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Opinião - Devolvida num click

Sempre fui reticente quanto às Barbies e Pollys da vida. Não foi diferente quando a Lorena, no aniversário de 6 anos, pediu à madrinha a versão click da boneca mínima, que tem um guarda-roupa invejável no quesito quantidade. Protestei, dizendo que a tia poderia trazer tantas outras coisas bacanas que não fossem bonecas que exigem uma coordenação motora fina demais para uma mãe impaciente com peças ínfimas de silicone colorido. Não teve jeito. O brinquedo só funcionou no dia que chegou em casa. Foi a única vez que a Polly ficou pronta num click. Depois disso, continuou a ser revirada de cabeça para baixo para encaixar blusas, saias e estolas nas combinações mais estrambólicas possíveis.

Mesmo diante da teimosia do trocador mágico em não funcionar, sobrou preguiça de trocar a peça com defeito. Agora a conversa precisa ser diferente. Uma coisa é frustrar a criança, diante de um presente novo. A outra é colocar sua saúde em risco, funcionando ou não. Dona Mattel, prepare-se, o meu pacotinho vai chegar aí. O brinquedo já está devidamente confiscado em casa. Como eu não gosto de Pollys, vou pedir o dinheiro – da madrinha – de volta. Vai pro cofrinho. E eu ainda tenho um bom motivo para vetar futuros pedidos semelhantes.

Anna Paula Franco, editora de Interior

Representantes da fabricante de brinquedos Mattel percorreram algumas lojas de Curitiba, ontem, para lacrar os produtos incluídos no recall que atingiu cerca de 850 mil unidades no Brasil. A empresa determinou o recolhimento e ressarcimento dos produtos com acessórios imantados, que incluem a linha Polly Pocket, a pá do conjunto Barbie e Tanner e figuras magnéticas do Batman. Segundo a multinacional, apenas 10% dos itens ainda estavam nas lojas. O restante já estava nas mãos dos consumidores. Destes, cerca de 5 mil contataram a empresa entre terça-feira e as 16 horas de ontem, por meio do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).

Em alguns estabelecimentos da cidade, no entanto, os produtos ainda estavam nas prateleiras. Segundo funcionários que não quiseram se identificar, eles aguardavam orientação da Mattel. "Já foi feito um recall uma vez, e eles nos comunicaram por e-mail. Até agora não recebemos nada", disse uma gerente. Segundo a assessoria de imprensa da Mattel, todos os lojistas já foram comunicados e o recolhimento dos produtos será feito ao longo da semana.

A loja Brinkbox tinha poucos brinquedos listados no recall ainda à venda. Eles foram fechados e lacrados em caixas. São brinquedos com ímãs que poderiam se soltar, segundo análise da Mattel. De acordo com a proprietária da loja, Verônica Lopes, os produtos eram de linhas antigas, e por isso havia poucas opções nas prateleiras. Para ela, a empresa está agindo certo ao fazer o recall. "É um ato preventivo. Minha família tem loja há 30 anos e nunca havíamos visto tanta preocupação de uma indústria." Mãe de três meninas, Verônica tinha alguns produtos da linha Polly em casa. "Os que estavam no recall eu separei. Mas acho que não vou deixar de comprar. Minha filha de 9 anos é apaixonada pela boneca, assim como muitas meninas." O valor dos produtos recolhidos será descontado na próxima vez que a loja comprar da Mattel.

Os consumidores podem escolher entre receber um vale-brinquedo ou o ressarcimento em dinheiro. Mas a espera pode ser um pouco longa. Após fazer contato com a empresa, o consumidor receberá, por correio, um manual com todos os produtos que fazem parte do recall. Junto será enviado um envelope com porte pago para a Mattel, no qual devem ser enviados os brinquedos identificados como parte do recall. Segundo a empresa, o manual pode demorar até 15 dias para chegar ao consumidor.

Em todo o mundo, o recall da Mattel atinge 21,8 milhões de brinquedos. De acordo com o gerente jurídico do Idec, Marcos Diegues, a empresa deve proporcionar informação sobre o recolhimento a todos os consumidores. "A empresa tem de atingir o consumidor da mesma forma que faz quando quer vender seus produtos. Por enquanto há bastante repercussão, mas é fundamental a empresa fazer anúncios claros sobre isso." De acordo com o professor de economia da Unifae, Christian Luiz da Silva, é difícil medir o impacto do recall sobre a empresa. "A situação é complexa. Os pais tendem, naturalmente a se preocupar bastante. A empresa poderá ter de gastar muito em marketing para recuperar sua imagem e ainda incrementar seu controle de qualidade, além do possível prejuízo que pode ter com a queda nas vendas."

Serviço: SAC da Mattel no Brasil: 0800 77 01207 ou recall.brasil@matell.com

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