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Foto: Eletrobrás
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Os dois povos mais espantosamente eficientes na face da Terra são os japoneses e os alemães. O Japão fechou as fronteiras quando da chegada dos missionários jesuítas e compradores europeus, no fim do século 16, e as teve abertas a bala pelos americanos na segunda metade do século 19. Na primeira metade do século 20, eles já haviam alcançado a tecnologia ocidental o suficiente para (junto com os alemães!) darem muito trabalho à Rússia e aos EUA na Segunda Guerra Mundial.

No fim desta mesma guerra, a Alemanha foi repartida em duas, uma comunista e outra social-democrata, com a União Soviética mandando naquela e os EUA mandando nesta. Os muitos milhares de alemães que moravam fora do território definido pelas potências como fronteiras da Alemanha (ou melhor, das Alemanhas) foram literalmente arrancados de casa, com a roupa do corpo, e conduzidos na marra para uma das novas Alemanhas. Foi uma limpeza étnica pra racista nenhum botar defeito; um dos resultados é que hoje ninguém fala alemão na cidade onde nasceu Kant, que no tempo dele era Königsberg e hoje é o enclave russo de Kaliningrado, dentro da Polônia. Enclave russo pode. Alemão não.

Mas mesmo assim, mesmo com centenas de milhares de refugiados, a Alemanha Ocidental (a parte controlada pelos EUA) cresceu e prosperou, tornando-se novamente o motor econômico da Europa. Já a parte comunista, bom, tornou-se o país comunista mais bem-organizado de acordo com as teorias marxistas. Imaginem vocês que as pessoas tinham até comida! A polícia secreta (a famosa Stasi) tinha uma ficha para cada cidadão, e cerca de 2,5% da população (que se saiba) fazia bico de informante deles! Como Estado comunista, não houve nenhum melhor nem mais bem-organizado. Até hoje eu tenho uma máquina fotográfica de filme excelente, fabricada lá (uma Praktika LTL, para os interessados). O próprio Putin viveu lá muitos anos como oficial da KGB, e provavelmente aprendeu bastante com seus hospedeiros.

Comparando-se, contudo, as Alemanhas, tinha-se do lado comunista uma ditadura medonha,  economicamente equivalente a uma ditadura-padrão de Terceiro Mundo, ou talvez pior um pouquinho. Do lado social-democrata, tinha-se um país rico e livre. Daí, inclusive, as dificuldades dos alemães ocidentais quando os “Ossis” (“orientais”) chegaram, após a queda do Muro de Berlim. Era muita gente muito pobre, pelos padrões alemães-ocidentais. É o mesmo medo que os sul-coreanos têm em relação a uma reunificação da Coreia. Até hoje, mesmo com enormes esforços governamentais, há uma diferença palpável entre os dois lados da agora única Alemanha.

Já o Japão não foi dividido: ficou todo sob a égide americana. Há quem diga que as bombas atômicas foram detonadas para forçar a rendição imediata do Japão e assim evitar a entrada de tropas soviéticas numa invasão regular. Não sei se é verdade, mas, como dizem os italianos, se non è vero, è ben trovato: se não é verdade, poderia ser. O fato é que a Constituição japonesa, vigente até hoje, foi escrita em inglês e traduzida para o japonês. O país estava destruído. As maiores cidades, com casas tradicionalmente feitas de papel e madeira, haviam sido destruídas (o ataque americano com bombas incendiárias a Tóquio matou mais gente que ambas as bombas nucleares juntas). E, mesmo assim, o Japão retomou quase que imediatamente seu crescimento, ao ponto de, alguns anos atrás, ter sido considerado um perigo econômico para os EUA. A coisa por lá só desandou por problemas literalmente sexuais: os japoneses pararam de ter filhos e a população está envelhecida.

Para alimentar com energia todas aquelas fábricas e anúncios de neon das megalópoles, os japoneses apelaram para a energia nuclear. A mesma força que assassinara tantos de seus cidadãos não combatentes, que ceifara a vida de tantas mulheres e crianças, foi posta ao serviço do crescimento econômico japonês. Até que em março de 2011 um terremoto (coisa comum no Japão) alimentou um tsunami (idem) e a usina nuclear de Fukushima, localizada próxima à costa, foi aberta como uma lata de sardinhas. A crise que ali começou continua até hoje. Toda a região ao redor foi contaminada com radiação, e a evacuação feita às pressas, aparentemente, revelou-se permanente. Para esfriar o reator da usina e impedir um acidente pior ainda (dizem que há a hipótese de ele esquentar tanto que se ponha a derreter o chão até sair do outro lado do planeta), a única fonte de resfriamento disponível era a água do mar. Tamanha foi a contaminação da água que até hoje peixes pescados na Costa Oeste dos EUA fazem um contador Geiger apitar.

Vimos dois casos, dois desastres, ambos sob os cuidados dos povos mais eficientes do mundo: o comunismo, na Alemanha Oriental, e a energia nuclear, no Japão (Chernobyl não vale; russo nunca foi conhecido por ser cuidadoso). Nenhum dos dois deu certo. Isto deveria ser uma lição para nós, que temos cá nossos muitos talentos, mas dentre os quais não se inclui a eficiência dos japoneses e alemães. É preciso, urgente, necessário, que não nos metamos a tentar fazer funcionar aqui nem comunismo nem energia nuclear.

Aquele já foi evitado com chutes de trivela por duas vezes, e continua forçando as maçanetas e trancas das janelas. Esta, infelizmente, está em ação, num lugar que, se houvesse sido escolhido pelos Três Patetas, não seria mais adequado: uma beira de praia turística, num lugar chamado Itaorna (em língua de índio: “pedra podre”), exatamente no meio do caminho entre as duas maiores megalópoles do Brasil, para que, dependendo do vento, seja necessário evacuar o Rio de Janeiro ou São Paulo. Coisa fácil, com nossa malha viária e ferroviária. Seria melhor contratar uns alemães para desmontar aquilo tudo e fazer lá um monumento à loucura governamental.

Faço minhas as palavras de Nancy Reagan: “apenas diga não”. Se nem alemão e japonês conseguiram fazer funcionar comunismo e energia nuclear, é melhor a gente não brincar com essas coisas.

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