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Cena do  documentário  The Look of Silence:  massacre na Indonésia. | Reprodução/
Cena do documentário The Look of Silence: massacre na Indonésia.| Foto: Reprodução/

Em 1965, após o golpe militar que derrubou o presidente Sukarno (1901-1970) cerca de um milhão de indonésios foram mortos em uma operação “limpeza”. O novo governo patrocinou milícias paramilitares – espécie de esquadrões da morte como o grupo Pancasila Youth, conhecidos como os “gangsters” - para exterminar opositores do sistema.

Em um ano de terror, qualquer cidadão suspeito de ser “comunista” poderia ser executado sem julgamento. A violência recaiu, em geral, sobre pessoas do povo que queriam garantir direitos sociais e individuais como trabalhadores sindicalizados, camponeses, artistas, intelectuais e imigrantes chineses.

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Os dois lados desta história foram transformados em documentários pelo cineasta norte-americano Joshua Oppenheimer. As vítimas ganharam voz em “The Look Of Silence”, documentário disponível no Netflix desde 1º de maio. O filme foi indicado ao Oscar de melhor documentário em 2016 e venceu mais de vinte prêmios internacionais.

O outro lado, o dos algozes, já tinha exposto sua versão no também premiado “O Ato de Matar”, lançado em 2012. Com produção executiva de Werner Herzog e Errol Morris, o filme levou dez anos para ser concluído. Nele, o diretor Oppenheimer induziu os “gangsters”, ainda hoje tratados como heróis em seu país, a reencenarem algumas das atrocidades que cometeram.

Instigados pelo diretor, eles constroem um híbrido de musical, faroeste e filme de aventura — gêneros americanos que fazem muito sucesso no país. Nele, mostram como matar se tornou corriqueiro com a justificativa de salvar o país do comunismo.

Lançado em 2014, “The Look Of Silence” serve como um epílogo de “O Ato de Matar” ao centrar seu roteiro no personagem Adi Rukun, irmão de uma das vítimas do pogrom de Suharto, que substituiu Sukarno no poder.

Depois de assistir às imagens que Oppenheimer filmou, em que os assassinos se vangloriam de seus atos, Rukun parte para confrontar pessoalmente alguns deles. A maioria deles é composta de pessoas que integram a estrutura administrativa do país no alto escalão e até membros de sua própria família.

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O “silêncio” no título do filme se refere a incapacidade do país, passados mais de cinquenta anos, tocar na ferida que o divide entre vítimas e carrascos, que precisam conviver no meio das paisagens paradisíacas das praias e das vilas bucólicas de camponeses.

1 milhão

de mortos é a estimativa com que os filmes de Oppenheimer trabalham. De acordo com as estimativas, os números de vítimas variam de 500 mil a um 1,5 milhão.

Proibido

O filme foi distribuído na Indonésia com a ajuda de órgãos governamentais: a Comissão Nacional de Direitos Humanos e do Conselho de Arte de Jacarta.

Em 2015, o documentário foi exibido no maior cinema da indonésia em duas sessões para mil pessoas. Depois, foram feitas mais de 500 exibições públicas pelo país, muitas delas tumultuadas ou canceladas por questões de seguranças depois de manifestações violentas dos “gangsters”. Desde o ano passado, o filme (a primeira produção da Indonésia indicada ao Oscar) está coma exibição proibida no pais depois de uma deliberação do órgão censor do exército.

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