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É absolutamente natural que, ao menos uma vez, você já tenha sentido vontade de reagir como William Foster em Um Dia de Fúria. Pressionado pelo estresse e as frustrações da vida moderna, você provavelmente já se imaginou sendo levado pelos instintos mais primitivos e reagindo numa escalada imparável de fúria. Exatamente como realizou o personagem interpretado por Michael Douglas no filme agora disponível na HBO Max.
Falling Down, nome original da produção dirigida por Joel Schumacher, é uma obra atemporal. A narrativa é ambientada na caótica Los Angeles, nos Estados Unidos, no começo dos anos 90. Entretanto, o que se vê na tela poderia ocorrer em qualquer lugar e em qualquer época. O enredo conta a história de um homem atormentado pelo cotidiano que cede e perde o controle, perde a razão, perde a cabeça.
Uma inquietação universal que o cinema transformou em catarse. Ao longo de quase duas horas, o espectador tem a chance de experimentar e, principalmente, refletir sobre o comportamento de Foster. E perceber que, se é compreensível desejar romper as regras da sociedade, controlar as próprias emoções é o que nos distingue como seres humanos. E a violência nunca é uma resposta aceitável.
Personagem icônico
A atuação de Michael Douglas como Foster é grande parte da força de Um Dia de Fúria. O ator, à época um dos principais nomes de Hollywood, constrói uma figura ambígua. Inicialmente retratado como um homem comum a caminho do trabalho, o protagonista pode ser considerado como vítima e, ao mesmo tempo, algoz. Também não aparece como herói e nem é reduzido a somente um maluco em fúria.
Foster se vê envolvido em uma série de circunstâncias que funcionam como gatilhos para a raiva que guarda dentro de si. O calor, os engarrafamentos, a falta de troco, uma fila de restaurante etc. À medida que esses episódios se acumulam, o público passa a compreender que a reação do personagem tem como detonador uma série de pequenos desafios da convivência em sociedade.

Um Dia de Fúria traz o contraponto a Foster, um policial experiente vivido por Robert Duvall. Embora surja como o homem capaz de deter a sanha do protagonista, Martin Prendergast também não é um personagem unidimensional. Mesmo movido pela missão de restabelecer a ordem, ele mesmo carrega seus conflitos internos e ressentimentos. Assim, nos dois personagens estão retratadas as fragilidades da condição humana.
O cenário também é fundamental. Los Angeles aparece como uma cidade sufocante, seja pelo calor, pelo trânsito perturbador, pelos contrastes sociais, o ambiente perfeito para tensionar qualquer cidadão. Curiosamente, as gravações de Um Dia de Fúria tiveram de ser interrompidas por causa de distúrbios ocorridos em 1993 na cidade, em um dos episódios mais violentos da história da Califórnia.
Repercussão e legado
Lançado em 1993, com orçamento estimado de US$ 25 milhões, Um Dia de Fúria arrecadou cerca de US$ 96 milhões. Imediatamente, e ainda hoje, suscitou debates. Discussões sobre saúde mental, limites da raiva, a frustração do homem branco e até questionamentos sobre o futuro do capitalismo e um suposto declínio do sonho americano. Com o tempo, ganhou status de cult e homenagens e referências no universo pop.
Em sua combinação de realismo implacável, personagens emocionalmente densos e crítica social, o filme permanece relevante mesmo três décadas após sua estreia. É uma produção provocante, que desafia o espectador. Afinal, qual a linha que separa a indignação legítima do descontrole total?
- Um Dia de Fúria
- 1993
- 113 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível na HBO Max, Prime Video e para locação no Google Play e Apple TV+
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