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Carlos Ghosn, líder da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi | LUDOVIC MARIN/AFP
Carlos Ghosn, líder da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi| Foto: LUDOVIC MARIN/AFP

O conselho de administração da Nissan aprovou nesta quinta-feira (22) a demissão de Carlos Ghosn da presidência do colegiado da montadora, depois do escândalo gerado pela prisão do executivo acusado de fraude financeira. Ghosn segue preso, em Tóquio.

O conselho também aprovou a remoção de Greg Kelly de sua posição como diretor representativo.

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A portas fechadas, seis homens e uma mulher decidiram o destino de Ghosn, que desde sua prisão, na segunda-feira (19), permanece em silêncio em uma cela de um centro de detenção da capital japonesa.

De acordo com uma pessoa próxima à diretoria do grupo, qualquer outro cenário seria improvável, já que, afirmou essa fonte, a proposta de destituição do executivo não seria submetida à votação se existisse qualquer dúvida.

A previsão era que Hiroto Saikawa, diretor executivo da montadora desde abril de 2017, coordenasse os debates, e a decisão seria tomada com os braços erguidos — quatro votos bastavam para destituir Ghosn.

A Nissan afirmou que criará um comitê especial para buscar um novo presidente de seu conselho de administração. Esse comitê será presidido por Masakazu Toyoda e incluirá Keiko Ihara e Jean-Baptiste Duzan.

A montadora disse ainda que vai considerar criar uma comissão especial de governança.

Incerteza da aliança Renault-Nissan

A prisão, e o consequente afastamento do executivo, dá início a um período de incerteza para a aliança de 19 anos da montadora japonesa com a Renault, e que foi ampliada em 2016 para incluir a Mitsubishi.

A Nissan, segundo reportagem do jornal Financial Times, quer usar o escândalo para reequilibrar a aliança em seu favor, tirando poder da Renault.

Especialistas franceses falam de “golpe” da Nissan contra Ghosn.

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Na Renault prevalece a prudência. O conselho de administração pediu à Nissan que transmita o “conjunto das informações que possui no âmbito das investigações internas contra Ghosn”. A montadora francesa nomeou Thierry Bolloré, número dois da empresa, para assumir o posto de Ghosn de forma interina.

A Mitsubishi Motors também prevê a demissão do executivo em um conselho na próxima semana. O presidente-executivo da Mitsubishi, Osamu Masuko, chegou a dizer na terça (20) que a aliança entre as empresas será difícil de administrar sem Ghosn.

Procuradores japoneses disseram que Ghosn e o diretor-representante Greg Kelly, que também foi preso, conspiraram para subdeclarar a remuneração de Ghosn durante cinco anos a partir de 2010, dizendo que o valor era aproximadamente a metade dos verdadeiros 10 bilhões de ienes (R$ 334,4 milhões).

O cortador de gastos

Nascido no Brasil, descendente de libaneses e cidadão francês, Ghosn, 64, iniciou sua carreira na Michelin na França, onde trabalhou por 16 anos, e se transferiu para a Renault.

Ele chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado presidente-executivo dois anos depois.

Com cerca de US$ 20 bilhões em dívidas, a Nissan precisou de um tratamento de choque na época. Houve demissões, encerramento de parcerias e fechamento de linhas de produção pouco produtivas.

Apelidado de “cost killer” (“cortador de gastos”), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase 100 bilhões de euros. Isso lhe valeu grande admiração no Japão.

Após o plano de recuperação, a companhia registrou lucros recordes.

Aliança

Em 2005, o executivo passou a presidir também a Renault, sendo a primeira pessoa a liderar duas montadoras simultaneamente.

Em 2008, Ghosn passou a acumular também a liderança do conselho de administração da Nissan.

Em abril de 2017, passou o bastão para seu herdeiro, Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.

No mesmo ano, a empresa havia investido na Mitsubishi, após a companhia ser afetada por escândalo sobre falsificação de dados sobre emissão de poluentes.

A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é, hoje, uma construção de equilíbrios complexos, constituída de distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias.

A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo do diamante, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.

As acusações contra Carlos Ghosn, que construiu essa aliança sozinho, acumulando funções como nenhum outro executivo desse nível até então, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial.

No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos, superando os concorrentes Toyota, ou Volkswagen.

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