece preocupado em discorrer sobre o mundo de gente esquizóide.

Para começar, há o pintor, que se chama David Wark, como o cineasta D.W. Griffith (Nascimento de uma Nação), e que, como o xará, se dedica a temas da guerra civil norte-americana.

A família do marido, por sua vez, funciona de acordo com um padrão difícil de compreender à primeira vista. O sogro se mantém distante do que o cerca, se dedicando à marcenaria. A mãe, controladora, talvez seja a explicação para seu comportamento.

A cunhada (Amy Adams) – que recebeu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante e diversos prêmios pelo papel –, uma tagarela compulsiva, está grávida, o que ajuda a manter os nervos da casa à flor da pele. O marido de Madeleine parece desconfortável em rever a família, depois de três anos distante.

Interiorano que foi estudar cinema em Nova Iorque, o diretor estreante Phil Robinson conduz a trama com um crescente carinho pelos personagens. Seu procedimento busca reproduzir, no espectador, a mesma sensação vivida por Madeleine diante deles. Faz lá algum sentido: o público de filmes independentes, como este, é majoritariamente formado por cidadãos de metrópoles.

Valores familiares e religiosos são lentamente introduzidos no cenário, dando início ao processo de reversão de expectativas.

Robinson e seu roteirista, Angus MacLachlan, usam características narrativas do cinema independente. Há tempos mortos, aparente desconexão entre situações, comportamentos bizarros, ausência de música a pontuar os momentos dramáticos para criar um drama que, em sua carpintaria dramática, bebe na fonte da tradição industrial.

Retratos de Família é independente pelas restritas condições de produção, e não porque tenha a oferecer algo que a indústria não possa ou não queira fazer. Seu achado está em fazê-lo sem alarde ou pressa. E com bons atores. GGG1/2

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