“Meu Querido Zelador” é seriado de comédia argentino feito com maestria

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Um homem dedica-se à zeladoria de um condomínio por 30 anos. Da noite para o dia, os moradores decidem substituí-lo por uma piscina no terraço. Essa é a premissa de Meu Querido Zelador, série argentina lançada pelo Star+, em 2022. A ideia pode parecer simples demais. Contudo, ela é mais do que suficiente para os criadores Gastón Duprat e Mariano Cohn escreverem onze episódios num clima divertido, por vezes dramático e singular, que ainda não é encontrado em obras brasileiras do gênero.

Para aqueles que assistiram ao recém-lançado O Faz Nada, estreia de Robert De Niro no mundo das séries televisivas, o território será bastante familiar. Ambas as produções foram realizadas por Duprat e Cohn, dois amigos com formações distintas (o primeiro estudou Arquitetura e o segundo, Direito) e que têm produzido um audiovisual bastante estilizado nos últimos anos, vide os filmes O Homem ao Lado (2009) e O Cidadão Ilustre (2016). A história do zelador em vias de demissão é ainda mais irresistível do que a do crítico gastronômico cheio de manias de O Faz Nada.

O ator Guillermo Francella, um dos rostos mais famosos do cinema argentino (apenas atrás de Ricardo Darín), é o responsável por encarnar Eliseo, funcionário leal do prédio construído em uma zona rica de Buenos Aires. Ele é a escolha perfeita, pois o personagem exige alguém capaz de exprimir muitas emoções vindas de dois lados completamente diferentes: um afável e outro completamente manipulador.

Logo na cena de abertura, dá para perceber que o zelador é um homem metódico e até perturbado, preparando uma macarronada e conversando com pessoas que não existem. Atitudes como essa ficam cada vez mais comuns conforme o seriado avança.

Artimanhas de um manipulador  

Para tentar derrubar o projeto da piscina e manter sua casa, que teria de ser demolida para a criação da nova área de lazer, Eliseo usa diversas artimanhas e seu conhecimento de 30 anos daquele prédio para manipular condôminos e controlar a situação. Em uma reunião de moradores, o personagem principal dá um jeito de esconder um walkie-talkie na sala para saber o posicionamento de cada uma sobre sua possível dispensa.

Depois dessa cena, ainda no primeiro episódio, descobrimos que Eliseo tem uma sala secreta com um dossiê para cada um dos residentes, apontando quem é vegetariano, quem já teve problemas criminais e outros detalhes que não deveriam ser de conhecimento de um zelador. Tudo isso será usado para minar a ideia da piscina.

Como em muitas produções do país, Meu Querido Zelador traz em seu protagonista duas-caras um prato cheio para debater sobre moralidade e o que é certo ou errado. A interpretação de Francella ajuda a reforçar essa qualidade, podendo até confundir o espectador e gerar simpatia por seus atos dissimulados, como invadir o apartamento de um dos cabeças do projeto da piscina, só para citar uma das “pequenas” contravenções de Eliseo.

Os onze episódios passam rápido, ainda mais com apenas 29 minutos de duração. Quem ficar fascinado por Meu Querido Zelador pode comemorar: o seriado ganhará uma nova temporada no dia 29 de novembro. Portanto, agora é o momento ideal para maratonar a divertida história do empregado cínico.