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Os sócios Juarez Zaleski e Henrique Aguiar não vão parar a expansão da Caixa Filosofal, apesar da estagnação da economia | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Os sócios Juarez Zaleski e Henrique Aguiar não vão parar a expansão da Caixa Filosofal, apesar da estagnação da economia| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Forminhas em 3D

Há dois anos, a fotógrafa Thais Scremin abriu a Gourmella, loja virtual de artigos para o confeitaria, depois de não conseguir encontrar acessórios e equipamentos para fazer cupcakes e biscoitos. Ela vende os produtos de fornecedores nacionais e estrangeiros somente on-line para todo o país. Em agosto, decida a reduzir custos de importação e dificuldades com fretes, Thaís investiu na primeira impressora 3D para produção de cortadores de biscoito. E fez as contas: precisaria vender 400 forminhas para pagar os R$ 10 mil do equipamento. Em três meses, foi preciso comprar uma segunda impressora. São 30 cortadores produzidos por dia. Em 2015, a demanda deve aumentar. Thaís quer investir na personalização dos seus produtos – como logos corporativos – e envolver mais profissionais na rotina da fabriqueta de cortadores.

Brechas

Crise exige flexibilidade e decisões rápidas

Com uma previsão de crescimento da economia pífio, quase empatado com o desempenho de 2014, a orientação de especialistas é que o empreendedor reduza também as expectativas na projeção em cada setor. Essa deve ser a baliza para orientar a estratégia de ação para um período de crise. "Projeções estratosféricas de crescimento em uma área que não tem tido um desempenho alto são frustrantes. O alinhamento com a média ajuda a identificar erros e corrigi-los", diz o professor Carlos Alberto Ercolin, do ISAE/FGV.

A estagnação econômica vai exigir criatividade para buscar novos clientes. Uma saída pode ser o mercado externo, estimulado pela alta do dólar. Outra são as compras públicas, facilitadas pela legislação da pequena e média empresa, que determina licitações direcionadas para a categoria. Em ambos os casos, e ainda para conquistar financiamentos subsidiados e fugir de empréstimos caros, é preciso organizar a empresa internamente. Estruturas enxutas e profissionalizadas ajudam a disputar o crédito mais barato oferecido pelos bancos públicos, como o BNDES.

Na busca pelo investimento, a aposta em inovação também é uma estratégia para superar a crise e a concorrência. "Inovar é a saída para surpreender o mercado, apresentando soluções para problemas reais, que podem surgir inclusive durante a crise", aponta a consultora Mariana Foresti, responsável pela área de apoio ao empreendedor da Endeavor. Na proposta de orçamento enviada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, R$ 7,5 bilhões serão aplicados em inovação em 2015.

Especialistas consultados pela reportagem sugerem atividades e segmentos mais promissores no momento. Confira.

Áreas

Agronegócio, saúde, educação, turismo, alimentação saudável, beleza e entretenimento são setores que têm bom desempenho na economia e devem continuar com demanda forte em 2015.

Perfil de público

Idosos, infantil, consumidor exigente e famílias contemporâneas – casais com um filho ou sem crianças, moradores sozinhos – oferecem uma janela de oportunidade para serviços e soluções para problemas do dia a dia ou produtos premium, com foco em nichos específicos.

Serviços

Marketing digital, soluções de e-commerce e as franquias virtuais, que exigem tecnologia.

Embalado pelo bom desempenho das vendas, o publicitário Juarez Zaleski pretende virar o ano no mesmo ritmo de crescimento que a empresa tem desde a criação, em 2013. No primeiro ano, com dez meses de atividades, a Caixa Filosofal, que vende quadros e pôsteres com frases motivacionais, faturou R$ 500 mil. Em 2014, a receita pulou para R$ 1,2 milhão.

Para o ano que vem, Zaleski e os sócios pretendem reforçar os canais de venda, com investimentos no e-commerce e na prospecção de clientes corporativos. "Também vamos ampliar o portfólio, com novos produtos de decoração para personalização, e entrar também na moda", prevê.

