As ações da Petrobras desabam perto de 12% no primeiro dia de negócios após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). O desempenho dos papéis da estatal comanda o pessimismo na Bolsa brasileira, que tem baixa de 4,48% no Ibovespa, o principal termômetro dos negócios da Bolsa.
O índice marca 49.614 pontos e voltou a operar abaixo de 50 mil pontos. É a menor pontuação desde 27 de março.
No início da manhã, a ações da estatal começaram o pregão em baixa de quase 15%. Às 10h20, as ações preferenciais da companhia registravam uma retração de 14%, sendo negociadas a R$ 14,02
O dólar à vista (referência do mercado financeiro) é negociado a R$ 2,5211, com alta de 2%. É a maior cotação desde 4 de dezembro de 2008, quando a moeda americana fechou a R$ 2,536.
A estatal decidiu contratar duas empresas independentes de investigação para apurar as denúncias de corrupção feitas pelo ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff, nas investigações decorrentes da Operação Lava Jato. Os papéis preferenciais (sem voto) recuam 12,26% para R$ 14,30, enquanto os ordinários (com voto) têm baixa 11,27% para R$ 13,99.
As ações do Banco do Brasil, maior banco brasileiro, têm baixa de 6,01% e são negociados a R$ 24,20. Na abertura dos negócios, as ações do banco estatal chegaram a cai 12,36%.
Discurso conciliatório
Operadores reduziram o pessimismo no início da tarde com a expectativa de que a presidente Dilma Rousseff apareça com um discurso conciliatório na economia e anuncie nomes considerados market-friendly (favoráveis ao mercado, na tradução livre) para a equipe econômica. Entre os cotados, a colunista da Folha Mônica Bergamo diz que está Luiz Trabuco, residente do Bradesco, nome que ajudaria a conter o mau humor do mercado.
A percepção é uma leitura do discurso de Dilma, que ressaltou que pretende ser uma "presidente melhor" do que foi.
"Os próximos passos, com o novo ministro da Fazenda e a definição da política econômica, vão ditar os rumos do mercado daqui para frente", avalia André Moraes, analista da corretora Rico.
Até lá, considera ele, o mercado seguirá indefinido com forte volatilidade. "Mas não acredito em quedas superiores a verificada hoje pela manhã, porque o mercado já tinha precificado a vitória da Dilma.
Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio, da Treviso Corretora, concorda que a presidente tem que ser rápida em alguma atitudes, como na escolha do ministro da Fazenda. "É importante ela mostrar que está atenta aos anseios do mercado e do Brasil inteiro", afirma Galhardo ao considerar que ela tem um prazo menor para sensibilizar o mercado para as mudanças que boa parte do povo brasileiro mostrou querer.
De acordo com ele, no entanto, apesar da resposta negativa no início do pregão -o que já era esperado-, o mercado deve ser adaptar nos próximos dias, virando essa página. "O Brasil é muito maior que uma eleição."
Analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi avalia que houve um comportamento normal do mercado. Para ele, o mercado vai sofrer ajuste nos próximos dias, mas passado este primeiro momento a tendência é que volte a operar com normalidade. "É um dia traumático para o mercado financeiro."
"A presidente terá que agir com um trabalho muito bom para aumentar a confiança, reduzir juros e inflação", enfatiza Galdi.
A tendência, diz Galdi, é que mesmo o investidor estrangeiro - que ficou longe do Brasil no início do mês e que está voltando aos pouco- verá oportunidades no país, já que os preços ficam convidativos.
Segundo Tony Volpon, responsável por mercados emergentes da japonesa Nomura, é provável que a presidente Dilma apareça nos próximos dias com "palavras conciliatórias" para acalmar os mercados. "Nós achamos que haverá nova decepção", disse em relatório.
A coluna Painel da Folha relata que o governo pretende emitir sinais rápidos para tranquilizar a Bolsa e o setor produtivo. "O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), porta-voz da área econômica, diz que a presidente Dilma Rousseff vai reforçar o compromisso com a responsabilidade fiscal e o combate à inflação antes da nova posse. No governo, há consenso de que é preciso reabrir o diálogo e deixar para trás as manobras fiscais do primeiro mandato", afirma o texto.
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