• Carregando...

O economista Otaviano Canuto observa que a crise global está entrando em sua terceira fase. Depois do estouro da bolha imobiliária e do pânico financeiro, é hora de economias mais frágeis pedirem socorro. Não por acaso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a aparecer com suas linhas de salvamento. Canuto é vice-presidente de países do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) desde 2007. Antes disso, ele passou pela diretoria do Banco Mundial e foi professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em entrevista à Gazeta do Povo de seu escritório em Washington, na semana passada, ele disse que a crise provavelmente levará a um período longo de desaceleração econômica e que, depois das eleições presidenciais nos Estados Unidos, o mundo financeiro caminhará para uma mudança fundamental na maneira como os mercados são enxergados.

É exagero dizer que esta é a pior crise desde os anos 30?

Não é exagero quanto à potencialidade da crise, que é de um caráter tão profundo que poderia gerar um quadro depressivo como aquele dos anos 30. A diferença, enorme, é que na época a reação das autoridades agravou o cenário e agora pelo menos a resposta tem sido tal que deve evitar que o pânico se transmita com a mesma gravidade para a economia como um todo.

Podemos esperar mais intervenção do Estado?

A resposta em termos de socorro a bancos e intervenção em mercados financeiros era para conter o pânico e lidar com o fato de que a crise estava implicando na paralisia do sistema bancário. Agora a crise começa a atingir o lado real da economia. Isso terá impacto de volta no sistema financeiro e vai exigir talvez uma resposta de estímulos na área fiscal em todos os países envolvidos para estimular o consumo. Vamos atravessar no mínimo um ano com baixa atividade econômica, mesmo que a gente tenha menor instabilidade financeira. O desempenho da economia mundial será abaixo do seu potencial.

Tem alguma ação que falta ser anunciada? Seria o caso da ajuda a quem comprou casas nos EUA?

Fala-se muito em possíveis planos de ajuda no lado dos consumidores de baixa renda. Existem propostas, mas nada certo. O problema é que se os preços das casas continuarem caindo vai existir um número crescente de pessoas com o valor da casa abaixo da hipoteca e assim se torna racional para muita gente entregar a casa.

O que quer dizer a volta dos pacotes do FMI?

Agora o sinal de queda está em economias emergentes, particularmente nas economias que se tornaram dependentes do crédito externo nos últimos anos. É o terceiro estágio da crise, depois do estouro da bolha imobiliária nos EUA e do pânico financeiro global. Como muitos desses países não têm a autoridade monetária em condições de prover segurança, então a ação das instituições multilaterais será importante. Desde, é claro, que essas instituições também saibam como se adaptar.

O BID também pode fazer acordos para ajudar países em dificuldade?

Nós podemos acionar nossas linhas de emergência. E estamos ampliando nosso volume de operações com os países. O Brasil é um caso à parte, tem um volume grande de linhas já negociadas com o governo e outras operações com o setor privado. O país está bem, desenvolveu suas próprias capacidades de resposta a uma turbulência como esta.

Que mudança pode ocorrer após as eleições americanas?

Acho que a postura pró auto-regulação do mercado, que ganhou força nos últimos 25 anos, tende a ser revertida. Estamos em um daqueles momentos em que um conjunto de princípios que serve como guia está dando lugar a outro. O novo guia será certamente mais desconfiado com relação às propriedades de auto-regulação dos mercados financeiros.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]