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Quantas vezes você assistiu a um especial de comédia e encontrou temas como alcoolismo e depressão? Provavelmente nenhuma. Mas Bill Burr, aos 56 anos, tem tanta moral e vivência no stand-up comedy que consegue sustentar um show falando desses e outros temas pesados.
O título original de Morrendo de Rir, Drop Dead Years, seu novo espetáculo disponível no Disney+ após uma década e meia de parceria com a Netflix, já brinca com um assunto indigesto. Burr defende que, entre os 49 e 61 anos, o homem está nos seus “drop dead years”. Ou seja, são os anos de se cair morto. É uma faixa etária (a dele) em que se é muito jovem para perecer de causas naturais. Ao mesmo tempo, ainda não chegou o momento de ser levado pela velhice, mas muitos homens batem as botas do nada. E ele enfatiza que essa é uma questão masculina, afinal, qual foi a última vez que você ouviu falar de uma mulher que teve uma morte fulminante no banheiro?
Tudo isso serve para Burr falar de si mesmo. O especial gravado em Seattle, numa casa de shows que recebeu performances memoráveis de Pearl Jam e outros gigantes do grunge, já é considerado o mais confessional de sua carreira. Sem beber desde 2018, ele faz boas piadas com seu grau de alcoolismo, está no meio do caminho estre a abstemia e o cara que topa humilhações sexuais para descolar umas cervejinhas. A depressão também é uma questão com a qual este está aprendendo a lidar, deixando para trás sua antiga crença de que “isso era coisa de gay”.
Cinquentão em paz com a esposa
Para quem assistiu a Tiozões, filme dirigido e protagonizado por Burr em 2023, Morrendo de Rir soará bastante familiar. Isso porque na ficção ele fazia um pai cinquentão em busca de equilíbrio para não se curvar ao mundo woke, sem perder sua essência nem arrumar confusão em casa. Ele segue na mesma toada, agora anunciando que aprendeu a fórmula para conseguir paz no matrimônio: basta dizer sim para os programas propostos por sua esposa em vez de negar tudo de maneira revoltosa – ainda que isso signifique ter de sair para comprar roupas diferentes para cada ocasião de uma daquelas cerimônias de casamento que duram o fim de semana inteiro.
Outra dica que ele dá é sobre evitar o noticiário. O humorista não se conforma com as pessoas entrando em pânico com o que leem por aí, seja sobre política (ele é um eleitor independente, que tira sarro de conservadores patriotas e também de esquerdistas que acham que vão mudar o mundo com seus cartazes de “vidas negras importam”), seja sobre a quantidade de plástico encontrada nos cereais matinais.

A melhor parte do especial surge quando ele solta seus conselhos inusitados para escolher parceiro – para namorar ou apenas conviver. Um perfil que Burr não perdoa de jeito nenhum é o da mulher que usa moletom escrito “namastê” e que se fotografa no meio da natureza fazendo coraçãozinho com as mãos e pregando autoconhecimento. “Se eu fosse um ditador, esse seria o primeiro grupo de pessoas que iria exterminar”, diz. Por mais que esteja na busca do equilíbrio e da pacificação familiar para não se tornar um velho ranheta, o comediante não está disposto a abdicar de certos preconceitos e picuinhas. O público de humor agradece.
- Bill Burr: Morrendo de Rir
- 2025
- 69 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível no Disney+
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