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Os atores que vivem o sequestrador Raimundo Nonato e o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva
Os atores que vivem o sequestrador Raimundo Nonato e o piloto Fernando Murilo de Lima e Silva| Foto: Divulgação

O fato mais impressionante sobre O Sequestro do Voo 375, lançado nos cinemas no fim de 2023 e agora disponível no catálogo do Star+, é o tempo que a história contada nele demorou para virar filme. Tivéssemos uma indústria cinematográfica mais pujante, incentivada decentemente como a sul-coreana ou a argentina, a saga do avião da extinta VASP raptado por um maluco que desejava matar o presidente José Sarney em 1988 já teria virado produto audiovisual há décadas. Basicamente, porque o que aconteceu naquele Boeing 737 é incrível demais.

Marcus Baldini, com seus bons predicados exibidos em Bruna Surfistinha, dirige um elenco cuja face mais reconhecível é a da ex-BBB Juliana Alves, que vive uma comissária coadjuvante. Nenhum ator ser do primeiro time não compromete O Sequestro do Voo 375. Danilo Grangheia, por exemplo, dá conta de interpretar o piloto e grande herói da aventura, Fernando Murilo de Lima e Silva. Jorge Paz, que sequer tem verbete na Wikipedia, encarna com denodo o antagonista Raimundo Nonato, quase sempre apontando um revólver calibre 32 para a cabeça do comandante. Os dois passam muito tempo com os olhos esbugalhados, mas criticar isso é fazer pouco da tensão que tomou conta daquela aeronave.

Para quem não tem memória ou não era vivo à época, vale contextualizar o ocorrido. O maranhense Raimundo Nonato era um desempregado que, desgostoso com os rumos econômicos do país, embarcou no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, num voo com destino ao Rio de Janeiro, munido de uma arma na mochila (não havia raio-x no local) e um plano: desviar a rota para Brasília e aterrissar no Palácio do Planalto, assassinando assim o presidente da República. Ele conseguiu parte do intento, invadindo a cabine de comando, matando o copiloto e obrigando Fernando Murilo de Lima e Silva a rumar para o Distrito Federal. Com muita astúcia, o comandante conseguiu acionar o código de emergência 7700 e passou a contar com auxílio externo para lidar com a situação. Mas isso não se reverteu em alívio total, visto que a Aeronáutica pareou um caça ao lado do Boeing, pronto para abatê-lo caso ele se aproximasse da residência oficial de Sarney.

Giro completo e queda em parafuso

A dramatização dessa fantástica jornada convenceu quem prestigiou o longa, incluindo aficionados pelo tema da aviação. O youtuber Lito Sousa, do canal Aviões e Músicas, que já havia produzido dois vídeos sobre o sequestro, afirmou em um podcast que o filme de Baldini tem algumas das melhores cenas que ele já assistiu no cinema. Especificamente, Lito ficou impressionado com o momento em que o ator Danilo Grangheia comunica a torre de comando que seu copiloto foi executado e com a sequência em que uma queda em parafuso sucede a manobra chamada de tonneau, quando a aeronave realiza um giro completo em seu eixo longitudinal. Apesar daquele Boeing 737 não estar capacitado para tais movimentos arrojados, Fernando Murilo de Lima e Silva, com seu treinamento militar, teria realizado as acrobacias no afã de desequilibrar Raimundo Nonato e tomar seu berro.

Apesar de tentar preservar muito do que foi relatado à época por quem viveu o drama, o roteiro faz algumas adaptações em benefício do filme. Havia um terceiro tripulante na cabine de comando que não existe na obra de Baldini, bem como seria um sargento quem estaria na controladoria do voo em contato com piloto e sequestrador, não a funcionária civil que aparece na função. A grande licença poética, no entanto, ocorre no terço final, quando Raimundo Nonato tem seu embate com a Polícia Federal. A captura e a forma como o sequestrador foi alvejado não são fidedignas – o que só seria um problema de fato se estivéssemos tratando de um documentário.

Nos créditos finais, o diretor propagou o causo difícil de ser averiguado de que no cafofo em que Osama Bin Laden foi encontrado havia revistas com reportagens sobre o voo 375. Ou seja, o feito de Raimundo Nonato teria sido estudado pelo líder da Al-Qaeda antes dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos. O que é verídico é que o sequestrador chegou a trabalhar no Iraque antes de ficar desempregado e investir em sua sandice aérea. Mas essa passagem pelo Oriente Médio não teve nenhuma relação com grupos terroristas. Ele era só um lobo solitário, antes disso virar tendência.

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