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Michel Temer: obra não vai deixar marcas na história, dizem críticos | /
Michel Temer: obra não vai deixar marcas na história, dizem críticos| Foto: /

Pretensões literárias não são exatamente uma novidade na política brasileira. Podem ser boas ou ruins. Graciliano Ramos, autor de “Vidas Secas”, não só foi um dos melhores autores da literatura nacional como também se mostrou um eficiente prefeito de Palmeira dos Índios (AL).

Outro exemplo, neste caso infame, é do ex-presidente José Sarney (PMDB). Seu livro de poemas “Marimbondos de Fogo” (1978) lhe valeu a cadeira n.º 38 na Academia Brasileira de Letras e o codinome “Escritor” na lista da Odebrecht.

Caso o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff avance, é possível termos em breve um poeta no cargo máximo da República. Michel Temer, mais conhecido pela sua produção no ramo do direito constitucional, é também autor de “Anônima Intimidade”, de 2013. Trata-se de uma antologia de poemas escritos em guardanapos pelo vice-presidente durante suas viagens na ponte aérea Brasília-São Paulo.

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Ele não saiu ileso na época do lançamento. Uma dos maiores insultos veio de Roberto DaMatta: a mera possibilidade de um livro de poemas do vice-presidente fez o antropólogo querer “beber fel” e “sumir do Brasil”, escreveu ele em sua coluna no jornal “O Globo”.

“Ando à procura

De mim.

Só encontro outros

Que, em mim,

Ocuparam o meu lugar”

Qualidades

Acontece que não se deve desmerecer a obra literária de Temer tão apressadamente.

O próprio DaMatta reconheceu (não antes de receber uma carta queixosa do vice-presidente) que a menção ao livro foi um tanto gratuita em um texto que, na verdade, era uma crítica à eleição de Renan Calheiros – colega de Temer no PMDB – para a presidência do Senado em 2013.

DaMatta acabou lendo o livro, que interpretou como “um composto de perplexidades e angústias causadas pela atuação política”. E pediu que o vice-presidente desse mais ouvidos ao poeta.

Surpresa

Em uma coluna publicada recentemente no portal de literatura contemporânea brasileira “Musa Rara”, o professor de Linguística na USP Antonio Vicente Pietroforte conta que foi atrás de “Anônima Intimidade” esperando encontrar “mais um jurista garboso, vociferando contra modelos e bandas de rock”. E que acabou se surpreendendo com a poesia do político.

Embora seja visto como um conservador, Temer teria um repertório de recursos poéticos mais próximos da poesia contemporânea do que das belas letras, observou o professor – qualidade nem sempre encontrada na produção de poetas “jovens, aparentemente rebeldes e pretensamente revolucionários”.

Em poemas como “Eu” e “Por quê?”, Pietroforte encontrou, por exemplo, diálogos com poesia concreta. O professor também mostrou poemas em que é possível perceber ecos dos haicais de Leminski, poesia pós-moderna e social (mas não menciona se o sonoro verso “Embarquei na tua nau”, de “Embarque”, seria uma dessas ousadias).

“Não vou afirmar que Michel Temer é um poeta da envergadura do Ademir Assunção, do Delmo Montenegro ou do Claudio Daniel; apenas vou mostrar como sua poesia pode ser interessante por, justamente, incorporar procedimentos das poéticas contemporâneas”, escreveu.

Anônima Identidade

Michel Temer

Ed. Topbooks, 165 páginas, R$ 39

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