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Marlon Brando caracterizado como Don Vito Corleone, de "O Poderoso Chefão"
O ator Marlon Brando caracterizado como Don Vito Corleone, de “O Poderoso Chefão”| Foto: Paramount Pictures/Divulgação

Neste mês de abril, cinéfilos e centros culturais de todo o mundo estão celebrando o centenário de Marlon Brando com a exibição de um punhado dos quarenta filmes estrelados por ele. É o momento ideal para analisar sua carreira e pensar um pouco mais sobre o ator americano, nascido em 3 de abril de 1924, que carrega uma aura ambivalente: uma lenda, mas também uma figura problemática.

Seu caminho para o estrelato começou em 1951, sete anos após iniciar sua formação em teatro, estrelando Um Bonde Chamado Desejo. No longa do diretor Elia Kazan, Brando interpretava um mero galã, mas foi capaz de estabelecer um novo patamar de qualidade para a indústria, que passou a valorizar performances intensas como a dele.

Duas décadas depois, beirando os cinquenta anos e com uma estatueta do Oscar largada em casa (fruto da atuação em Sindicato de Ladrões), fez seu papel mais marcante: Don Vito Corleone, personagem basilar de O Poderoso Chefão, lançado em 1972. Após esse trabalho, Brando começa a questionar o esquema hollywoodiano e a gerar controvérsias no setor. A mais notável delas foi quando recusou seu segundo Oscar de Melhor Ator pelo papel do mafioso, em 1973.

Na ocasião, ele furou a suntuosa cerimônia e mandou em seu lugar a ativista nativa-americana Sacheen Littlefeather para realizar um discurso criticando a forma como os povos indígenas eram retratados no cinema. Uma postura nada surpreendente de alguém que passou a vida levantando fundos para políticos democratas e participando de piquetes da esquerda americana.

Também na década de 1970, destacou-se por sua atuação em Último Tango em Paris. O longa de Bernardo Bertolucci foi “cancelado” diversas vezes, a mais recente em 2016, no auge do movimento #MeToo, quando uma de suas cenas se tornou símbolo da violência sexual normalizada nos cinemas. Na tal sequência, o protagonista de Brando utiliza um pedaço de manteiga para simular uma sodomia forçada com a personagem da atriz Maria Schneider, na época com somente 19 anos. O ator e o diretor haviam combinado de surpreender a jovem com o uso do laticínio. “Eu me senti humilhada e, para ser sincera, tive um pouco a impressão de ser violentada por Marlon e Bernardo”, declarou Maria, em uma entrevista de 2007.

Como consequência, Último Tango em Paris foi rebaixado do status que tinha por espectadores mais sensíveis e hoje é usado para eclipsar os acertos esporádicos da carreira de Marlon Brando. Vale reforçar que nem Brando nem Maria estavam vivos (ele morreu em 2004; ela, em 2011) para comentar o cancelamento em 2016, por isso, inteligentemente, muitos preferem não analisar o caso tão a ferro e fogo.

Manteiga à parte, algumas joias de sua filmografia ainda merecem ser vistas. Conheça cinco delas que estão disponíveis nos streamings brasileiros.

Viva Zapata! (1952) 

Dirigido por Elia Kazan, Marlon Brando entrega uma atuação marcante como Emiliano Zapata, líder revolucionário mexicano. O ator personifica a intensidade e a determinação do personagem, destacando-se pela sua interpretação visceral. Seu trabalho captura a complexidade e a humanidade da figura histórica, elevando o filme a um retrato apaixonante da luta pela justiça e liberdade no México. Não à toa, o senador republicano John McCain, morto em 2018, considerava este o seu filme predileto.

Onde assistir: Star+ e Looke

Sindicato de Ladrões (1954) 

Novamente sob o comando de Kazan, Brando vive Terry Malloy, um ex-pugilista envolvido com um sindicato corrupto. Brando domina a tela com sua presença e a vulnerabilidade cativante do personagem, retratando de forma poderosa a batalha interna entre lealdade e bom senso do lutador aposentado. No fim, o lado bom da consciência vence e o protagonista decide combater a indecência, ressaltando a importância da justiça em um ambiente degradado. Com o filme, Brando conseguiu seu primeiro Oscar.

Marlon Brando levou seu primeiro Oscar pelo trabalho em "Sindicato de Ladrões"
Marlon Brando levou seu primeiro Oscar pelo trabalho em "Sindicato de Ladrões"| Columbia Pictures/Reprodução

Onde assistir: Max (antigo HBO Max) e aluguel no Apple TV+

O Poderoso Chefão (1972) 

Dirigido por Francis Ford Coppola, o ator vive Vito Corleone, líder respeitado e temido da máfia italiana nos Estados Unidos. Brando personifica a densidade do personagem com maestria, criando o retrato de um líder sagaz e humano. Os gestos sutis e seus olhares penetrantes fazem de Don Vito um dos vilões mais complexos e amados dos cinéfilos. O Poderoso Chefão é um marco incontestável na história do cinema, fazendo jus ao título de clássico.

Onde assistir: Star+, Paramount+ e Telecine

Apocalypse Now (1979) 

Em outra colaboração com Coppola, Brando entrega uma atuação hipnotizante como Coronel Kurtz, um líder militar enlouquecido em meio à Guerra do Vietnã. Ele encapsula a loucura e o magnetismo do misterioso personagem de maneira inesquecível, transmitindo uma presença imponente e perturbadora que ecoa nas poucas cenas em que se faz presente.

Onde assistir: Prime Video

A Cartada Final (2001) 

Depois dos anos 1970, é difícil achar um grande filme de Brando (principalmente algum disponível nas plataformas de streaming). A escolha que resta para trazer um panorama mais completo é este longa sobre um roubo improvável realizado por personagens vividos por Robert De Niro e Edward Norton. Marlon Brando vive o imponente Max, um criminoso experiente que planeja o almejado último grande golpe. Sua presença lendária e sua habilidade em transmitir nuances emocionais enriquecem o suspense do filme. Realmente, foi a “cartada final” do ator, morto três anos depois.

Brando e De Niro contracenaram em "A Cartada Final"
Brando e De Niro contracenaram em "A Cartada Final"| Paramount Pictures/Divulgação

Onde assistir: aluguel no Prime Video e no Apple TV+

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