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Vitor Ramil: o processo de criação do músico mais lembra o de um escritor | Marco André Lima/ Gazeta do Povo
Vitor Ramil: o processo de criação do músico mais lembra o de um escritor| Foto: Marco André Lima/ Gazeta do Povo

Lançamentos

Soongbook Vitor Ramil

Vitor Ramil. Editora Belas Letras. 304 págs. R$ 44,90.

Foi no Mês Que Vem

Vitor Ramil. Satolep Music. R$ 35 (duplo) – vendas pelo site vitorramil.com.br. MPB.

Baseado em Pelotas, a 271 quilômetros de Porto Alegre, longe demais das capitais e onde seria praticamente inviável manter uma carreira de projeção nacional, o cantor, compositor e escritor Vitor Ramil, 52 anos, mais parece um ponto de resistência.

Desde o começo dos anos 1990, quando voltou de uma longa temporada no Rio de Janeiro para a cidade onde nasceu, o artista mantém uma carreira prolífica, independente e alimentada por uma base fiel de fãs.

Fidelidade essa que foi posta à prova no ano passado, quando Ramil se lançou numa experiência até então inédita em sua trajetória: a de crowdfunding, financiamento coletivo pela internet.

A proposta era produzir um songbook com 60 de suas canções e um disco duplo com 32 delas (Foi no Mês Que Vem), o décimo de sua carreira. Em três meses, 865 fãs de oito países toparam. O montante arrecadado chegou a R$ 85 mil, R$ 15 mil a mais do que pedira.

"Tinha medo de que parecesse caro. Vi que muitos projetos do tipo não deram em nada pelo que, acho, era excesso do artista", disse ele, sobre as cotas que iam de R$ 10 a R$ 30 mil. "Foi algo sobre o qual pensei bastante até encontrar um termo que achei que seria justo."

A resposta não chegou a impressioná-lo, embora o tenha enchido de gratidão.

A carreira de Ramil é repleta de histórias curiosas relacionadas a fãs. Como a de uma senhora que comprava caixas de discos seus para mandar a lojas em cidades onde não era possível adquiri-los, só para que a obra dele fosse mais conhecida.

Conceito

Seu processo de criação musical mais lembra o de escritores, de recolhimento e depuração do próprio repertório, rearranjando-o, encontrando outros modos de cantá-lo e tocá-lo. "Minha ideia era gravar um disco inteiramente acústico, mas, aos poucos, percebi que poderia soar só como acessório do songbook. E não era isso, podia ser algo maior", conta. E foi.

Entre convidados como Milton Nascimento, Ney Matogrosso, o uruguaio Jorge Drexler, os argentinos Fito Páez e Pedro Aznar, canções marcantes da carreira de Ramil como "Estrela, Estrela", "Loucos de Cara", "Astronauta Lírico" e "Neve de Papel" foram reinterpretadas com arranjos voltados sobretudo para o violão, seu instrumento de predileção.

"A própria escolha das músicas se deu muito pela afinidade que cada uma delas tinha com o instrumento", conta, sobre o trabalho de garimpagem que o permitiu "cortar excessos", como chama a miríade de baixos, baterias e teclados, substituídos por violões de afinações variadas, timbres cristalinos, além de percussão e cordas.

É, de certo modo, a radicalização do que se anunciava em Délibáb, disco de 2010, em que dividia com o violonista argentino Carlos Moscardini os arranjos dos poemas que musicou do argentino Jorge Luis Borges e do gaúcho João da Cunha Vargas.

Como o disco anterior, Foi no Mês Que Vem foi gravado em Buenos Aires e mixado nos Estados Unidos. "É um trabalho de fronteiras abertas", diz. Fito Páez gravou sua participação em casa, na companhia do cantor, em Buenos Aires; Jorge Drexler, num quarto de hotel durante uma breve passagem pelo Uruguai (ele vive na Espanha). Do Rio, vieram as vozes de Ney Matogrosso e Milton Nascimento.

Ramil tem ainda a companhia de Ian e Isabel, seus filhos, ela lendo um trecho em francês do escritor Paul Valéry, na canção "Noa Noa".

"Já me disseram que formei meu pequeno Clube da Esquina. Tem um pouco a ver", compara ele.

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