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Apresentação do coral no Palácio Avenida: clássico da programação natalina de Curitiba. | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Apresentação do coral no Palácio Avenida: clássico da programação natalina de Curitiba.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

De longe, a promotora de eventos Betina Lima, 37 anos, viu a árvore de natal do Parque Tanguá. A intensidade das lâmpadas de LED chamou tanto a sua atenção que decidiu driblar a correria do trabalho para levar até lá o filho João Daniel, de 7 anos. Não se arrependeu. Além da árvore de 18 metros de altura sobre o Jardim Poty Lazzarotto, mãe e filho viram a iluminação especial do belvedere.

“Ele adorou. Tinha um ambiente bem familiar com opções para as crianças comerem e se divertirem. A noite estava bonita, o tempo estava bom. Deu tudo certo e foi um passeio muito bacana. Ele elogiou bastante”, conta Betina.

A decoração do Parque Tanguá é uma das mais de 70 atrações da programação natalina em Curitiba. No leque de opções tem um pouco de tudo: árvores espalhadas pela cidade, apresentações, corais, autos de Natal, show no Palácio Avenida, caravana do Papai Noel, trem iluminado, ruas enfeitadas com luzes e até uma roda gigante. Há, inclusive uma ligação especial da Linha Turismo, que no período da noite percorre exclusivamente os locais decorados para o Natal.

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Com tantas atividades, o fim de ano da advogada Aline Zortea Tauchmann, 33, tem sido intenso. Ao lado do marido Roberto Tauchmann, percorreu Curitiba para levar o espírito natalino às filhas gêmeas Fernanda e Mariana, de 2 anos. No roteiro teve a tradicional apresentação do Palácio Avenida, visitas às decorações especiais nos shoppings e caravana de natal da Coca-Cola. Por enquanto.

“Minhas filhas adoram, ficam encantadas com o Papai Noel, as luzes, as cores. Tem sido muito marcante para elas. E nós acabamos nos emocionando também por elas, por ver a reação quando veem as luzes na rua e as apresentações”, revela Aline.

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A programação extensa, que mudou a rotina de Betina e Aline, não é obra do acaso. É um projeto amarrado para transformar Curitiba em um importante destino turístico de Natal. Se não tão conhecida como Gramado e Canela, no Rio Grande do Sul, que pelo menos seja vista como a principal alternativa entre as capitais brasileiras.

“Esse é o objetivo de toda a proposta, de reposicionar Curitiba como um destino turístico para o fim de ano e de celebração do Natal. Temos uma visão de médio e longo prazos. Do ponto de vista do turismo é uma receita que vem de fora e que é projetada na economia da cidade. É um projeto que só tende a crescer”, explica a presidente do Instituto Municipal de Turismo, Tatiana Turra.

Daniel Castellano/SMC

Planejamento envolveu vários setores

A programação do ano passado foi desenhada em quatro meses, mas em 2018, desde janeiro, diversos setores da prefeitura já trabalhavam olhando para o Natal. Tudo acompanhado de perto pelo prefeito Rafael Greca (PMN), sabidamente um amante desta época do ano. Não à toa que a página dele no Facebook está repleta de postagens sobre a programação em Curitiba e momentos pessoais relacionados ao natal. As hashtags #NatalDeCuritiba e #LuzDosPinhais dominam o espaço.

“Há a consciência da importância desse produto turístico, de caracterizar Curitiba como uma cidade que trabalha isso. O [ex-prefeito] Gustavo Fruet priorizou outras coisas e não houve esse trabalho tão forte. O Greca gosta do natal, é um articulador e incentiva, através da Tatiana [Turra], esse projeto”, analisa o professor professor da Universidade Federal do Paraná e coordenador do Observatório de Turismo do Paraná, José Manoel Gândara.

O especialista acrescenta que o período de natal é uma ótima oportunidade para a cidade aquecer setores que ficam retraídos, como a hotelaria, que é muito dependente do turismo de negócios, e também para aumentar o movimento em bares e restaurantes. Outro aspecto importante que ele aponta são os benefícios para o comércio.

Unir o turismo de natal com o de compras é uma fórmula que pode dar certo. “Isso seria muito interessante para Curitiba. Temos uma diversidade de oferta de compras, nossa gastronomia é barata, a hotelaria também, o aeroporto é extremamente bom e liga a cidade a diversos destinos. Curitiba é um destino familiar. E por que não esticar até o carnaval?”, sugere Gândara.

Roda-gigante na Santos Andrade encanta os olhos de quem passa nos arredores do prédio histórico da UFPR.Daniel Castellano/SMCS

Impacto no comércio

Mais gente circulando pela cidade significa mais receita para o comércio. De acordo com o IMT, em 2017 foram movimentados R$ 53 milhões na economia local devido à programação de natal, sendo que 20% do público nas principais atrações era formado por turistas. A projeção da Associação Comercial do Paraná (ACP) para este ano é de que o gasto do consumidor curitibano seja de R$ 339,00 por causa do natal, o que representa R$ 75,00 a mais que em 2017.

