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Natal da tolerância

Indicado no ano passado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, Feliz Natal, do diretor francês Christian Carion, é uma co-produção que reúne diversas bandeiras: França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica e Romênia. A fita destaca um drama sobre a tolerância em tempos de guerra – semelhante ao que o mundo vive atualmente. Na história, no dia de Natal de 1914, militares dos exércitos que disputavam a Primeira Guerra Mundial decidem abandonar por algumas horas as trincheiras para uma confraternização. A produção, estrelada por Daniel Brühl (Adeus, Lênin!) e Diane Kruger (O Segredo de Beethoven), só engrena a partir da seqüência da festa natalina coletiva, em pleno campo de batalha, momento em que se torna um filme interessante de se acompanhar. GGG

São Paulo – Woody Allen são pelo menos dois. Existe aquele cineasta grave, intelectual, que pode se inspirar em Dostoiévski ou Bergman e parece viver preocupado com o lugar que a história do cinema lhe reservará. E existe o Woody Allen que não esquece sua origem de comediante e gosta de se divertir enquanto filma. Este último pode nos dar filmes irregulares, é verdade, nem sempre memoráveis, mas que nunca se confundem com os vôos cegos tão freqüentes na indústria do entretenimento.

Woody sabe o que faz quando faz Scoop – O Grande Furo, por exemplo, em que uma estudante de Jornalismo é freqüentada pelo espírito de um grande repórter – já morto, evidentemente – que lhe dá pistas para resolver um tenebroso caso de "serial killer". Como estamos na Inglaterra, trata-se de um caso tipo Jack, o Estripador.

A jovem repórter é Scarlett Johansson, e a primeira vez que ela "recebe" o repórter ela está na cabine em que um prestidigitador (Allen) executa seu truque de desmaterialização. Esse fato ligará os dois: a moça fará do mágico seu acompanhante, protetor, etc. Ocorre que, em meio à onda de crimes, o finado repórter aponta como criminoso (com todo o conhecimento que se pode adquirir no além sobre essas coisas) um rapaz belo e riquíssimo (Hugh Jackman), filho de um lorde, portanto, membro da aristocracia.

A partir daí, estamos no território da investigação. E de seus desastres. O primeiro e mais definitivo vem do fato de a garota se apaixonar pelo belo aristocrata. Mas, que importa essa falha profissional? O que Woody Allen parece nos dizer ao longo de todo este filme (e dos filmes como este que faz) é que talvez não convenha levar essas convenções tão a sério. Ou seja, seu filme não é um filme de investigação policial, mas uma espécie de simulacro consciente a nos lembrar que, se não é possível chegar à verdade (artística ou criminal), convém ao menos não fingir que estamos chegando. Nesse aspecto, o Woody Allen desses "filminhos irresponsáveis" é mais grave e mais interessante que o dos "grandes temas humanos". E talvez não seja por acaso que Woody Allen se permite, no final, basear a resolução do filme na mais completa inverossimilhança: temos a história de um criminoso capaz de calcular tudo, com exceção do óbvio. Solução só aparentemente tola, feita para chatear os "nossos amigos verossímeis", como diria Hitchcock. Pois uma solução que remonta a Fritz Lang, ao Lang de Suplício de uma Alma – o filme mais inverossímil de todos os tempos, mas também um dos mais verdadeiros. É claro que Scoop não é memorável como Suplício. Mas é um filme que não finge ser mais inteligente do que é, e em que Woody Allen, sua equipe e atores parecem ter trabalhado com prazer que, afinal, nos transmitem.

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