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Eastwood e Meryl Streep em As Pontes de Madison: Clint apaixonado não tem preço | Divulgação
Eastwood e Meryl Streep em As Pontes de Madison: Clint apaixonado não tem preço| Foto: Divulgação

Grande parte da crítica tende a ver Clint Eastwood, o ator, como uma espécie de tótem, de monolito. Como seus personagens foram construídos, ao longo dos anos, em torno de sua persona, seus personagens tendem a ser todos muito semelhantes entre si, com mínimas variações, dizem Núria Bou e Xavier Pérez, no livro El Tiempo del Héroe – Épica y Masculinidad en el Cine de Hollywood, obra inédita no Brasil.

Há, entretanto, um grande quociente de emoção contido, represado, nas atuações de Eastwood. A obra de Núria e Perez, professores da universidade espanhola de Pompeu Fabra, com sede em Barcelona, discute essa característica dos personagens vividos ao longo de várias décadas por Clint, utilizando como exemplo o hoje já quase desaparecido O Último Golpe, tocante filme de estreia de Michael Cimino, diretor de O Franco Atirador (1974).

Clint Eastwood, então com 44 anos, forma com Jeff Bridges (indicado ao Oscar por sua atuação no filme) uma dupla de contraventores que resolvem fazer um grande assalto antes de abandonar o crime. Thunderbolt é uma síntese de muitos personagens vividos antes e depois por Eastwood. Durão até a medula, ele evita demonstrar emoções, ao contrário do carente Lightfoot (Bridges), que se desdobra para conquistar a atenção e o afeto do companheiro mais velho. Mas essa afeição nunca vem, ou melhor, não é jamais visível na reticência contida e ultraviril de Thunderbolt.

O confronto entre duas masculinidades tão evidentemente contrastantes como as dos dois protagonistas de O Último Golpe dá pano para manga. É desconsertante no trágico desfecho da trama, quando Thunderbolt vê seu parceiro morrer diante de si sem que ele tenha verbalizado seu carinho, sua amizade. O olhar desolado de Eastwood é de uma tristeza infinita. Faz lembrar o melancólico desenlace de Menina de Ouro, quando o velho treinador (Clint), ao ver sua pupila (Hilary Swank, premiada com o Oscar) entrevada numa cama de hospital, opta pela eutanásia para abreviar seu sofrimento. É quando, finalmente e talvez tarde demais, ele demonstra seu amor pela boxeadora, que também desempenha o papel de sua filha substituta.

Clint romântico

Homem de muitos casamentos e relacionamentos amorosos na vida real, Clint Eastwood nunca foi visto como um galã romântico arrebatado, sensual. Talvez por isso As Pontes de Madison tenha feito tanto sucesso.

Embora o fotógrafo interpretado por Eastwood seja, a rigor, pouco diferente dos muitos "cavaleiros solitários" de sua longa carreira, trata-se de uma bela história de amor. O envolvimento do personagem com a dona de casa interiorana Francesca (Meryl Streep) é a razão de ser da narrativa.

E ver Clint apaixonado não tem preço. Ele funciona na trama como um Lancelot contemporâneo, o cavaleiro andante de armadura que arrebata o coração da rainha Guinevére, casada com o dever e a honra, representados pelo rei Arthur. O marido de Francesca, é bem verdade, não passa de um honesto pequeno fazendeiro, ausente de boa parte da história. E Clint é todo mistério, como seu estranho sem nome nos filmes de Sergio Leone. Fez suspirar muitas Francescas ao redor do mundo. (PC)

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