• Carregando...

No fim do recém-lançado DVD "Baladas do asfalto & outros blues ao vivo" (MZA), Zeca Baleiro embarca num Volks TL vermelho e põe o pé na estrada. Ciclo encerrado, hora de partir para outra - é exatamente esse o momento do artista que o DVD registra. A turnê de seu último CD, "Baladas do asfalto & outros blues", chega ao fim, ele se despede da sonoridade rock-folk-violão-de-aço e prepara seu próximo projeto -um CD infantil, para ser lançado provavelmente no segundo semestre de 2007.

- É o meu "Arca de Noé" - brinca, referindo-se ao CD, que terá o cartunista Laerte assinando a parte gráfica e a participação de Frejat, Pato Fu, Ednardo, Chico César e outros artistas convidados.

Um disco infantil é resultado natural de uma carreira que começou com as crianças - o primeiro trabalho remunerado de Baleiro foi compondo para peças infantis.

- Desde então sempre compus para crianças, acumulei um repertório muito grande. É um relaxamento, você se permite coisas que você se censura em seu trabalho adulto - diz. - Talvez seja um disco duplo. Um teria as músicas de bichos, como "Tigre de bengala" e "Foca fofoqueira". O outro seria mais geral, de brincadeiras com as palavras, como "Calango do calango" e "Chula do chulé".

Entre os clássicos discos infantis dos anos 80 e a modernidade de Adriana Partimpim, Baleiro acredita que está mais próximo dos primeiros.

- É mais "Arca de Noé", "Saltimbancos" mesmo. A Adriana faz uma abordagem mais adulta. O meu disco se aproxima de como seria com crianças compondo. Está mais para trilha de desenho animado. Mas tem uma pitada de veneno, claro - ressalta, sorrindo.

Sobre o novo DVD, gravado em junho no Sesc Pinheiros, Baleiro reconhece que o formato "ao vivo" foi banalizado, mas acredita que em alguns casos, como o de seu show, ele se justifica.

- Eu particularmente não gosto muito de ouvir discos ao vivo. Mas esse show funciona. A principal razão é porque o formato do disco se adequou muito bem ao vivo, por ser um disco de banda, orgânico - explica, que não pretende retomar essa sonoridade em trabalhos futuros. - Foi prazeroso, mas tudo tem uma hora para acabar. É uma sonoridade agradável, ligeira, mas agora quero fazer experimentações no estúdio.

O DVD, que também tem versão em CD, tem no repertório músicas de "Baladas do asfalto & outros blues", lançado em 2005. Dele, estão "Meu amor minha flor minha menina", "Flores no asfalto" e "Alma nova", entre outras. Mas há canções de discos anteriores, como "Telegrama" e "Babylon", com arranjos adaptados para o projeto. Outros artistas são lembrados, como Benito di Paula ("Retalhos de cetim") e Waldick Soriano ("Meu coração está de luto". Durante o show, ele chama Soriano de "bluesman brasileiro".

- Na verdade, quero dar uma cutucada, fazer as pessoas pensarem. Estamos num tempo de revisão histórica, com Odair José sendo homenageado e outros compositores dessa geração sendo revalorizados. O que é ótimo, porque hoje tem tanta coisa ruim na FM com verniz de bacana... Odair foi mais longe que isso! Os tempos são propícios para a enganação.

Fã de Roberto Carlos, Baleiro porém vê com desconfiança sua aproximação com o funk de MC Leozinho (o cantor participou do especial de fim de ano do Rei).

- Deve ser o cúmulo da ousadia para ele, não é? Acho que ele quer parecer atual. Ninguém quer parecer atrasado - diz, num tom que deixa talvez escorrer gotas de uma ácida e involuntária autocrítica.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]