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No 20º aniversário do lançamento do filme nos cinemas, a revista GQ (na versão americana) pergunta por que Mestre dos Mares é tão amado por um certo tipo de “cara”. A maior parte do texto discute como pessoas que estão entrando na meia-idade são atraídas pelo filme por ele exibir homens trabalhando juntos como amigos e camaradas em algo ousado, perigoso e valioso. Creio que a questão vai muito além disso.
Mestre dos Mares é uma adaptação dos romances marítimos de Patrick O'Brian, e foi dirigido por Peter Weir, então em seu apogeu. É estrelado por Russell Crowe como o magnético e forte Jack Aubrey, capitão do HMS Surprise. Paul Bettany interpreta Stephen Maturin, o médico do navio e naturalista em tempo parcial. Eles se complementam como dois lados opostos do século XIX. O personagem de Crowe é definido por suas grandes paixões e sua adesão à tradição, o de Bettany por seu ceticismo inteligente. As cenas dos dois se consolando ou debatendo algo se sobressaem no filme, e esse espírito se reflete em cenas semelhantes onde eles tocam duetos musicais — Maturin poderoso no violoncelo e Aubrey alegre no violino. Não seria qualquer filme que inspiraria A. O. Scott, crítico do New York Times, a escrever:
“As guerras napoleônicas que se seguiram à Revolução Francesa deram origem, entre outras coisas, ao conservadorismo britânico, e Mestre dos Mares, sem fazer concessões às sensibilidades modernas e igualitárias, está entre os filmes conservadores mais completos e altivos já feitos. Ele imagina a fragata Surprise como uma sociedade coerente na qual a estabilidade é garantida pelos costumes e por cada homem conhecer seu dever e seu lugar. Eu não ficaria surpreso ao ver o nome de Edmund Burke nos créditos.”
De fato. Uma das grandes subtramas do filme envolve Aubrey tentando ajudar um oficial subalterno a ganhar o respeito dos homens abaixo dele. O filme mostra aos próprios marinheiros do navio que as bênçãos de Deus e a boa sorte acompanham aqueles que cumprem com entusiasmo os papéis que a embarcação lhes concedeu. O mundo de Mestre dos Mares é aquele em que todos têm um propósito e um lugar em um grande empreendimento. O navio é um emblema do mundo inteiro e uma missão coincidente com a salvação. Perecemos sozinhos, mas sobrevivemos como uma tripulação saudável. As medalhas e os avanços que conquistamos como indivíduos fazem sentido apenas como deveres cumpridos e responsabilidades assumidas com os outros.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.