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Javier Milei, candidato a presidente da Argentina, em performance imitando o cantor Leonardo Favio
Javier Milei, candidato a presidente da Argentina, em performance imitando o cantor Leonardo Favio| Foto: Divulgação Eltrece

Nos últimos dias ficou quase impossível ligar a tevê na Argentina e não pegar um programa de fofocas debatendo Javier Milei. O presidenciável que, segundo as pesquisas de intenção de voto, tem grande chance de chegar à Casa Rosada nas próximas eleições federais, passou a despertar interesse desse tipo de atração por ter uma nova namorada: a comediante Fátima Florez.

Muito amada no país, a artista de 45 anos (idade incerta, visto que há também fontes que dizem 42 e outras que dizem 46; Milei tem 52) é reconhecida como a melhor imitadora de Cristina Kirchner. O que significa que, numa eventual vitória do candidato libertário, o posto de Primeira Dama poderia ser ocupado por alguém que fez fama satirizando a atual vice-presidente argentina e que por anos foi a Primeira Dama, antes de assumir a presidência.

O namoro, que ainda não completou dois meses mas já foi confirmado por ambos, é só mais uma das conexões com a cultura pop local do autointitulado "filosoficamente" anarco-capitalista, mas "na vida real" um minarquista. Antes de Fátima, que conheceu em dezembro de 2022 na mesa de um show de variedades argentino assemelhado ao conduzido pela nossa finada Hebe Camargo, Milei se relacionou com a cantora Daniela Mori, que lançou a música Bomba Tántrica em homenagem ao então namorado.

O pop dançante, que cita o hoje deputado e professor de economia nominalmente, brinca com o fato dele ter atuado como professor de sexo tântrico no passado. Uma das anedotas que adora repetir quando alguém menciona essa sua atividade é que “no sexo tântrico, qualquer performance abaixo dos 45 minutos é considerada ejaculação precoce”.

Declarações jocosas como essa já estão sendo devidamente recuperadas para confrontar o candidato em debates e entrevistas com jornalistas de política. Milei terá de responder por muitas brincadeiras e bravatas ditas em público ao longo de uma década de exposição na mídia nacional, algo que guarda muita relação com os anos em que Jair Bolsonaro, com quem simpatiza, passou transitando em programas como o Superpop, da apresentadora Luciana Gimenez, e o extinto CQC, da Band (cuja origem é argentina, aliás).

Numa dessas participações em programas de variedades que ajudaram a popularizar sua figura de cabelos desgrenhados (penteados pelo vento, como gosta de dizer), o político resolveu interpretar um sucesso de Leonardo Favio, cantor e diretor de cinema de Buenos Aires que era militante do peronismo (combatido por Milei). De bandana na cabeça e com muito denodo, arrancou alguns tímidos aplausos com a imitação, arte na qual sua atual namorada é craque – além de Cristina, ela encarna com perfeição Patricia Bullrich, que também está no páreo presidencial.

Um “rolinga” que ama Pavarotti

Na adolescência, Milei foi cantor da banda Everest, que se empenhava em tocar músicas dos Rolling Stones. Ele diz ter visto 14 shows da banda liderada por Mick Jagger e Keith Richards, que é motivo de verdadeiro culto no país vizinho. Por lá, existe até um termo para definir quem é seguidor dos Stones, ostentando cabelão longo e vestindo calça apertada: rolinga.

Apesar dessa conexão com o rock, o estilo não é o único apreciado pelo rolinga Milei. Conforme noticiaram os programas de fofocas, as trocas de mensagens que o aproximaram de Fátima Florez começaram com o envio de uma canção interpretada pelo tenor Luciano Pavarotti, The Elixir of Love. A pretendente teria respondido com Flowers, hit de Miley (!) Cyrus que dominou as paradas nos últimos meses.

Falar em matrimônio, além de cedo demais, pode bater de frente com as convicções pessoais do presidenciável, que acumula citações dizendo não acreditar nesse tipo de acordo. Para ele, quando as pessoas se casam, elas param de se cuidar e a relação definha. Ele é um entusiasta do namoro, o que é tão raro que setores da imprensa argentina chegaram a especular maldosamente que esse posicionamento esconderia uma relação incestuosa com sua irmã, a estrategista Karina Milei, importantíssima para os resultados que a coligação La Liberdad Avanza tem conquistado até o momento. As insinuações enojam o deputado, que de propósito avisou que a irmã ficaria no posto de Primeira Dama. Isso antes de Fátima surgir no horizonte.

A humorista e atriz argentina, que iniciou sua carreira de sucesso imitando Xuxa (a brasileira até já lhe mandou um vídeo de feliz aniversário), difere muito de Javier Milei no tema do matrimônio. Por mais de duas décadas, foi casada com seu próprio empresário, Norberto Marcos, e a separação, noticiada em junho, ocupou um bom espaço nos programas vespertinos. Mas não por qualquer escândalo, ao contrário. O divórcio chamou a atenção pela forma como os ex-cônjuges falaram um do outro em entrevistas, sempre entre muitas lágrimas, reafirmando que seguiriam se amando, porém não mais sob o mesmo teto.

Confronto com artistas

Toda essa ligação com o mundo artístico e com o universo das celebridades não deve impedir Milei de extinguir o Ministério da Cultura caso seja conduzido à Casa Rosada. Em seu vídeo mais viralizado, “El Peluca” (apelido que alude à vasta cabeleira) surge descolando de um quadro branco adesivos com os nomes de todos os ministérios que deseja exterminar. O da Cultura está entre os arrancados com o brado “AFUERA!”. O candidato diz pretender governar a Argentina com apenas oito ministros de Estado.

Em sua maioria, a classe artística está preocupada com as ideias expostas por Javier Milei, não apenas para o setor. Lali Espósito, uma das cantoras e atrizes mais populares do país, lamentou o bom desemprenho do libertário nas eleições primárias e o classificou como perigoso. Já a banda de rock La Renga não gostou nada de ver um de seus refrãos adaptados em um cântico de campanha do candidato.

O problema com o Callejeros, um dos grupos preferidos do técnico do Flamengo, Jorge Sampaoli, foi maior. Seu vocalista associou Milei ao nazismo em uma apresentação, para a fúria do candidato, que prometeu entrar com ação judicial. Apesar de se dizer um católico que não frequenta a Igreja, o político já declarou que pretende se dedicar exclusivamente a estudar a Torá (livro sagrado do judaísmo) após deixar a presidência argentina.

Outra questão que vira e mexe surge na mídia hermana é sobre o destino dos cachorros de Javier Milei. Ele, que já chegou a possuir cinco mastins ingleses, batizados com nomes de economistas liberais, hoje prefere não dar detalhes sobre suas paixões caninas. Tudo porque uma brasileira que o ajudava a passear com os cães diariamente ouviu uma ameaça vinda de alguém de dentro de um automóvel de que os animais estavam com os dias contados. Se eles irão para a Casa Rosada, ao lado da estrela do humor Fátima Florez, os argentinos responderão em 22 de outubro ou em 10 de dezembro, em caso de haver segundo turno.

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