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Filme argentino de 15 minutos “Nuestro Reino” redefine o cinema sobre autismo

Disponível no Max, "Nuestro Reino" é um filme sobre a infância de um menino autista produzido por ele, aos 24 anos
Em "Nuestro Reino", Laura Novoa e Ian Galo Lescano brilham como professora e aluno, em uma história real de autismo (Foto: Divulgação/ Manada de Dos Producciones)

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Nuestro Reino é uma obra breve, mas imensa em significado. Dirigido por Maximiliano Wurzel, cineasta argentino de 24 anos com autismo, o curta-metragem apresenta uma narrativa autobiográfica sobre o forte vínculo entre um aluno neurodivergente e sua professora na infância. A produção de 15 minutos, já premiada em diversos festivais internacionais, chega ao catálogo do Max, atraindo interessados e gerando reflexão. 

A história é simples: Maxi, um menino com autismo, desenvolve um laço profundo com Laura, uma professora que o acolhe, brinca com ele e o ajuda a construir um mundo interior mais seguro e amoroso. O enredo, baseado em uma história real e inspirado no conto escrito por Laura Kaestner — a própria professora do diretor — mostra que pequenos gestos são capazes de deixar marcas profundas e duradouras em uma criança.  

Baseado em uma história real, "Nuestro Reino" é um curta-metragem sobre um menino autista e sua professora de infânciaDisponível no Max, "Nuestro Reino" é um filme que celebra a inclusão e o respeito à neurodivergência (Foto: Divulgação/ Manada de Dos Producciones)

Ao assistir uma obra sobre um menino autista, dirigido pelo próprio jovem com autismo, pais e educadores se enchem de esperança, não somente por reconhecer o poder da empatia, mas, sobretudo, por enxergar um caminho de independência e sucesso profissional possível para os filhos que possuem o mesmo diagnóstico. 

Narrativa afetiva e inovação visual

O que torna Nuestro Reino envolvente, embora a história em si já valha o play, é a sua composição visual. O curta combina cenas com atores — como Laura Novoa, Valentina Bassi, Paula Morales e o jovem influenciador Ian Galo Lescano — com inserções delicadas de animação 3D, que ilustram o universo imaginário do protagonista. Essas passagens animadas revelam o mundo mágico que Maxi criava em sua mente durante os recreios, ao lado da professora que lhe dava atenção com paciência e carinho. O efeito não é apenas estético, mas profundamente simbólico: é a tradução visual de um afeto que transcende palavras.

Maximiliano Wurzel não apenas dirige com sensibilidade, mas também propõe, com este trabalho, um novo olhar sobre a neurodiversidade. Em entrevista ao jornal Clarín, ele explicou que o filme é, ao mesmo tempo, um convite à emoção e à reflexão: “Alguns abrirão seus corações e aprenderão a ser melhores pessoas; para os professores, [mostra] o impacto que têm em seus alunos; e outros apenas se emocionarão e perceberão a beleza em cada pessoa com sua singularidade”.

Reconhecimento internacional

Por sua originalidade, o curta não passou despercebido nos circuitos de festivais. Foi exibido no Hobnobben Film Festival (EUA), teve sua estreia europeia no Big Syn International Film Festival (Londres), e também foi selecionado para o Miami Short Film Festival, Festival de Cine de Bogotá - Bogocine, Fort Lauderdale Film Fest e Beloit International Film Fest. No Uruguai, foi exibido no prestigiado Museo MACA Fundación Pablo Atchugarry. Mais do que prêmios, cada seleção reforça a relevância da mensagem de Wurzel: um mundo mais inclusivo é possível, necessário e urgente. 

A própria cidade de Buenos Aires, por meio do parlamento portenho, reconheceu o valor do filme ao declará-lo de Interesse Cultural. Trata-se de um reconhecimento que vai além do mérito artístico — é uma constatação política de que histórias como a de Maxi precisam ser contadas e amplificadas porque, com o aumento de diagnósticos, a sociedade precisa estar mais preparada para a diversidade e para a neurodivergência. 

Com a repercussão positiva da obra, Maximiliano anunciou que não pretende parar por aqui. Seu desejo é que o curta abra portas para que outras histórias neurodivergentes ganhem visibilidade. “Quero transmitir a importância de termos um mundo mais amoroso e unido”, afirmou. E sua proposta artística aponta claramente nessa direção: falar de amor, de relações humanas e de propósito de vida a partir de experiências reais. A esperança, portanto, é que grandes produtoras enxerguem o valor de sua voz e apostem em novos roteiros que já estão prontos para ganhar vida. 

Mais do que um relato pessoal, Nuestro Reino emerge como uma ferramenta de empatia e transformação. Em meio a uma sociedade ainda repleta de estigmas, o curta nos convida a olhar com mais atenção para as diferenças — não como limites, mas como possibilidades de conexão. A obra se encerra, mas a sensação que deixa permanece — como uma memória querida de um gesto indelével. É um convite a ver o mundo com mais compaixão e, sobretudo, a reconhecer o valor de cada olhar que nos atravessa. 

  • Nuestro Reino 
  • 2024 
  • 15 minutos
  • Indicado para maiores de 10 anos 
  • Disponível no Max

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