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Passeio Público de Curitiba após obras de revitalização
Passeio Público de Curitiba após obras de revitalização| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Curitibano adora um parque. Basta abrir um sol no fim de semana e multidões tomam locais tradicionais como Barigui, Tanguá, Tingui e São Lourenço para relaxar com a família, passear com os cães ou se exercitar. Nos últimos anos, porém, justamente o mais antigo e mais central dos parques acabou sendo relegado.

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Antes um dos principais pontos turísticos de Curitiba, o Passeio Público foi sofrendo progressivamente com a deterioração e a insegurança e, como consequência, perdeu muitos de seus frequentadores. Após passar por uma ampla revitalização, o primeiro parque municipal da cidade ganhou uma nova cara e quer agora reconquistar curitibanos e turistas.

Quando o Passeio Público foi inaugurado, em 1886, Curitiba tinha cerca de 15 mil habitantes (nem 1% da população atual, de quase 2 milhões). O espaço com cerca de 70 mil metros quadrados de área verde, às margens do Rio Belém, logo se tornou o ponto de encontro dos curitibanos.

Ao longo de sua história, já foi conhecido como Jardim Botânico e abrigou o primeiro zoológico da cidade. Foi ganhando vizinhos importantes, como o Colégio Estadual do Paraná, o Teatro Guaíra e o Shopping Mueller, e se manteve como um reduto da flora e da fauna em meio aos edifícios e o trânsito agitado da região central.

A partir da década de 2000, porém, o Passeio foi perdendo parte do seu encanto. Sem manutenção adequada e monitoramento, passou a sofrer com a deterioração do espaço, assaltos, prostituição, tráfico e uso de drogas. Com outras opções mais seguras e convidativas, os frequentadores se afastaram. Até que em 2017 a Prefeitura de Curitiba deu início a um projeto de revitalização do parque, como parte do programa Rosto da Cidade, que, em parceria com a iniciativa privada, tem investido na recuperação e preservação do Centro Histórico.

O “novo” Passeio Público foi entregue no último domingo (24) pelo prefeito Rafael Greca, como parte da programação natalina do município. A ampla reforma, como definiu o governo municipal, foi do piso do parque à copa das árvores. “O Passeio Público é o parque mais antigo da cidade, tem toda uma história e um contexto dentro dele. Nosso principal trabalho foi resgatar esse histórico e trazer as famílias para dentro dele, em um ambiente limpo, claro e seguro”, explica o diretor de Praças e Parques da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Jean Brasil.

Alinhado com a história

Uma das mudanças mais expressivas foi a demolição da construção que, durante mais de meio século, abrigou o Bar do Pasquale, um reduto da boemia curitibana no meio do Passeio Público. Inaugurado em 1958, o espaço estruturado com troncos de eucalipto estava desativado há algum tempo e deu lugar a uma nova praça. “Como o restaurante já estava fechado, não tinha por que manter aquele espaço”, explica Jean. A ideia é que a nova praça receba eventos e atrações culturais, a fim de movimentar e atrair visitantes ao Passeio Público.

Visitantes esses que vão encontrar um cenário bem diferente do antigo, a começar pelo paisagismo. Toda a área gramada foi recuperada, foram instalados novos canteiros, com 40 mil flores, e plantadas 120 mudas de árvores nativas. As árvores que já estavam no parque foram podadas, para evitar quedas e garantir melhor iluminação natural. Todos os lagos foram limpos, novos bancos instalados e toda a pintura foi renovada, inclusive a do portal que é o símbolo maior do parque.

Banheiros, calçadas, pontes e o sistema de drenagem foram totalmente reformados, e um deck foi construído na beira do lago.

O diretor de Praças e Parques ressalta que todas as obras foram realizadas levando em conta o projeto original do parque, tombado como patrimônio cultural do estado em 1999. Um exemplo dessa sintonia entre presente e passado foi a troca do piso. “O novo pavimento usa rochas de tom mais claro, próximo ao que era no início”, diz Jean. Assim como os novos postes, que usam tecnologia de LED, mais eficiente, porém, preservam o estilo arquitetônico do início do século 20. Todas as intervenções foram acompanhadas por técnicos da Coordenadoria do Patrimônio Cultural do Estado.