“A nossa expectativa é muito positiva. O natal já é o melhor mês do ano para o comércio. Mas nos últimos anos o natal havia sido esquecido. O comércio antes era só na rua XV de Novembro por causa do Palácio Avenida, mas agora os bairros estão mais movimentados e as lojas acabam se beneficiando”, opina o presidente da ACP, Glaucio Geara.

Interiorizar o natal foi uma das estratégias da prefeitura de Curitiba, que levou para as regionais a programação. Há um pouco de tudo nas Ruas da Cidadania, onde espetáculos de música e teatro se misturam com autos de natal e ônibus da cultural.

“A ocupação do espaço público é uma das nossas diretrizes. Um destino só tem valor quando realmente é bom para a comunidade também. E temos visto as pessoas nas ruas e os empresários têm dado um retorno positivo no sentido de vendas no comércio”, reforça Tatiana, do IMT.

O presidente da ACP aponta também que tanto a expectativa de maior movimento como a reforma nas leis trabalhistas deram aos lojistas mais confiança para contratar neste período, inclusive para estabelecimentos que não abriam em período noturno, mas que devido à programação de natal decidiram estender o turno. “O funcionário ganha, o empresário tem segurança e a economia melhora”, complementa Geara.

Participação da iniciativa privada tornou sonho possível

Colocar a capital paranaense no mapa do Papai Noel tem seu custo. A prefeitura abriu editais para gastar até quase R$ 815 mil, mas a maior parte dos recursos acabou saindo da iniciativa privada, que aportou cerca de R$ 2 milhões, sem contar as ações próprias, como as dos shoppings, por exemplo. No ano passado, todo o natal custou R$ 1,2 milhão para os cofres públicos e para as empresas patrocinadoras.

Colocar as empresas no natal de Curitiba é uma das estratégias para aliviar as contas e, ao mesmo tempo, incrementar a programação. Neste ano, a prefeitura teve os patrocínios diretos da Caixa Econômica Federal, o Condor e a Electrolux, que aportaram recursos em ações específicas.

A praça Santos Andrade, no centro da cidade, se tornou um dos principais pontos de visitação no fim de ano. Isso porque lá foi montada a Vila de Natal Electrolux, com diversas atividades, sendo a mais extravagante a roda gigante de 20 metros, um pedido especial do prefeito Rafael Greca.

“Temos a principal fábrica da América Latina em Curitiba, a cidade faz parte da nossa história, incluindo o tempo da Prosdócimo. A ideia de participar do natal veio junto com o novo presidente da Electrolux para a América Latina, o Ricardo Cons, que é de Curitiba, e viu o valor de fazer parte. A empresa também tem um relacionamento estreito com a prefeitura. Foi uma forma de retribuir”, diz a gerente de marketing para major appliances da Electrolux, Andreza Santana.

A empresa de eletrodomésticos não revela o valor investido, mas garante que o retorno foi positivo. Até o fechamento desta reportagem, mais de 12 mil pessoas haviam passado pela roda gigante e pela Vila de Natal e, consequentemente, tiveram contato com a marca.

“Trabalhar em parceria com poder público é fundamental. Isso possibilita que possamos dar o apoio financeiro e propiciar um evento gratuito para toda a família. É um retorno para a comunidade onde você trabalha e de alguma forma resgatar o espírito natalino”, comenta o diretor de operações do Condor Super Center, Maurício Bendixen.

A rede de supermercados Condor patrocinou eventos de autos de natal, gratuitos para a população. Entre eles, organizou apresentações específicas para pessoas com deficiência visual e auditiva no teatro Ebanx Regina Vogue.

Há também as empresas que investem em ações próprias e independentes de parcerias financeiras com a prefeitura. É o caso da Rumo Logística, que no ano passado colocou uma Maria Fumaça iluminada e decorada para o natal nos trilhos de trem de Curitiba. O sucesso foi tão grande que a empresa repetiu a dose em 2018 e ampliou o espetáculo, agora com apresentações teatrais.

O projeto é viabilizado pela Lei Rouanet e a empresa garante que fará o possível para manter e, quem sabe, ampliar a participação da Maria Fumaça em Curitiba e outras cidades. “Se não tivermos a Lei Rouanet, daremos um jeito. Não nos sentimos na obrigação, mas no prazer de realizar essa ação, que é um reconhecimento da importância das comunidades por onde passam os trilhos”, conta a coordenadora de Comunicação e Engajamento da Rumo Logística, Carmen Maron.

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