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Paraíso em Chamas

Documentário da Brasil Paralelo explica como Rio virou um caos na segurança

Imagem de divulgação do documentário da Brasil Paralelo
Imagem promocional do documentário da Brasil Paralelo, que aborda a criminalidade fluminense (Foto: Divulgação Brasil Paralelo)

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Em priscas eras, o material reunido no documentário de mais de duas horas Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas seria exibido no Globo Repórter ou no Documento Especial, em TV aberta. Hoje, quem se dedica a fazer um estudo sobre a violência em terras fluminenses sem precisar ouvir as ladainhas de figurinhas carimbadas como José Junior do Afroreggae, Preto Zezé da CUFA e demais ongueiros celebridades é a Brasil Paralelo.

Goste-se ou não da inclinação ideológica da BP, quando o intuito é retratar uma situação de conflito, raramente seus produtos decepcionam. Isso porque eles fazem o que os bons programas jornalísticos da televisão faziam nos anos 1980 e 1990: ouvir especialistas de verdade (Capitão Pimentel, delegado Fabricio Oliveira, policial penal Marcelo Oliveira) para fornecer contexto histórico, engrandecer o debate e assim encher a cachola do espectador de ideias para que o problema seja sanado. Pena que a questão do crime no Rio pareça de difícil resolução.

O documentário de Asaph Hiroto começa exaltando a beleza natural e as potencialidades da cidade para logo depois apresentar teses sobre como as facções criminosas nasceram e ganharam tração por lá. Há quem defenda que o convívio entre bandidos comuns e presos políticos no final dos anos 1970 no presídio de Ilha Grande tenha sido determinante para os meliantes se organizassem e criassem o Comando Vermelho e suas ramificações. O clichê de que a violência se alastrou na década seguinte graças a uma suposta leniência da gestão de Leonel Brizola é descartada em prol de uma ideia mais consistente: foi a falta de comprometimento com a segurança pública de governo após governo que levou o Rio ao caos atual.

Fuzis e barricadas

Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas resgata fatos que quem acompanha a questão da violência urbana apenas pelo noticiário pode desconhecer. Por exemplo: a polícia fluminense teve de lidar com a chegada dos fuzis nas favelas entre o fim nos anos 80 até 2000 sem ter armamento equivalente. O jogo só começou a virar para os tiras com o advento do caveirão, automóvel que possibilita a subida dos morros sem risco de se levar chumbo. Mas, na sequência, a bandidagem passou a armar barricadas nas vielas, obrigando os policiais a descerem dos veículos e se exporem para abrir os caminhos.

A guerra contra o crime no Rio foi ainda mais dificultada em 2020, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin suspendeu as incursões policiais em comunidades por causa da pandemia de Covid-19, a não ser em “excepcionalidades”. Conhecida como ADFP 635, a tutela provisória gerou uma expansão das atividades criminais como nunca havia se visto na capital, com a migração de inúmeros chefes de facções de outros estados para os morros cariocas.

O novo documentário da BP volta até a década de 1970 para explicar o surgimento das facções criminosas do RioO novo documentário da BP volta até a década de 1970 para explicar o surgimento das facções criminosas do RJ (Foto: Divulgação Brasil Paralelo)

Paraíso em Chamas também entra no aspecto cultural da violência, enfocando os bailes funk. Entrevistados compararam as inspiradoras letras das músicas ouvidas nesse universo na virada dos 80 para os 90 (Rap da Felicidade, Rap do Silva) com o lixo cantado por trappers como Oruam e MC Poze do Rodo em tempos atuais, com odes aos traficantes e ao mundo do crime em geral. O Rap da Armas é citado como ponto de inflexão nas letras de funk, quando o estilo passou a glorificar atividades fora da lei. No epílogo do documentário, os especialistas ouvidos ensaiam saídas para esse inferno, mas o que predomina é um sentimento de desesperança.

  • Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas
  • 2025
  • 126 minutos
  • Indicado para maiores de 16 anos
  • Disponível na Brasil Paralelo

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