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“O Lado Sombrio de Hollywood” revela abusos infantis e desfaz a ilusão da fama

"O Lado Sombrio de Hollywood" revela crimes dos astros
Holofote do crime: "O Lado Sombrio de Hollywood" revela escândalos dos astros (Foto: Divulgação Max)

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A série documental O Lado Sombrio de Hollywood, disponível no Max, expõe os escândalos e abusos por trás da fama. A série revela histórias reais e impactantes de atores — muitos ainda crianças — que enfrentaram traumas, exploração e sobrecarga emocional nos bastidores da indústria do entretenimento.

A cada episódio, o programa examina histórias reais de abusos de poder, decisões controversas, negligência e práticas duvidosas em grandes produções de cinema e TV. A proposta, assim, lança luz sobre os aspectos menos conhecidos — e muitas vezes ocultados — de Hollywood. A série combina entrevistas, imagens de arquivo e análises críticas para reavaliar o impacto dessas produções no público e na cultura pop. 

No entanto, é importante ressaltar que não é uma obra para se assistir despretensiosamente. O lado obscuro da fama choca e deve ser analisado com seriedade, funcionando como um espelho da sociedade atual e revelando o verdadeiro perfil dos heróis contemporâneos. Nesse sentido, a produção não suaviza os fatos. O conteúdo é pesado, aborda temas delicados e pode causar desconforto, principalmente em espectadores mais sensíveis. 

Ataque contra a pureza

Logo no primeiro episódio, o destaque é o caso de Stephen Collins, ator consagrado por interpretar o pastor protestante e pai de família na série O Sétimo Céu (7th Heaven), que narra a vida da família Camden sob sua liderança. O sucesso de Sétimo Céu foi estrondoso: alcançou 7,56 milhões de telespectadores, tornando-se o programa mais assistido da história da Warner Bros até então. No Brasil, O Sétimo Céu foi transmitido pela Sony Entertainment Television na TV por assinatura e, na TV aberta, pelo SBT durante os anos 2000, conquistando uma legião de fãs.

O escândalo envolvendo Stephen Collins veio à tona em 2014, abalando a imagem do ator no mundo todo. Ele admitiu abusos sexuais contra três meninas menores de idade, entre dez e 13 anos, em crimes ocorridos entre 1973 e 1994. O impacto foi imediato: a reexibição de O Sétimo Céu saiu da TV americana, e Collins foi excluído de grandes projetos.

Dentro desse contexto, o caso revela como o culto irrestrito às celebridades pode criar condições para que abusos sejam cometidos longe da suspeita do público. Ao acreditar que todas as suas ações seriam admiráveis, o ator perdeu a noção da própria falibilidade, cometendo crimes enquanto recebia a adulação da plateia.

Infância roubada

Na sequência, o segundo episódio de O Lado Sombrio de Hollywood traz à tona o universo dos atores mirins, explorando como a fama precoce transformou a infância de muitos deles em uma experiência traumática. Nesta edição, observa-se o impacto de conviver intensamente com colegas adultos — que interpretavam irmãos ou pais — e, ao fim das gravações, enfrentar a dura realidade de que nada daquilo era uma família real. Além da desilusão, muitos desses jovens enfrentaram problemas familiares graves, se envolveram com drogas, álcool e, em alguns casos, acabaram cometendo crimes.

A produção evidencia a rejeição e o abandono que essas crianças sofriam ao término de cada projeto, revelando como a imaturidade natural da idade, combinada à fantasia da atuação, deixava marcas emocionais profundas e irreversíveis. Um exemplo forte é o de Brian Bonsall, que viveu Andy Keaton na clássica série "Family Ties" ("Caras e Caretas" no Brasil), exibida originalmente entre 1982 e 1989 — e que chegou ao público brasileiro pela Rede Globo e, depois, pelo canal Sony. Assim como ele, Dee Jay Daniel também compartilha, já adulto, a visão crítica sobre os danos do estrelato precoce e os impactos na formação emocional.

A infância, como ressalta o documentário, é essencial para o desenvolvimento saudável de qualquer indivíduo. No caso dos atores mirins de Hollywood, a linha entre fantasia e realidade se tornou perigosamente tênue. Assim, mesmo com sucesso e autonomia financeira, essas crianças permaneciam vulneráveis, sendo tratadas como adultos sem a devida maturidade emocional.

Sem aprender a controlar impulsos e com a vaidade alimentada desde cedo, muitos enfrentaram consequências devastadoras. Em tempos de redes sociais e exposição precoce, o trágico destino de tantos atores mirins de Hollywood se torna um alerta urgente sobre os riscos da fama infantil.

