
O amor, o desejo e as relações interpessoais nunca deixam de ser uma das, senão a mais rica fonte de histórias para o cinema, o teatro e a literatura. Graças à universalidade dos conflitos e à atemporalidade de determinados dilemas. Dois dramas em cartaz no Festival do Rio, o norte-americano The Sessions (As Sessões, em tradução livre) e The Loneliest Planet (O Planeta Mais Solitário), uma coprodução entre Estados Unidos e Alemanha, rodada nas montanhas da Geórgia, antiga república soviética, exploram esses temas de maneiras muito diversas, mas se aproximam por discutirem as vicissitudes da condição humana e do relacionamento a dois.
Embora seja um filme pequeno, independente, The Sessions já é apontado por boa parte da imprensa dos Estados Unidos como provável indicado ao Oscar 2013 nas categorias principais. Baseado em fatos reais, o drama conta, sem rodeios ou firulas, uma história muito tocante, que tinha tudo para resvalar na pieguice, mas, graças à direção contida de Ben Lewin, consegue emocionar, fazendo o espectador refletir sobre a própria existência.
Mark OBrien (John Hawkes, indicado ao Oscar por Inverno da Alma) é um poeta que estudou na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e sofre de limitações motoras causadas pela poliomielite, contraída na infância, que só se agravam. Ao ponto de, no momento em que a narrativa se inicia, ele passar os dias deitado em uma maca e ter de dormir à noite com a ajuda de um "pulmão de ferro".
Carente e solitário, ele acaba seguindo os conselhos bem-intencionados, mas fora da realidade, de seu padre confessor, Brendan (William H. Macy, de Magnólia), apaixonando-se por uma de suas cuidadoras, Amanda (Annika Marks), que o rejeita, deixando-o ainda mais depressivo. Sabendo que irá morrer, ele toma uma decisão importante: quer perder a virgindade antes de partir deste mundo. Para isso, acaba recorrendo aos serviços de uma terapeuta especialista em sexo, Cheryl, vivida pela ótima, e pouco vista nos últimos anos, Helen Hunt, Oscar de melhor atriz em 1998 por Melhor É Impossível.
As tais sessões que dão nome ao filme de Lewin, vencedor do Prêmio do Público e do Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance 2012, fazem com que uma relação de caráter profissional um tanto bizarra, como a de Mark e Cheryl, desemboque em laços profundos. E é inevitável que o espectador, diante dessa história insólita, questione a qualidade dos vínculos que cultiva em sua vida e comece a repensar conceitos de bem-estar e felicidade.
Com todo esse apelo, não será suprpreendente se The Sessions figurar entre os indicados a melhor filme, direção, roteiro original, atriz coadjuvante (Helen Hunt) e, sobretudo, ator o desempenho de John Hawkes é antológico.
Geórgia
Bem mais intimista e menos digerível do que The Sessions, The Loneliest Planet divide opiniões: havia gente xingando o filme ao fim da projeção anteontem no Festival do Rio. Tem a seu favor a coragem de não ter pressa para estabelecer uma atmosfera de inquietação e desolamento que permeia toda a narrativa e dá tom ao longa-metragem.
Na trama, um casal de noivos (o mexicano Gael García Bernal e a americana Hanni Furstenberg) viaja de mochilas nas costas pela inóspita cadeia montanhosa do Cáucaso, na Geórgia. A aventura é uma espécie de ritual que antecederá o casamento dele, já com data marcada.
Solidão geográfica
Os dois contratam um guia local, que tem uma trágica história, e os três seguem pela região, que já passou por vários conflitos armados e ainda guarda um forte clima de instabilidade, atmosfera esta que acaba por contaminar a relação entre os personagens principais.
A solidão geográfica faz com que os dois, enquanto se deslocam pela cordilheira, comecem a jogar um com o outro e o que é, de início, apenas brincadeira, aos poucos revela fragilidades na relação. Nem tudo o que julgavam verdade absoluta é tão seguro quanto aparenta.
A jovem cineasta Julia Loktev, de origem russa, assina a direção e o roteiro, inspirado em um um conto de Tom Bissell. Não é um grande filme, mas as boas atuações do elenco e as questões que levanta anunciam uma cineasta que poderá vir a surpreender.




