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Gertrudes Rosa Wolff Tuleski: a doceira que alegrava o Campo Comprido
| Foto: Arquivo da família

A prosa sempre foi a praia de Gertrudes Rosa Wolff Tuleski, falecida no dia 07 de junho, aos 82 anos, vítima de complicações de um problema cardíaco. Amiga de toda a vizinhança do bairro Campo Comprido, em Curitiba, batia papo com qualquer pessoa que aparecesse em seu portão ou chegasse mais perto para ver o jardim que cuidava com carinho.

Foi por meio da conversa que conheceu aquele que seria seu marido. Órfã de mãe com apenas um ano de idade e criada pela irmã mais velha, Gertrudes trabalhou e lutou pela sobrevivência desde cedo. Um de seus primeiros trabalhos da juventude foi como telefonista. Na época, as ligações telefônicas eram passadas via rádio, e a partir da conversa com um dos funcionários da empresa de rádio, começou um flerte que, após muitos e muitos papos antes do primeiro encontro, terminaria em casamento.

Juntos, o casal teve três filhos. A filha mais nova, Lia, nasceu com Síndrome de Down em uma época em que muito pouco se falava sobre a doença. Tanto é que Lia saiu da maternidade sem ter sido diagnosticada ainda como portadora da síndrome. Essa foi outra luta que sua mãe encampou com unhas e dentes, para garantir à filha desde o acesso à educação infantil até à previdência.

Independente e acostumada a ganhar seu próprio dinheiro, mesmo como dona de casa prezava por ter também afazeres que gerassem renda para ela e a família. Plantava e vendia flores, fazia bordados, entre outras atividades que foram sendo alternadas com o tempo. Mas foi utilizando seu dom na culinária que fez sua fama na vizinhança. Descendente de alemães e húngaros, reproduzia receitas clássicas de família e preparações tradicionais salgadas e doces em chás de amigas que aconteciam nas casas ao redor da sua.

Ao provar suas tortas e salgadinhos, as comadres ficaram maravilhadas e a incentivaram para que começasse a vender os quitutes. E foi assim que garantiu clientela constante para aniversários, casamentos e festas de debutante até a idade avançada, quando se aposentou das encomendas. Entre os maiores sucessos estavam o bolo Marta Rocha, o strudel de maçã e a coxinha de galinha que, segundo muitos que provaram, não havia igual.

A família compartilhava os pratos preferidos com a clientela, mas também adicionava outros, como o frango recheado e as bolachinhas decoradas de Natal, que mais do que um quitute para a mesa festiva, faziam parte de uma tradição por seu processo de fabricação. Era com os filhos e netos que ela decorava com todo esmero as bolachas, garantindo que cada doce tivesse o toque especial dos familiares.

Em seu quintal brotavam árvores frutíferas diversas e verduras na horta. Quando ficou internada no hospital, fazia a filha Íris levar fruta do conde - uma das árvores de que mais se orgulhava - para todos os médicos e enfermeiros. Assim como pelas plantas, também era apaixonada por animais e durante a vida teve vários, desde gatos e cachorros até gansos e canários. Deixa três filhos e três netos.

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