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Aberta há 20 anos, Rodeo é a maior balada sertaneja da cidade.
Aberta há 20 anos, Rodeo é a maior balada sertaneja da cidade.| Foto: Antonio More / Arquivo Gazeta do Povo.

O anúncio do cancelamento da edição do Country Festival 2019 e o fechamento das principais casas noturnas dedicadas ao gênero sertanejo nos últimos meses mostram que algo mudou na noite de Curitiba.

Talvez seja cedo para decretar a decadência da música sertaneja, mas o cenário está muito diferente daquele de cinco anos atrás quando havia mais de uma dezena de casas dedicadas ao sertanejo e um calendário permanente de grandes festivais em Curitiba.

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Em 2013, Curitiba só perdia para Goiânia como reduto do sertanejo no país. No entanto, de um ano pra cá a cidade já perdeu a Wood's e a Shed e viu a ascensão do funk e do pop eletrônico ocupar um espaço que já foi do country.

Atualmente, Curitiba conta com o Rodeo Country Bar como a casa dedicada 100% ao sertanejo e outras casas como o Victoria Villa, o Santa Marta, a Selfie Brasil e o Villa Batel que dão espaço para o gênero, mas não exclusivamente.

A próxima festa do Victoria Villa nesta sexta-feira (18), por exemplo, é a CwbFunk  dedicada ao gênero que mais faz a cabeça do público jovem da cidade.

“O funk tem mais aceitação do público jovem. É mais plural e diverso. Abraçou todos os públicos. O funk é feito do jovem para o jovem. Assim como a música eletrônica que vem crescendo bastante”, avalia André Paes, diretor de novos negócios do Victoria Villa.

Paes, porém, não acredita que o sertanejo esteja em declínio ou correndo risco. Para ele, o sertanejo é o principal ritmo do país, a autêntica música popular brasileira.

“As principais rádios tocam predominantemente sertanejo. Em uma festa de casamento, o ritmo que une do idoso à criança ainda é o sertanejo. Acredito que o público envelheceu e o jovem é mais plural e diverso. Não pertencente a apenas uma "tribo" como acontecia no passado”, avalia.

A vez do Rodeo

Dono do Rodeo Country Bar desde 1999, o empresário Gilmar Silva diz que segue apostando no gênero. “Já são 20 anos de casa e não temos intenção de mudar de rumo. Ao longo desses anos vieram outros segmentos e alguns foram atrás. As ondas vêm e vão, mas nós seguimos fortes”, disse.

Após o fechamento das outras casas, o Rodeo ocupou o posto de principal casa sertaneja da cidade e isso se traduziu em faturamento.

“Reforçou um pouco nosso público sim. Apesar da crise econômica e de questões como a lei seca que mudaram os hábitos do público”, avalia Silva.

O empresário também não acredita no fim do sertanejo. “A cada dia surgem novos artistas. É algo muito forte que vai se renovando”.

Produtor do Country Festival, Ale Leprevost afirma não acreditar no “fim do sertanejo”, mas percebe que os fãs buscam novas formas de consumir e curtir o ritmo.

“As redes sociais aproximaram demais os artistas de seu público. Desta forma, o artista deixou de ser aquele objeto de desejo que você só via uma vez por ano durante o festival”, diz.

Paes também percebe que mudanças de comportamento do público foram preponderantes para o fechamento das baladas, mais do que o desgaste do gênero.

“Não acho que o número de casas fechadas tenha relação com o ritmo sertanejo. Acho que elas não ouviram o público e não se atualizaram. E o jovem está buscando um rolê mais descontraído, sem precisar colocar um vestido preto, salto e maquiagem por exemplo. As casas sertanejas eram muito 'heterotopzera' e isso para o jovem de hoje é mortal”.

A ascensão do funk

A ascensão do funk é algo recente e muito forte. Em 2013, um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas mostrou que a música sertaneja era o estilo preferido para 37% dos curitibanos e 51% de quem vive no interior.

O rock aparecia em quarto lugar em ambos os casos, com 7% e 4% da preferência, respectivamente – atrás do evangélico/gospel e do samba/pagode. O funk estava fora do radar.

Atualmente, um levantamento parecido, provavelmente colocasse o funk e o rap logo abaixo do sertanejo.

Para André Paes, uma das vantagens do funk nas casas noturnas é um custo menor de produção.

“O artista precisa apenas de um cabo para ligar o microfone e outro para ligar um controladora para o DJ. Os shows duram cerca de 40 minutos e podem ser feitos mais de duas vezes na região. Por isso para as casas ficou mais barato e mais lucrativo. A maioria das casas navegou nessa onda e lucrou com isso”, disse.

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