(No dia de sua estreia nas salas brasileiras, Guerra Civil foi analisado por esta editoria num artigo que apontava suas falhas. Agora, publicamos uma resenha que exalta suas qualidades – Wagner Moura não é uma delas. Vale ler o contraponto, até para compreender o que está fazendo esse filme movimentar cifras tão grandes ao redor do mundo, Brasil incluso.)
Um grupo de jornalistas cobre uma guerra civil nos Estados Unidos. Eles viajarão de Nova York a Washington com o desejo de informar, fazendo algo que nenhum meio de comunicação conseguiu desde o início da guerra.
Alex Garland (Ex_Machina: Instinto Artificial) dirige seu quarto filme após uma longa carreira como roteirista, mais uma vez respaldado pela produtora e distribuidora A24 (Vidas Passadas, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo). Em Guerra Civil, que segue em cartaz nos cinemas brasileiros, ele conta justamente a história de uma guerra civil nos Estados Unidos. Fazer algo assim sempre é arriscado, porque o espectador que for à sala estará mais ou menos de acordo com a história e a forma de contá-la. Não se trata de um filme histórico, tampouco de uma obra distópica convencional, embora tenha algo de ambos os gêneros. É um relato com muita personalidade, que não deixa ninguém indiferente e levanta a lebre de muitas questões.
A guerra vai do leste ao oeste dos Estados Unidos. Passam-se vários meses desde o início dos combates. O presidente exerce um terceiro mandato, contrariando a 22ª emenda da Constituição, em vigor desde 1951, que proíbe essa possibilidade.
Uma guerra em um país enorme, com áreas muito despovoadas e outras superpovoadas, em que a população – em uma porcentagem muito alta – tem armas em suas casas. Uma guerra em que (não sabemos com certeza, mas intuímos) o exército norte-americano pode estar dividido, e o que poderíamos chamar de milícias (rebeldes e leais ao governo) agem com mais mentalidade local do que estadual ou nacional, embora formem alianças inesperadas.
Sem cinismo ou didatismo
O relato, voluntariamente abstrato para evitar tomar partido, me pareceu magistral. A história é fascinante, os personagens têm muita força, as interpretações – especialmente a de uma excelente Kirsten Dunst, que interpreta uma veterana e renomada fotógrafa da agência Magnum – são poderosas. A fotografia e o design de produção ajudam o espectador a mergulhar em um road movie no qual há áreas do país onde alguns pretendem continuar vivendo como se a guerra não fosse com eles.
Vocês entenderão que fazer isso de maneira verossímil e dramaticamente sólida é muito difícil. E Garland consegue tal feito, sem cinismo ou ênfase didática. Seu filme é duro, claro. Mas não é um "filme de guerra": de forma inteligente, evita qualquer semelhança com obras comerciais de temática similar, mesmo nas sequências de combate. Além da viagem física, Guerra Civil acompanha a jornada interior dos jornalistas de diferentes gerações, especialmente a da já citada Lee Smith, fotógrafa vivida por Kirsten Dunst.
É um dos melhores filmes sobre a cobertura midiática de uma guerra que já vi. Custou 50 milhões de dólares e arrecadou 25 milhões só em sua estreia nos Estados Unidos. Por aqui, Guerra Civil lidera as bilheterias desde sua estreia e registrou o melhor desempenho de um filme da produtora A24 no Brasil.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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