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Se hoje o cinema comercial é dominado por filmes adaptados de gibis e videogames, buscando atrair um público cada vez mais infantilizado, nos anos 1980 Hollywood ainda vivia uma época em que diretores e roteiristas podiam se arriscar em projetos mais criativos e diferentes. Um filme como Cocoon, por exemplo, nunca seria feito hoje em dia.
Para começar, a história não envolve um galã com bilhões de seguidores no Instagram e uma gatinha que ficou famosa num reality show qualquer, mas personagens idosos e aposentados. Nada muito emocionante, certo? O elenco não trazia nenhum astro e era liderado por um ator de 72 anos de idade e que havia feito sucesso duas décadas antes, chamado Don Ameche. O filme não tinha perseguições, explosões ou metaversos, apenas uma história criativa que encantou o público por seu caráter lúdico.
Cocoon conta a história de alienígenas de um planeta chamado Antarea que chegam à Terra para resgatar os casulos que contêm outros aliens, perdidos no fundo do mar. Os ETs assumem formas de humanos e alugam uma casa com piscina, com o cuidado de adicionar à água uma substância energética que mantém os casulos vivos. Para resgatar os casulos no oceano, eles alugam um pequeno barco comandando por um capitão chamado Jack (Steve Guttenberg, então conhecido por papéis cômicos em filmes da série Loucademia de Polícia).
Acontece que a tal casa com piscina fica ao lado de um retiro para aposentados, e os velhinhos do lugar invadem a piscina para tomar banho. Claro que a água energizada dos ETs dá um choque de vitalidade nos coroas, e eles passam a se sentir mais fortes e jovens.
Um sucesso inesperado
Repetindo: um filme desses nunca seria feito hoje. Qual seria o público-alvo do filme? Idosos? Jovens? É uma comédia ou um drama? Depois de E.T. O Extraterrestre, o mundo teria vontade de ver outra história sobre alienígenas? Em 1985, estúdios ainda acreditavam no instinto de produtores, especialmente de David Brown e Richard D. Zanuck, que, uma década antes, haviam apostado suas fichas num diretor novato, Steven Spielberg, que fazia um filme de aventura cuja produção fora um pesadelo: Tubarão.
Brown e Zanuck confiavam no potencial comercial de Cocoon e contrataram o diretor Robert Zemeckis para dirigir o projeto. Zemeckis trabalhou por quase um ano no roteiro. Mas quando os produtores assistiram a Tudo por uma Esmeralda, odiaram tanto o filme que despediram Zemeckis e contraram Ron Howard, que havia acabado de dirigir o sucesso Splash – Uma Sereia em Minha Vida, com Tom Hanks e Daryl Hannah.

Lançado em junho de 1985, Cocoon foi um sucesso inesperado, faturando quase cinco vezes seu valor de produção. O filme acabou indicado a dois Oscars – Melhores Efeitos Visuais e Melhor Ator – e venceu os dois, dando a Don Ameche o maior prêmio de sua carreira. A troca de diretores foi boa para todo mundo: Zemeckis foi dirigir um projeto que tentava emplacar havia um bom tempo, De Volta para o Futuro, e Howard deu a Cocoon um ar sonhador e nostálgico que fez do filme um grande sucesso (mas Zemeckis levou a melhor, já que seu filme foi o maior sucesso de 1985 e faturou seis vezes mais que Cocoon).
- Cocoon
- 1985
- 117 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível na Oldflix