O otimismo de Zaleski parece descolado do cenário econômico sombrio previsto para 2015, em que a projeção de baixo crescimento do PIB nacional– de 0,73% –, alta de juros e impostos, dólar mais caro e aumento de custos, com reajustes previstos para energia e combustíveis, estão tirando o sono dos empreendedores e mudando os planos de investimento e expansão dos negócios.

Mas é justamente a postura do empreendedor diante de um ano desafiador que pode fazer toda a diferença na hora de passar pela tempestade. "É interessante apostar em uma política anticíclica, em que a atitude mais agressiva surpreende a concorrência e ganha mercado", avalia o professor do ISAE/FGV, Carlos Alberto Ercolin.

Os antídotos de Zaleski para crescer durante a crise são foco e flexibilidade. "Se eu ficar esperando para ver o que vai acontecer, não consigo investir e crescer. Temos que tocar a vida", diz.

Estratégia

Se ignorar a crise é impossível e pouco recomendável, o ideal é explorá-la da melhor maneira. Vale estudar os efeitos da macroeconomia nos negócios, de acordo com cada atividade, considerando oportunidades e condições de operação que possam trazer melhores resultados financeiros.

Diante do aumento de custos, puxado pela alta de impostos e combustíveis, por exemplo, o empresário pode buscar ajustes na área tributária. A adesão ao Simples Nacional, que reúne em uma alíquota única o pagamento de impostos para diferentes atividades, deve ser avaliada.

"O enquadramento fiscal pode ser vantajoso também quando reduz tempo e recursos para cumprir a legislação", aponta o consultor André Basso, gerente da área de atendimento individual do Sebrae-PR. O prazo para a adesão ao sistema é janeiro de 2015.

Para o professor de estratégia da Universidade Positivo, Fabrício Pupo, o plano de contingências ajuda no controle financeiro. Negociar com fornecedores, organizar estoque e compra de matéria-prima e vender menos a crédito são formas de manter o fluxo de caixa.

Outra orientação é sobre o cuidado com a marca, no atendimento e nas instalações. "Mais do que buscar novos mercados, vai ser importante manter a clientela atual. Para isso, não se deve relaxar com o padrão conquistado até agora, o que pode sinalizar descuido e fraco desempenho", explica.

Colaborativa

A otimização de recursos também passa pela atividade colaborativa. Além de formar equipes multidisciplinares, que ganham em eficiência, principalmente com o uso da tecnologia nas operações, também pode-se pensar em ações compartilhadas com outras empresas, em novos arranjos operacionais. Centrais de compras e serviços podem economizar até 40% nos custos, aumentando a competitividade. A atuação em rede, na formação de pools, pode funcionar para determinados segmentos. "Por isso a informação é essencial. Entidades de classe dispõem de dados que ajudam nas estratégias comerciais e de gestão", explica o professor Carlos Alberto Ercolin, do ISAE/FGV.

Novatos

Desemprego estimula início nos negócios

Empreender por necessidade ainda é a maior motivação para os novos negócios no país. E o cenário do mercado de trabalho tem bastante influência sobre essa modalidade de empreendedorismo, seja pela falta de vagas ou para aplicação da indenização pelo desligamento. Mas é preciso avaliar o mercado, o próprio perfil e as oportunidades para definir o investimento.

Para a coordenadora do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Insper, Cynthia Serva, a questão financeira não pode ser o único gatilho para abrir um novo negócio. "As competências podem ser desenvolvidas, mas é preciso ter identificação com a atividade escolhida. Empreender exige muito do indivíduo", observa.

A escolha deve ser feita após uma avaliação criteriosa do mercado, como concorrência, demanda e as características de empreendedor e empreendimento. "Fugir de modismos é um bom começo para evitar saturação de determinado produto ou serviço", indica o professor Fabrício Pupo, da Universidade Positivo.

O empreendedor pode apostar em uma ideia nova, com a proposta de uma solução para uma demanda real, ou investir em modelos de negócios já testados, na área de franchising.

"As microfranquias podem ser mais adequadas para quem tem menor capacidade de investimento e quer abrir um negócio para ver como se comporta como empreendedor", observa a consultora Lyana Bittencourt, sócia-diretora do Grupo Bittencourt, especializado em formatação do modelo de franquias.

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