Em meio à divisão, o medo. A simples perspectiva de um governo Fernando Haddad provoca arrepios em milhões de brasileiros. É compreensível. Após anos de hegemonia, beira mesmo o absurdo a hipótese de voltarmos a ser governados pelo PT em tão pouco tempo. E não só isso. Também assusta imaginar como seria um mandato petista pós-impeachment. Vingativo e disposto a pôr em prática sua agenda autoritária? Não se sabe, mas quem há de negar?
Por outro lado, a ideia de uma administração Jair Bolsonaro não se mostra menos dramática. A começar pelo óbvio, o fato de que seria um presidente sem experiência alguma no Executivo. Um político talhado para ser “baixo clero”. Uma espécie de Tiririca, cujo grande mérito foi o de ter compreendido a repulsa pela esquerda e dela ter se aproveitado para a fabricação de um personagem. Como se isso não bastasse, a retórica bolsonarista, incluindo aí a do candidato a vice na chapa, general Mourão, não pode ser subestimada: trata-se, inequivocamente, de uma ameaça explícita à nossa democracia.
Contudo, para além das dúvidas provocadas por essa autêntica escolha de Sofia que se avizinha, e embora o próprio estado de saúde de Bolsonaro ainda suscite intranquilidade, não cabem ponderações a respeito de um grupo cuja atuação foi fundamental para o atual estado de coisas. Um sócio em todos os piores momentos vividos pelo Brasil nos últimos quinzes anos e, ao que tudo indica, também naqueles que virão. Falo, é claro, do PSDB.
Desde a redemocratização, não houve legenda mais covarde. Não existiu grupo de pessoas mais vaidoso. Não houve, e com toda sorte esta eleição tende a impor-lhes o começo do fim, turma mais descomprometida com o país do que o Partido da Social Democracia Brasileira.
Que o diga o PT. Ao longo do período em que o partido liderado por Lula ficou encastelado no poder, saqueando os cofres públicos e aparelhando o sistema para perpetuar uma perversa dinastia, o Brasil não pôde contar com os tucanos. Em seus melhores momentos, a oposição foi tímida. Nos piores, e esses se repetiram durante a maior parte do tempo, simplesmente inexistiu.
E o que ainda é mais garve, não foram poucas as vezes em que os peessedebistas — incluindo aquele que foi o nosso maior presidente nos últimos trinta anos — se empenharam em sabotar os próprios interesses. Ou a não expulsão de Aécio Neves pode ser vista de outra forma?
Também não preciso recorrer às declarações muitas das vezes inacreditáveis feitas por Fernando Henrique Cardoso, nem tampouco à tradicional barafunda que impera no tucanato paulistano. Há coisa de poucos dias, o elogiado senador Tasso Jereissati fez questão de vir a público tratar do “conjunto de erros memoráveis” do partido. E ainda fez questão de pontuar “o grande erro” que foi ter entrado no governo Temer.
Não é comovente? Quer dizer, em um cenário em que seu adversário é pragmático até a medula, incapaz de admitir até a culpa mais óbvia, o sujeito resolve deitar no divã em plena praça pública para expor as mazelas do partido.
Falo de Aécio, ressalto os sincericídios de FH e Tasso, mas a verdade é que a lista de tucanos com rabo de pavão é extensa. Haja vaidade. Haja descompromisso com a tão importante disputa das narrativas.
Apontar o favorito dessa eleição não vem ao caso. Não agora. Ainda é cedo. Entretanto, fica cada vez mais claro quem será o grande derrotado. Convenhamos, fizeram por merecer.
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