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Nem teatro, nem dança. O ator e dançarino mineiro Marcelo Gabriel propõe uma espécie de anti-teatro em Água Viva, espetáculo que apresenta em Curitiba hoje e amanhã, às 21 horas, e no domingo, às 19 horas, no Teatro da Caixa. Para ele, a melhor definição de sua arte é a performance.

O espetáculo trabalha com arquétipos – as memórias que todo mundo traz dentro de si –, para propor ao público a reflexão sobre algo que, segundo ele, "deveria ser a maior preocupação do homem": a ameaça ao ecossistema global e aos recursos naturais. Para isso, dispensa o uso da língua, de uma narrativa linear, de cenários e figurinos. "Não dependemos da palavra para nos comunicar. Trabalho com o inconsciente coletivo em um nível energético. Na essência, somos um só", explica o artista. No entanto, as artes plásticas, a dança, o teatro e o vídeo se interligam para compor uma obra que reinventa, pela voz e o trabalho com o corpo, a herança ancestral do homem em um espaço urbano contemporâneo. Um bom exemplo disso é a projeção de um videoclipe – recurso midiático de tempos atualíssimos –, em que o artista canta uma música, enquanto incorpora no palco um xamã tecnológico.

O espetáculo é inspirado em um trabalho de pesquisa que Marcelo Gabriel realiza há anos entre índios de Minas Gerais e da Amazônia. Respeito muito a cultura indígena, relegada a lixo. Tento estabelecer uma linguagem e aprender com eles, que têm um sofisticação incrível", conta o artista, que resgata a sabedoria coletiva e milenar ao reproduzir no palco danças tribais, circulares e anímicas de rituais sagrados ancestrais.

A presença do xamã é uma tentativa de estabelecer uma relação curativa com o público, em um espetáculo que discute as fraturas do corpo brasileiro. "Eu sou o dínamo que amplifica a voz coletiva. Convido o público a conhecer outro tipo de realidade", explica o artista, em clara referência ao modelo de sociedade atual, que banaliza e uniformiza questões básicas como a liberdade de pensar e de agir.

O espetáculo é a terceira parte da Série Antropofágica, de 2004, que Marcelo Gabriel já mostrou no Brasil e em países como o Canadá e a Alemanha. Água Viva também é uma homenagem a pensadores admirados pelo artista como Nietzsche, Foucault e Milton Santos. "Comecei a ler Nietzsche aos 15 anos. Depois disso, achei que não precisava de mais nada e parei de estudar (risos). Até hoje, trago seus pensamentos imantados no meu corpo", diz.

Como explicar com palavras um espetáculo que dispensa o seu uso? O melhor mesmo é experimentá-lo ao vivo, em uma das apresentações deste multiartista, que vem pela primeira vez a Curitiba. "Quero que o público entenda meu trabalho com o coração e não com a mente". Serviço: Água Viva. Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Hoje e amanhã, às 21 horas, e no domingo, às 19 horas. Ingressos a R$10 e R$5 (clientes, idosos e estudantes).

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