Ocupando o centro

O primeiro passo para levar as famílias de volta ao Passeio Público foi a inclusão do espaço na programação de Natal, com decoração especial, carrossel, trenzinho e espetáculo de Auto de Natal. A partir do ano que vem, o parque deve receber eventos culturais, apresentações artísticas e festas municipais. Iniciativas que estão inseridas em um projeto mais amplo, de revitalizar a paisagem e incentivar a população a ocupar o centro de Curitiba.

“Hoje o centro tem uma concentração forte de comércio e serviços. Quando chega seis, sete horas da noite, esses locais fecham, as pessoas vão para casa e a região fica desabitada. O que temos feito é uma série de intervenções para valorizar o centro, fazer com que ele atraia um movimento maior e seja o grande bairro de todos os curitibanos. O Passeio Público está dentro desse contexto”, explica Mauro Magnabosco, arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), e coordenador do programa Rosto da Cidade.

Iniciado em 2018, esse programa vem recuperando edifícios públicos e privados do Setor Histórico, que abrange regiões como o Largo da Ordem, as ruas São Francisco, Riachuelo e Trajano Reis. Somam-se ao Rosto da Cidade outras ações, como a abertura do Cine Passeio – inaugurado em março e que já soma mais de 50 mil espectadores –, a reforma do Belvedere – que será reaberto em dezembro com um café e a sede da Academia Paranaense de Letras – e a revitalização das ruas Voluntários da Pátria e São Francisco, com mais espaço para pedestres e ciclistas.

A nova Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, regulamentada em setembro, prevê a priorização do uso habitacional na zona central, como estímulo à revitalização da região. Para Magnabosco, o Passeio Público pode desempenhar um papel importante nesse processo. “A ocupação do centro passa pelo resgate de equipamentos urbanos tradicionais, como o cinema de rua e o parque mais antigo da cidade, que estava um pouco desviado do olhar. A partir do momento que você tem de volta esse espaço de contemplação, com segurança para as famílias voltarem a frequentar, ele pode se tornar novamente uma referência”, observa.

Reforço na segurança

Segurança é um fator primordial para que o público volte a frequentar o Passeio Público. Nos últimos anos, frequentadores e moradores da região reclamavam da criminalidade, com a incidência de assaltos e tráfico de drogas. Com o início da programação natalina na região, que se estende durante o período noturno, a Guarda Municipal informou que está reforçando as rondas em toda a região. Além disso, a iluminação também foi melhorada, com postes maiores e lâmpadas mais potentes. O número de postes no interior do parque e no entorno passou de 45 para 123.

Segundo Jean Brasil, além dessas medidas, a própria ocupação do Passeio tende a garantir mais segurança no local. “A ideia é que o Passeio Público volte a receber eventos e festas da cidade, como acontecia no passado, e tenhamos uma programação artística e cultural em harmonia com as famílias”, diz. Um dos espaços que vão receber essa programação é o coreto digital, que será entregue no ano que vem e contará com tecnologia para exibir atrações multimídia.

As curiosidades do Passeio Público

  • Luz elétrica: foi na noite de 19 de dezembro de 1887, no Passeio Público, que brilhou pela primeira vez na noite curitibana a luz da lâmpada elétrica incandescente. Um gerador foi instalado no local para mostrar o mais novo prodígio da ciência moderna, reunindo uma multidão.
  • Voo de balão: em 1909, a espanhola Maria Aida escolheu o Passeio Público como ponto de partida para um voo de balão sobre Curitiba. A experiência deu errado e ela acabou caindo sobre o teto da Catedral. Uma escultura em formato de balão foi colocada no parque infantil em alusão ao episódio.
  • Ilha da Ilusão: a ilha situada em um dos lagos do parque recebeu esse nome em referência ao livro Ilusão, do poeta curitibano Emiliano Perneta. A obra foi lançada no local em 20 de agosto de 1911, quando ele recebeu o título de “Príncipe dos Poetas do Paraná”.
  • Zoológico: o Passeio Público foi o primeiro zoológico de Curitiba, funcionando até 1981, quando os animais começaram a ser transferidos para o Zoológico Municipal, no Parque Iguaçu. Mas o espaço ainda abriga algumas espécies, como macacos, aves e répteis.
Conteúdo editado por:Carlos Coelho
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