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Conhecer a história do Brasil é essencial para impedir que tragédias semelhantes se repitam. Um exemplo emblemático disso é o naufrágio do Bateau Mouche IV, na noite de Réveillon de 1988 para 1989, que escancarou a negligência, a imprudência e a falta de fiscalização no país. Para relembrar a noite fatídica e seus desdobramentos, o serviço de streaming Max lançou em março a série documental Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça, que revisita o caso sob uma nova perspectiva investigativa e crítica.
O termo "bateau mouche" tem origem francesa e significa "barco-mosca", referindo-se a embarcações projetadas para passeios turísticos em águas abrigadas, como os barcos do rio Sena, em Paris. No entanto, o Bateau Mouche IV, que deveria proporcionar uma experiência segura e luxuosa, transformou-se em palco de um desastre anunciado. A embarcação, com capacidade para 20 passageiros, passou por uma reforma irregular, ganhando uma plataforma superior que aumentava sua lotação, mas comprometia sua estabilidade. No dia da tragédia, a ganância prevaleceu: o barco zarpou superlotado com 153 pessoas a bordo. Ignorando as normas de segurança, naufragou na Baía de Guanabara, ceifando a vida de 55 passageiros. A negligência transformou uma festa em luto.
O "Titanic brasileiro"
A produção do Max resgata a reconstituição do naufrágio por meio de dramatizações, imagens de arquivo e depoimentos exclusivos de sobreviventes, familiares das vítimas e especialistas. O documentário destaca como o descaso e a corrupção contribuíram para a tragédia. Sobreviventes relatam que fiscais da Marinha visitaram o barco horas antes do acidente, mas, em vez de impedir a viagem, desistiram da autuação ao receberem uma propina. O fato escancara o suborno como prática deletéria da cultura brasileira.
Uma das vítimas mais conhecidas do naufrágio foi a atriz da TV Globo Yara Amaral, cuja morte comoveu o país. Seu filho, Bernardo Amaral, participa do documentário relatando, com emoção, a perda irreparável da mãe e a difícil experiência de ser reconhecido por anos como "o filho da atriz que morreu no Bateau Mouche". Movido pela dor, ele fundou uma associação das vítimas do caso e chegou a ir a Brasília em busca de apoio das autoridades.
O documentário revela ainda que, apesar de décadas de tentativas, a Justiça brasileira não conseguiu responsabilizar os verdadeiros culpados. Em sua defesa, os empresários tentaram transferir a culpa pelo naufrágio para o comandante, que morreu no acidente. Eles também responsabilizaram injustamente os garçons a bordo, que eram apenas sócios minoritários do negócio.
Assim como no caso do Titanic, onde a confiança excessiva na segurança do navio levou a uma tragédia evitável, o naufrágio do Bateau Mouche IV resultou de uma sucessão de erros que poderiam ter sido prevenidos. A diferença está na resposta das autoridades: enquanto o desastre do Titanic levou a mudanças rigorosas nas normas de segurança marítima internacional, no Brasil, 36 anos depois, as falhas na fiscalização e a impunidade continuam presentes. A maioria dos familiares e sobreviventes não receberam indenização até hoje.
Ganância, negligência e impunidade
Nesse sentido, o documentário critica o sistema judiciário brasileiro, que falhou em garantir justiça para as vítimas e seus familiares. Dos 11 responsáveis processados, apenas três receberam condenação, mas fugiram do país sem cumprir suas penas. A Marinha, convidada para participar da série, recusou-se a dar esclarecimentos, reforçando a falta de transparência e prestação de contas sobre o caso. Dessa forma, a impunidade nesse episódio é um reflexo da cultura de desresponsabilização que assola o Brasil.

Em suma, a tragédia do Bateau Mouche IV não é apenas um capítulo sombrio do passado brasileiro; é um alerta atemporal sobre as consequências devastadoras da irresponsabilidade. O documentário do Max resgata esse evento com uma abordagem que emociona e provoca. Ao recontar o colapso da embarcação que, superlotada, afundou na Baía de Guanabara em 1988, a produção expõe as camadas de corrupção, negligência e descumprimento de normas que culminaram no desastre.
- Bateau Mouche: O Naufrágio da Justiça
- 2025
- 3 episódios
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Max