Heróis que morreram de overdose

O terceiro episódio de O Lado Sombrio de Hollywood, por sua vez, aborda a vida dos principais atores da série Power Rangers (1993), que conquistou enorme fama nas décadas de 1990 e 2000, mas que deixou um legado de destruição pessoal em muitos de seus protagonistas.

Neste episódio, são narrados casos de abuso de drogas, violência e até suicídio cometidos pelos atores da franquia. É tão triste quanto preocupante observar que a série mais famosa entre os jovens da época reúne histórias tão trágicas. Ricardo Medina Jr., conhecido por interpretar o Ranger Vermelho, foi condenado por atacar e matar um homem, cumprindo seis anos de prisão. Já Jason David Frank, famoso por viver o Ranger Verde e posteriormente o Ranger Branco, teve um desfecho igualmente trágico: em 2022, tirou a própria vida após enfrentar episódios de abuso de drogas e depressão (saiba como procurar ajuda no fim deste texto).

A coincidência, como se vê, não parece casual quando a história da contratação dos atores é exposta: injustiças marcadas por jornadas extenuantes de gravação, baixa remuneração e substituições sumárias de quem ousava reclamar. Nesse ambiente tóxico, a confusão entre a vida real e a fantasia de ser um super-herói infalível acabou resultando em graves consequências.

A sordidez da vaidade feminina

O quarto episódio, intitulado Luxo e Tragédia, revela o lado sombrio do reality show The Real Housewives, indo além das aparências de riqueza e glamour. A produção retrata a rotina de mulheres abastadas em várias cidades dos Estados Unidos — e posteriormente em outros países —, marcada por festas extravagantes, viagens, intrigas e rivalidades. No entanto, por trás da ostentação, surgem histórias de traumas, escândalos e antecedentes criminais.

Entre os casos mais chocantes, destaca-se o de Danielle Staub, da edição de Nova Jersey, que antes da fama já havia sido presa por tráfico de drogas, sequestro e agressão armada. Outro exemplo é o de Jen Shah, participante de Salt Lake City, condenada a seis anos de prisão por fraude eletrônica e lavagem de dinheiro ainda durante as gravações. O documentário sugere que quanto mais tumultuada era a vida pessoal da participante, maior era sua popularidade no programa.

Em vez de simplesmente exaltar o luxo, o reality acabou evidenciando a decadência moral por trás da vida aparentemente perfeita. A exposição extrema da intimidade não apenas alimentava o fascínio do público, mas também escancarava a vulnerabilidade e a sordidez que muitas tentavam esconder sob a fachada de glamour.

Nocaute na família de lutadores

O quinto episódio de O Lado Sombrio de Hollywood traz à tona a trágica história da família Von Erich, um dos maiores clãs da luta livre americana. Essa trajetória real também inspirou o filme Garra de Ferro (2023), que, embora tenha sido bastante elogiado pelo público, acabou ignorado pelo Oscar de 2024. Segundo tabloides, o motivo teria sido o lançamento tardio do longa, quando as principais apostas da premiação já estavam consolidadas.

O episódio começa mostrando o patriarca da família, um lutador lendário conhecido pela técnica da “garra de ferro”. Determinado a construir um legado duradouro, ele treinou seus filhos para seguirem seus passos nos ringues durante os anos 1980.

Entretanto, a realidade por trás dos corpos esculturais moldados à força por treinos intensos era marcada por excessos de drogas, imaturidade e fragilidade emocional. Dos seis filhos, apenas um sobreviveu para contar a história verdadeira. O documentário corrige distorções apresentadas no filme e expõe como a ânsia de vencer a qualquer custo e a pressão pelo nome da família resultaram em uma trágica sucessão de depressão e suicídio (saiba como procurar ajuda no fim do texto).

Em suma, fica claro que uma coleção de cinturões não compensa a perda da paz interior. O documentário é intenso, cruel e verdadeiro, expondo o que a indústria do entretenimento e das redes sociais preferem ocultar. Afinal, o destino dificilmente é benevolente para quem busca a vã-glória de ser exaltado a qualquer preço.

  • O Lado Sombrio de Hollywood
  • 2025
  • 6 episódios
  • Indicado para maiores de 14 anos 
  • Disponível no Max

Onde procurar ajuda

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde)
UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais
CVV - Centro de Valorização da Vida
Site: http://www.cvv.org.br
Email: atendimento@cvv.org.br
Telefone: 188
Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio
Site: https://vitaalere.com.br/
email: contato@vitaalere.com.br
Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio - ABEPS
Site: https://www.abeps.org.br/
Email: faleconosco@abeps.org.br
Setembro Amarelo
Site: http://www.setembroamarelo.org.br/

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