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Alexandra Van Houtte (direita) com funcionários do Tagwalk, no escritório da startup em Paris. | MAXIME LA/NYT
Alexandra Van Houtte (direita) com funcionários do Tagwalk, no escritório da startup em Paris.| Foto: MAXIME LA/NYT

Quatro anos atrás, Alexandra Van Houtte era assistente de moda em Paris. Trabalhava em revistas como Grazia, Glamour ou nas edições internacionais da Vogue, e passava horas pesquisando e catalogando looks para fotos.

A monotonia e o baixo rendimento da busca por um modelo específico em sites como Style.com ou Women’s Wear Daily — tarefa assumida por gerações de assistentes e estilistas novatos em todo o mundo — a fez pensar em como isso poderia ser aperfeiçoado.

“Para uma indústria multimilionária que se orgulha de ter a mente aberta, era um sistema frustrante”, disse Van Houtte, 29 anos, que se formou em mandarim na Inglaterra antes de iniciar sua carreira na moda.

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Na época, startups como WhatsApp, Uber e Deliveroo estavam revolucionando o cenário de seus respectivos setores, transformando a forma em que as pessoas se comunicam, compram, socializam, viajam e comem.

Van Houtte pensou: “Quando é que a moda vai desenvolver uma plataforma transformadora para facilitar a vida daqueles que fazem o mesmo trabalho que eu, um serviço para chegar até às mulheres que se interessam pelo ramo e que estão fora da indústria?”

Em maio de 2015, sem uma resposta em vista, ela decidiu assumir a tarefa pessoalmente e levantou dinheiro para o empreendimento colocando seu apartamento no Airbnb.

O Tagwalk, que se considera o primeiro site de busca de moda do mundo, é o resultado. Usando mais de 2.800 palavras-chave, os usuários podem pesquisar por marca, temporada, cidade, tendência, cor, tecido ou estilo em 128 mil fotos.

“Mesmo que a pessoa seja o melhor comprador ou pesquisador de tendências da cidade, ninguém pode ter todo o conteúdo na cabeça”, disse ela em sua sede de Paris, no Segundo Arrondissement, onde lidera uma equipe de 14 pessoas.

“Agora, se você se lembra de que a Prada usou fluorescentes na última temporada e quer ver quem optou por essa paleta de cores, pode fazê-lo rapidamente e com apenas alguns cliques do mouse.”

Descrença até dos pais

Os jornais Le Figaro e The Financial Times já chamaram o Tagwalk de “o Google da moda”, mas quando começou, Van Houtte, que no início marcava cada imagem manualmente (agora isso é feito através de algoritmos de inteligência artificial, com uma revisão humana antes de ir para o site), enfrentou um ceticismo considerável, especialmente de investidores em potencial.

“Muitos nem se interessaram. Diziam que era muito nicho, que só servia para blogueiros e assistentes e para o pessoal na base da indústria da moda, que não ia crescer. Mesmo meus pais começaram a duvidar do futuro do negócio”, contou ela.

Mas para uma pessoa foi diferente: Carmen Busquets, a empresária venezuelana e investidora-anjo que ganhou fama como fundadora/investidora do Net-a-Porter, rapidamente percebeu o potencial do Tagwalk. E financiou o negócio que tinha apenas dois meses de idade.

“Investir no início de ideias novas é sempre um grande risco, coisa que já fiz muitas vezes, porque você se torna cofundadora e parceira, além de investidora”, disse Busquets, que mais tarde apresentou Van Houtte para outro grande investidor, Adrian Cheng, da C Ventures.

“O plano de negócios da Alexandra de cara fez sentido para mim”, disse Busquets.

Alexandra Van Houtte, fundadora do Tagwalk, chamado por muitos de “o Google da moda”.MAXIME LA/NYT

O negócio não tem taxa de assinatura nem publicidade. Gera dinheiro de seus cerca de 25 mil usuários (que utilizam o site em torno de três vezes por semana) de quatro maneiras: há um braço de consultoria para as marcas, que aborda o crescimento em mídias digitais e sociais, e as vendas, que crescem rapidamente e permitem a compra de looks através de links afiliados.

Porém, o mais importante é que as etiquetas menores ou as que não participam de desfiles podem pagar uma taxa mensal para participar do banco de dados ao lado de casas maiores, desse modo aparecendo para editores e estilistas. As etiquetas emergentes pagam cerca de € 150 (aproximadamente R$ 670), enquanto marcas mais estabelecidas pagam € 450 (R$ 2 mil).

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“Em uma semana no Tagwalk, comecei a receber solicitações editoriais de um nível diferente da indústria, daquelas pessoas que vivem em uma bolha, sempre de difícil acesso. A parte que realmente vale a pena na parceria são os dados, o acesso às tendências que as pessoas buscam, ou as palavras-chave mais populares; isso tem me ajudado a decidir meus próximos passos criativos e comerciais, quantas peças produzir, quais pedras ou materiais usar”, disse Rosh Mahtani, fundador da Alighieri, etiqueta de joias que vende no Net-a-Porter.

Para o Tagwalk, a maior parte da renda vem da coleta e venda de dados. Embora a base de usuários ainda seja relativamente pequena, a influência daqueles que visitam o site regularmente é grande, tornando o acesso a seus hábitos comportamentais algo extremamente valioso para quem quer melhor compreendê-los.

Quase todas as maiores marcas da indústria estão ansiosas para saber que desfile foi mais pesquisado para o outono de 2018. De acordo com o Tagwalk, os três mais procurados em Nova York foram Calvin Klein, Phillip Lim e Bottega Veneta, enquanto que em Londres foram JW Anderson, Erdem e Christopher Kane. Em Milão, a Gucci saiu na frente da competição (seguida por Dolce & Gabbana e Prada); em Paris, Dior veio na frente, seguida muito de perto pela Chanel, e depois Saint Laurent.

“Podemos ver na hora qual marca é mais procurada, por quem e em quais países, além de como uma determinada coleção se saiu em comparação com outras marcas em geral”, disse Van Houtte. “É uma ideia simples, mas com potencial revolucionário”, acrescentou com um sorriso.

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