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Em 2002, um vírus agressivo da raiva se espalhou pelo planeta a partir de um laboratório em Cambridge, transformando milhões de indivíduos infectados em uma espécie de zumbis devoradores de homens. A situação foi praticamente controlada em todo o mundo, exceto no Reino Unido, que está em quarentena há anos e onde os poucos sobreviventes lutam constantemente contra os infectados, a fome, a sede e a falta de médicos. Em outras palavras, exatamente como na Idade Média.
Vinte e oito anos após a pandemia, esta é a vida na fortificada ilha Holy, no nordeste da Inglaterra, conectada a ela por um estreito istmo, que é coberto pelo mar na maré alta. Lá vive Spike (Alfie Williams), um jovem inteligente, incansavelmente treinado por seu pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), e cuja principal preocupação é o declínio da saúde de sua mãe, Isla (Jodie Comer). Durante a viagem de iniciação para fora da ilha, que ele faz com seu pai, Spike mata sua primeira pessoa infectada, escapa por pouco de outras e fica obcecado por uma fogueira que vê à distância, que poderia ser o acampamento do Doutor Kelson, um homem misterioso e incomum, sobre o qual circulam lendas terríveis, mas que pode ser capaz de curar sua mãe.
Com esta trama, os diretores britânicos Danny Boyle e Alex Garland dão continuidade à distopia pós-apocalíptica que criaram em 2002 com Extermínio, completada em 2007 pelo espanhol Juan Carlos Fresnadillo com Extermínio 2. Eles formam uma dupla vencedora, já que Boyle produziu clássicos contemporâneos como Trainspotting – Sem Limites, Por uma Vida Menos Ordinária, Quem Quer Ser um Milionário e Yesterday, enquanto Garland se tornou um diretor badalado graças a filmes como Ex_Machina: Instinto Artificial, Guerra Civil e Tempo de Guerra.
Elenco notável
Em Extermínio 3: A Evolução, Boyle deslumbra com uma montagem psicodélica e agitada numa singular proporção de tela, na qual não repete um único plano ou ângulo, surpreende a cada quadro, introduz tomadas feitas com celulares iPhone Pro Max, lapida as belas paisagens escocesas, rompe o hiperrealismo com passagens oníricas e poéticas – algumas em infravermelho –, fragmentos de filmes antigos, documentários de guerra, programas infantis populares, videoclipes... Tudo isso, ao ritmo de variados temas musicais ou da impressionante declamação que o escritor Rudyard Kipling registrou de seu angustiado poema Boots, de 1903. E, além disso, muito bem encarnado pelo notável elenco, no qual a fresca naturalidade do garoto Alfie Williams e o histrionismo aterrador de Ralph Fiennes contrastam, próximos aos de Marlon Brando em sua perturbadora caracterização do Coronel Kurtz em Apocalypse Now.

O problema é que a impressionante exibição visual e sonora dessa jornada ao coração das trevas – magistral no prólogo e na perseguição noturna – é ofuscada por um niilismo crescente em torno do memento mori, que transforma a religião em superstição cruel, apresenta a eutanásia como um ato de compaixão e torna os seres humanos incapazes de controlar sua violência inata. A sombra de O Senhor das Moscas, novela de 1954 do autor britânico William Golding, é alargada...
Essa abordagem se traduz em uma sucessão interminável e exaustiva de cenas sangrentas, cuja morbidez desagradável – com elementos emprestados da saga Predador – é intensificada pela nudez total dos infectados. Isso faz com que Extermínio 3: A Evolução perca a profundidade dramática que às vezes sugere quando revela a grandeza do amor e da solidariedade, sendo assimilável apenas por um público adulto com estômago à prova de balas. Tem mais a ver com o Danny Boyle de Cova Rasa ou dos dois Trainspotting, sendo que eu prefiro o Boyle de Quem Quer Ser um Milionário?.
© 2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
- Extermínio 3: A Evolução
- 2025
- 94 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Em cartaz nos cinemas