Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Política econômica

Ajuste fiscal deve ficar para depois das eleições

Superávit primário deste ano não deve ser atingido. Para especialistas, questão só será encarada de frente a partir de 2015

“Eu sempre garanti que o governo central faria a sua parte. Se os governos estaduais fizerem, nós alcançaremos. Se não, vai ser a diferença.”-Guido Mantega, ministro da Fazenda;“Tenho muita simpatia pelo sistema de bandas, ele responde bem à conjuntura diversa. A economia é muito mais dinâmica que a burocracia.”-Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil.;“Não é verdade que o governo perdeu o controle dos gastos. O conjunto de versões sobre a política fiscal não é compatível com a realidade.”-Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional | Ueslei Marcelino/Reuters; Wenderson Araújo/ Gazeta do Povo; Marcelo Casal Jr./ABr
“Eu sempre garanti que o governo central faria a sua parte. Se os governos estaduais fizerem, nós alcançaremos. Se não, vai ser a diferença.”-Guido Mantega, ministro da Fazenda;“Tenho muita simpatia pelo sistema de bandas, ele responde bem à conjuntura diversa. A economia é muito mais dinâmica que a burocracia.”-Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil.;“Não é verdade que o governo perdeu o controle dos gastos. O conjunto de versões sobre a política fiscal não é compatível com a realidade.”-Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters; Wenderson Araújo/ Gazeta do Povo; Marcelo Casal Jr./ABr)

A deterioração do quadro fiscal que alvoroçou o mercado na semana passada não parece ser uma grande preocupação para o governo. Embora reconheça a dificuldade para cumprir o superávit primário (economia feita para pagar os juros da dívida pública) neste ano, o governo insiste em dizer que tem total controle dos gastos. Diante dessa postura, especialistas dizem que um ajuste fiscal sério deve ficar para 2015, depois das eleições presidenciais.

Para o economista Man­­sueto Almeida, especialista em finanças públicas, um ajuste brusco nas contas do governo, capaz de colocar a política fiscal novamente nos trilhos, dependeria de medidas como o aumento da carga tributária e cortes nos investimentos, coisas absolutamente impopulares e inimagináveis em um ano eleitoral.

"Ajuste forte no curto prazo, pode esquecer", afirma o economista. Ele atribui a dificuldade de cortar gastos à estrutura que se estabeleceu no país após a Constituição de 1988, que só permite ao Executivo manobrar 10% das despesas. O resto é gasto obrigatório.

Na análise do economista Demian Castro, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o cenário fiscal deve permanecer estável no próximo ano. Apesar das eleições, ele não acredita em um descontrole dos gastos públicos, mas também não é otimista em relação a um possível ajuste fiscal ainda em 2014: "Não vejo como preocupante a redução do superávit primário, mas é importante questionar a qualidade do gasto público. As pessoas não pagam impostos para ver o governo poupar, mas esperam que ele gaste bem". Além disso, avalia, boa parte dos agravantes do quadro fiscal – como as desonerações tributárias e os subsídios – se deve à tentativa do governo de amenizar os efeitos da crise.

"Por outro lado, podemos estar superestimando o problema", disse. É praticamente consenso entre economistas que o país não precisa alcançar um saldo positivo próximo a 3% do PIB nas contas do setor público, como fazia até antes da crise, para evitar o crescimento da dívida. "Se eles disserem que a meta [fiscal] é 1,5% do PIB e forem mais transparentes, isso já é positivo", disse Almeida.

Conta não fecha

O quadro fiscal, que já não era dos melhores, acendeu o sinal vermelho em setembro, quando as contas públicas (governo federal, estados e municípios) ficaram negativas em R$ 9 bilhões, o pior desempenho para o mês desde o início do Plano Real. Sem disposição política para conter a alta de gastos, a administração petista torce por uma recuperação espetacular da arrecadação para fechar as contas do ano, o que parece pouco provável. Se considerados todos os governos (União, Estados e municípios), a poupança prometida para o ano é de R$ 111 bilhões, dos quais apenas R$ 45 bilhões foram contabilizados até o mês passado. Dos R$ 73 bilhões que precisa poupar, a União economizou R$ 27,9 bilhões até setembro.

Falta de sintonia em Brasília deixa mercado inseguro

Apesar de sinalizar que a meta do superávit primário (2,3% do PIB) poderá não se concretizar, o governo não vê uma deterioração do quadro fiscal. No início da semana, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que a política fiscal brasileira é alvo de um ataque especulativo por parte da imprensa. "Não é verdade que o governo perdeu o controle dos gastos. O conjunto de versões sobre a política fiscal não é compatível com a realidade. Vamos terminar o ano cumprindo a meta e esse tipo de política especulativa não é verdadeira", disse ele, em entrevista à Agência Estado.

Até a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann falou da política fiscal. Ao longo da semana Gleisi chegou a defender um regime de bandas para o superávit, semelhante ao de metas da inflação. "Tenho muita simpatia pelo sistema de bandas, ele responde bem à conjuntura diversa. A economia é muito mais dinâmica que a burocracia", disse Gleisi à Folha de S.Paulo. Depois, voltou atrás afirmando que é a favor da atual política fiscal.

"O que me parece complicado é que, em se tratando de política econômica, você precisa falar pouco e quando fala precisa haver sintonia, coisa que não está acontecendo no governo", diz o economista e professor Demian Castro, da UFPR. Essa postura, com três membros do governo se posicionando sobre o mesmo tema e sem muita convergência de posições, contribui apenas para aumentar a insegurança do mercado, avalia. Além disso, a preocupação do mercado com a política fiscal foi potencializada por um quadro de incertezas mundiais que surgiu com o anúncio de um possível aumento dos juros nos Estados Unidos em 2014, o que poderia resultar na migração dos investimentos para lá, explica Castro. Da forma como vem sendo conduzida, a política fiscal causa incertezas no mercado e nos investidores, que querem garantias de poupança pública e austeridade fiscal.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.