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Você se lembra do clipe de "Nega Ju­­­re­­­­ma", do Rai­­­mundos, lá em 1994? É um dos primeiros trabalhos de José Eduardo Belmonte, que na época estudava cinema na Universidade de Brasília (UNB). De escola documentarista, o cineasta ganhou projeção com o longa Se Nada Mais Der Certo, seu quarto trabalho. Belmonte também acaba de finalizar o documentário Mobília em Casa, da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o conteúdo de Alemão, e as facetas da sociedade brasileira, em sua opinião, protofascista e amedrontada:

Você dirigiu o primeiro clipe do Raimundos...

É uma história bacana. Estava na UNB e tinha feito o clipe de uma banda super indie. Mas aí saiu matéria de capa sobre ele em um jornal e a coisa cresceu. A banda estava surgindo, assim como a MTV, e me convidaram para trabalhar em um clipe. Eu não conhecia Raimundos, não gostava de hardcore. Fiquei seis meses fazendo o clipe. Adoro ele.

Por que você não quis realizar um documentário tradicional?

Sou de uma escola de documentaristas, mas gosto de ficcionalizar a realidade. Na verdade, já fazemos isso na vida real, então passar essa ideia para o filme não seria nada demais.

A equipe policial do filme teria condições de existir?

Tenho uma amiga da inteligência policial responsável por um monte de coisas que nem posso falar. Os policiais são "muito adrenalina". São ousados e querem ser heroicos. Por isso, existiria sim. O problema é a burocracia. Aquela realidade é um mundo muito distante para nós.

Por que o cinema tem falado tanto da violência e do abismo social?

Porque está na nossa cara o tempo inteiro. O abismo social está aqui, na calçada de Copacabana [aponta para fora do hotel]. Não conseguimos lidar com isso de outra forma que não seja pelo medo ou pela raiva. Não conseguimos resolver esse problema, nossa questão atual. É muito dramático pensar que num país muito rico, oitava economia do mundo, tenha tanta miséria.

Estamos perto do limite?

Pois é. Um problema é que as pessoas não entendem essas situações. Nós, e aí incluo cineastas e artistas, falamos pouco de forma complexa e profunda sobre esses temas. Damos até mesmo aspecto novelesco a alguns episódios. E, quando as pessoas não entendem, ficam com muita raiva. Isso vai desencadear um processo catártico. Já desencadeou, na verdade.

O cinema ajuda a esclarecer, a contribuir com essa discussão?

O cinema precisa falar mais das questões humanas. A sociologia não tem todas as respostas.

A desconfiança é outro elemento forte no filme...

Temos um problema com o outro. O outro é um inimigo em potencial. Essa é uma questão contemporânea brasileira. E desconfiamos das instituições, que são inexistentes para nós. A lei também não tem valor. Às vezes alguém é pego para ser exemplo. Vive-se uma época protofascista no Brasil. É o nosso entreguerras. Como na Alemanha nos anos 30, estamos com muita raiva e medo.

Em que fase está Alemão 2?

Estamos finalizando o roteiro. Será a mesma equipe, e o filme deve estrear em 2015.

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