Rua 25 de Março, em São Paulo, "abastece" o país
Aproximadamente 90% dos CDs e DVDs piratas vendidos nas ruas de Curitiba vêm da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, segundo vendedores das mídias falsificadas da capital paranaense.
Fique atento aos riscos
A maioria dos consumidores de produtos piratas desconhece ou subestima os riscos que alguns produtos podem trazer à sua saúde e segurança. Além disso, não são raros os casos em que os compradores adquirem itens falsificados como se fossem originais.
Tênis: Além da baixa durabilidade e resistência um tênis falso pode causar dores nas plantas dos pés, articulações (tornozelos e joelhos) e coluna.
Óculos: Como as lentes não possuem tratamento adequado para a proteção, os olhos ficam expostos aos raios nocivos do sol.
Cigarros: Substâncias tóxicas em quantidades acima do limite permitido pela ANVISA aumentam os riscos de danos à saúde dos consumidores.
Materiais de higiene pessoal (desodorante; escova de dente; lâmina de barbear): Podem conter materiais ou substâncias inadequadas que causam danos à saúde como alergias e coceiras.
Perfumes: Além da permanência curta do odor na pele, podem causar alergias ou irritações severas devido à composição química desconhecida.
Produtos para limpeza doméstica: Não possuem controle de qualidade, podendo causar problemas de intoxicação e alergias. As embalagens não são feitas de acordo com as normas de segurança e podem causar acidentes.
Medicamentos: Podem apresentar dosagens inadequadas de seus compostos, causando complicações à saúde do consumidor. Deve conter certificado do Ministério da Saúde e liberação da ANVISA.
Brinquedos: Além de substâncias tóxicas, podem conter materiais que causam perfurações ou que podem ser engolidos facilmente pelas crianças. Precisa ter o selo do INMETRO, que indica a realização de diversos testes de segurança e a indicação da idade mínima.
Pilhas e Baterias: Além da baixa durabilidade, geralmente apresentam grande concentração de produtos altamente tóxicos, que vazam com facilidade. Na embalagem devem constar informações sobre o fabricante, instruções de uso e descarte, data de validade e tamanho.
Celulares: Podem causar danos ao consumidor como, por exemplo, baterias que explodem durante a utilização ou recarga. Precisa ter o selo da ANATEL, que garante que o aparelho emite radiação que não compromete a saúde do usuário, entre outras coisas.
Eletrônicos, computadores e videogames: Em muitos casos, não atendem aos requisitos de qualidade técnica, ou seja, não estão adaptados aos padrões brasileiros, dificultando a sua utilização e durabilidade. Não possuem garantia e assistência técnica.
Software: Defeitos que podem levar a perda de arquivos e informações importantes contidas no aparelho, causando prejuízos financeiros e pessoais.
CDs e DVDs: Podem danificar os aparelhos leitores dessas mídias, causando prejuízo ao consumidor. Quem adquire também contribui para uma atividade que desrespeita os direitos autorais e sonega impostos.
Peças automotivas: Possuem qualidade e durabilidade bastante inferior. Podem quebrar facilmente, causando prejuízo financeiro e, em casos mais graves, até mesmo acidentes. A orientação é procurar sempre uma oficina de confiança.
Fonte: Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP)
Apesar de pouco tolerantes com a pirataria, 41% dos curitibanos abrem uma exceção para a compra de CDs e DVDs falsificados, segundo um levantamento da Paraná Pesquisas encomendado pela Gazeta do Povo. Mais exigentes em relação à qualidade de produtos como tênis, roupas e acessórios, relógios, perfumes, softwares e artigos esportivos, mais da metade dos 422 entrevistados dizem que nunca compraram e nem comprariam produtos pirateados.
Confira no infográfico os números da pesquisa
Veja um comparativo de preço entre o produto original e falsificado
De acordo com a pesquisa, o principal motivo que leva os consumidores da capital a optar por um produto pirata é o preço baixo, apontado por mais de 86% dos compradores como fator determinante na hora da escolha.
Mas, se o preço é bom, a qualidade deixa a desejar. Para 64,1% dos compradores, a decepção com a baixa qualidade e durabilidade dos itens adquiridos fez com que deixassem de comprá-los ao longo do tempo. Esse também é o motivo pelo qual 55,7% das pessoas disseram nunca ter comprado um produto pirata.
Em Curitiba, segundo o levantamento, 39% das pessoas que nunca compraram produtos falsificados disseram não concordar com a prática ilegal que financia o crime organizado. Para Edson Luiz Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade, no entanto, a maioria das pessoas não vê a pirataria dessa forma. Ao contrário, acredita que se trata de um delito leve e tolerável, justificado pelo "alto" preço dos produtos originais no mercado, o que acaba fomentando o crescimento desse crime.
Dano coletivo
O prejuízo causado aos cofres públicos e às empresas que têm suas marcas falsificadas pelo mercado da pirataria chega a R$ 20 bilhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF). Só no Paraná, as perdas com a arrecadação de ICMS, por exemplo, somam, em média, cerca de R$ 300 milhões anuais. Em 2011, os setores mais prejudicados foram, na ordem, os de autopeças, cigarros, combustíveis e de CDs, DVDs e softwares. Somadas, as perdas no país chegam a R$ 6 bilhões, de acordo com a ABCF.
Segundo Rodolpho Ramazzini, presidente da ABCF, 30% de todo o cigarro consumido em Curitiba e região metropolitana é falsificado e contêm até seis vezes mais alcatrão e nicotina em relação aos níveis permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "O Paraná não é apenas destino e rota para os produtos piratas quem vêm do Paraguai, mas concentra também o maior polo de falsificação de autopeças, na região de Londrina e Maringá, e de roupas, em Apucarana", diz.
Apesar da intensificação das operações de fiscalização nos últimos anos, Ramazzini afirma que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. "No Porto de Hamburgo, na Alemanha, 3,7 mil agentes fazem a fiscalização de tudo o que chega. No Brasil, somados todos os portos, aeroportos e a fronteira seca, o número de agentes treinados não chega a 2 mil", compara.
ComportamentoQualidade do original compensa preço maior, diz consumidor
Integrante de um grupo de consumidores bastante expressivo em Curitiba, conforme demonstrou o levantamento do Paraná Pesquisas, o chef de cozinha Tadeo Furtado, de 26 anos, afirma com orgulho que nunca comprou produtos piratas. "Quando penso em pirataria me vêm à cabeça dois tipos de produtos: roupas e acessórios e CDs e DVDs. No primeiro caso, sempre busco produtos de boa qualidade, com bom acabamento e durabilidade, itens raros no caso dos artigos falsificados", diz. A qualidade também é decisiva em CDs e DVDs. Furtado conta que, há tempos, acompanha a saga de familiares que insistem na compra das mídias falsificadas, apesar dos problemas constantes com filmes que não rodam ou têm qualidade de imagem e áudio péssimos. "Confesso que admiro algumas marcas por seu padrão de excelência, mas acho de péssimo gosto exibi-las, sobretudo quando o produto é falso. Conheço gente que teve até roupa rasgada por causa do zíper de uma bolsa falsificada".
A jornalista Priscila Paganoto e a prima Patrícia Solarewski também foram "vítimas" de um episódio estranho com CD pirata. "De uma hora para outra começamos a ouvir uma ópera, no meio de uma música sertaneja", conta Priscila. Em outro CD da mesma "safra", elas encontraram um pagode misturado às músicas sertanejas.
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