Devo admitir, prefiro o Reveillon ao Natal. E não apenas pela minha falta de fé, mas pelo clima de esperança habitual na virada do ano. É como se uma atmosfera de otimismo coletivo inescapável fosse criada, capaz de tornar qualquer ambiente melhor. Pois, a partir de amanhã, o novo governo não terá o direito de se deixar levar por tais ares.
Digo, quem faz uma campanha tão feroz como foi essa trilhada pelo bolsonarismo, demonizando absolutamente todos os adversários e se colocando como único caminho possível para a solução de problemas e o bem da sociedade, não tem sequer o direito de nutrir esperança. Cabe agora agir. Fazer jus ao sermão.
Ironia das ironias, convém a Jair Bolsonaro, bem como a seus filhos e fãs convictos, adotar desde já o próprio lema utilizado durante a eleição e se acostumar com a dura realidade: as desculpas acabaram. Por pior que ele seja, e de fato o é, não adiantará se escorar no desastroso legado deixado pelo PT para justificar patinadas, escândalos, ou erros de avaliação. Nem mesmo atacar a imprensa ou apelar para a providência divina no intuito de justificar comportamentos amalucados. Tampouco acionar integrantes do governo pinçados com a nítida intenção de entreter o auditório.
Por exemplo, é verdade que Paulo Guedes reúne mais poderes do que nenhum outro ministro da Fazenda em nossa história, incluindo Zélia Cardoso de Mello e Delfim Netto, mas isso de nada adiantará se ele não tiver carta branca para atuar como pretende e a sua agenda liberal perder fôlego ao se chocar com retóricas populistas.
Quanto a Sérgio Moro, o único ministro relevante do ponto de vista político além de Guedes, será uma lástima se não for capaz de manter — por fraqueza ou impedimento — a mesma postura que o levou a ser ungido pelas massas. Incluindo casos relativos a integrantes da administração, como esse envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro. Aliás, especialmente esses.
E, por falar na prole sangue azul, será um problema da futura gestão cuidar para que os filhos do ‘mito’ atrapalhem o mínimo possível e atentem para o decoro que se espera de representantes do povo. Especialmente após terem vendido a imagem de paladinos imbuídos da missão de exercitar uma política diferente da tradicional.
Em resumo, o falatório das últimas semanas, que dizia ser cedo para questionar ou fazer qualquer mínima ponderação, já não se sustenta. Agora é para valer.
Pelo bem do Brasil, espero honestamente que Bolsonaro tenha sorte.
E, de todo modo, que a imprensa atue como o momento pede.
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