Informações adversas municiaram a decisão do Banco Central sobre a nova taxa básica nominal de juros. Sinais contrários tornaram a decisão mais difícil: enquanto a produção industrial estagnou no último semestre com variação negativa em dezembro e janeiro, o IPCA-15 acelerou para 0,97% em fevereiro e 6,08% em 12 meses. Ou seja, enquanto a economia brasileira dá sinais de desaceleração, os preços seguem em alta.
Na tentativa de manter o controle das expectativas, a Selic foi elevada em 0,5 ponto porcentual na reunião do Copom de 19 de janeiro e em mais 0,5 no encontro de ontem. Outros mecanismos de política monetária já haviam sido acionados pelo BC: aumento de compulsório, aumento de requerimento de capital dos bancos e aumento do valor de entrada de financiamento ao consumo.
Dada a natural defasagem, essas medidas não atingiram ainda seu efeito máximo. Além disso, pela primeira vez nos últimos anos a política fiscal está agindo de forma complementar à política monetária. Depois das medidas "macroprudenciais" e dos aumentos de juros, o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento do governo federal foi o terceiro golpe no persistente dragão inflacionário e seu efeito ainda está por vir.
Mas, minimizando a importância de tais medidas, os agentes do mercado financeiro vêm pressionando a autoridade monetária, inflando as expectativas quanto à alta dos juros e procurando dar sobrevida à tese política usada em janeiro a tese de que a nova diretoria do BC precisa dar sinais inequívocos de seriedade e comprometimento com o sistema de metas de inflação, o que seria provado por uma "paulada" na taxa de juros, ou seja, por um aumento de 0,75 ou 1 ponto. Pressão que, por enquanto, não deu resultado.
Por mais fundamentada em análise de conjuntura e modelos de previsão que a decisão de ontem possa estar, as incertezas permanecem e arte, política e técnica se misturam numa racionalidade coletiva.
Mas uma alta de 0,50 ponto não fará muita diferença. A inflação atual e futura tem componentes exógenos, externos ao país, e os canais da taxa de juros estão no seu limite. O maior impacto do aumento da Selic é sobre o Orçamento fiscal nominal, que os impostos terão de cobrir.
João Basilio Pereima é professor e vice-chefe do Departamento de Economia da UFPR
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